Crítica – Avatar: The Way of Water

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Avatar: The Way of Water consegue distinguir-se claramente de outros blockbusters, aproveitando os 13 anos de preparação para entregar uma experiência de CINEMA memorável.

James Cameron é indiscutivelmente um dos cineastas mais marcantes da história do cinema. Considerado o mestre das sequelas – Aliens e Terminator 2: Judgment Day mantêm-se como duas das melhores sequelas de sempre – e um dos principais artistas por detrás da evolução tecnológica dentro da arte respetiva, seria absurdo não ter Avatar: The Way of Water como uma das obras mais antecipadas do ano. Como fã do original, as expetativas para a continuação da saga – que vai ter, pelo menos, mais três filmes para além deste – eram altíssimas e, na sua vasta maioria, foram cumpridas… para o bem e para o mal.

Sobre Avatar (2009): desconheço as razões por detrás da tendência “popular to hate” que surgiu há uns anos. A verdade é que não revia o original há bastante tempo, logo tinha curiosidade em saber o quanto a minha opinião mudou ou não. Ao rever no dia anterior à sequela, não podia ter ficado mais surpreendido pela positiva. Os visuais mantêm-se incríveis mesmo 13 anos depois, a banda sonora nunca deixou de ser memoravelmente épica e, contrariando um dos argumentos mais usados para contestar o impacto cultural da obra, relembrava-me da história e das personagens na perfeição.

Criticar a falta de impacto cultural do filme que quebrou o recorde de bilheteira duas vezes é um desafio complicado. Ainda mais será quando The Way of Water se tornar apenas no 6° projeto cinematográfico a ultrapassar a marca dos 2 mil milhões de dólares… mais de uma década depois do lançamento do original. Tendo em conta os números das pré-vendas e a receção extremamente positiva por parte da crítica, não existe qualquer dúvida do sucesso monstruoso que a sequela terá, colocando a agora franquia no caminho ideal para expandir Pandora e levar os espetadores por inúmeras aventuras cinemáticas e até televisivas, como Cameron admitiu recentemente.

Dito tudo isto, The Way of Water cumpre precisamente com as previsões pessoais. Tecnicamente, é praticamente impossível apontar qualquer defeito. O mesmo não se pode escrever sobre o argumento redigido por Cameron, Rick Jaffa e Amanda Silver. Se considero o típico caso de “qualidade sobre substância”? Não. Existem temáticas facilmente distinguíveis, intenções claras e mensagens importantes para se transmitirem. No entanto, os níveis de criatividade, inovação e dedicação são tão altos do lado técnico que a história acaba por sofrer em comparação com os mesmos.

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Não importa muito começar pelos visuais, som, banda sonora ou qualquer outro elemento deste tipo, pois todos se destacam de forma verdadeiramente arrebatadora. Curiosamente, os efeitos visuais em The Way of Water têm sido o componente mais apreciado – e as razões são mais do que válidas – mas pessoalmente, a produção sonora merece o mesmo número de elogios, especialmente no ambiente aquático, isto é, na água ou debaixo da mesma. O filme pode ser 95% CGI, mas o som é de tal forma imersivo que facilmente nos esquecemos de que estamos, de facto, a ver uma obra no cinema.

Seja a água a bater nas rochas, as ondas gigantes a formarem-se, os animais a comunicarem, o chapinhar à superfície ou as personagens a movimentarem-se debaixo de água, o detalhe sonoro é imenso – certos momentos parecem saídos da docusérie Blue Planet. A banda sonora de Simon Franglen complementa a música do original, mantendo as melodias e notas clássicas que tanto me impactaram em 2009. Possui todas as caraterísticas arrepiantes que um blockbuster desta dimensão requer, elevando planos deslumbrantes e sequências de ação carregadas de adrenalina.

Obviamente, os visuais de The Way of Water são absolutamente fascinantes. O filme pode perfeitamente ser usado como prova inegável e incontestável de que o CGI pode ser um complemento importante no cinema e até o motor visual de toda uma obra. Chega a ser inacreditável o que Cameron conseguiu criar debaixo de água, sendo neste ambiente subaquático que a nova tecnologia e métodos de filmagem inovadores entram em ação. No entanto, o Cálice Sagrado encontra-se na chamada “performance capture”.

À data deste artigo, não existe nenhum filme na história do cinema que consiga sequer chegar aos calcanhares de The Way of Water no que toca a capturar as expressões faciais em prestações motion-capture – o que é dizer muito quando se tem Planet of the Apes, The Lord of the Rings e agora o género de super-heróis constantemente a utilizar esta técnica. Ao contrário do que acontece em outras obras, o simples facto de poder analisar as performances dos atores como se fossem representações live-action normais é impressionante por si só. As emoções são palpáveis através de um simples olhar ou postura, mas de forma incomparável com o que se viu até aos dias de hoje. O Óscar de Melhores Efeitos Visuais está entregue e bem entregue. 

Porém, The Way of Water não impressiona tanto como o original. Em 2009, tudo pertencia à categoria “nunca antes visto”: o uso especial do 3D, a qualidade de CGI e de performance capture, a criação de Pandora… todos os aspetos da primeira obra foram chocantes. Nada me deixou nesse estado durante a sequela e receio que o público geral possa vir a sentir o mesmo. Se é visualmente maravilhoso? Sem dúvida. Mas não ao ponto de ser uma experiência única e irrepetível. É “simplesmente” um filme com CGI preparado, ajustado e testado ao longo de uma década inteira, logo obviamente que vai parecer fenomenal.

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As próprias sequências subaquáticas apenas deixarão espetadores mais conhecedores do meio de queixo caído, pois sem uma pesquisa de antemão ou conhecimento sobre o que Cameron trouxe de novo para a indústria, esse ambiente apenas parecerá “bom CGI”. Daí discordar seriamente da frase-modelo que muitos jornalistas têm usado para sacar possíveis pull-quotes: “The Way of Water ultrapassa o original em todos os aspetos”. Qualquer blockbuster de hoje em dia possui melhores visuais que filmes de décadas passadas, logo é injusto e até enganador comparar diretamente aspetos técnicos individualmente e fora do contexto da época de lançamento, pois isso significaria que praticamente todos os filmes recentes seriam melhores que os originais.

Resumindo, The Way of Water é uma visualização obrigatória no maior cinema possível. É uma experiência que deve ser vivida numa grande sala com um ecrã gigante, onde o valor de entretenimento sobe tremendamente. E não se deixem enganar pelos parágrafos acima: é uma das obras mais visualmente imersivas do século. Para tal sensação, as prestações do elenco contam e muito. Difícil destacar um só ator, mas Zoe Saldaña (Neytiri), Kate Winslet (Ronal), Sam Worthington (Jake Sully) e Sigourney Weaver (Kiri) incorporam as suas personagens de maneira soberba, sendo que a primeira rebenta com a escala de expressividade e emoção.

E é precisamente na caraterização e desenvolvimento de cada personagem que o filme brilha, fora todos os tecnicismos. Com a introdução dos filhos de Jake e Neytiri, The Way of Water podia facilmente perder-se com a quantidade de arcos distintos e individuais. No entanto, os conceitos de família e proteção parental são bem explorados através da incerteza e receio de Jake e Neytiri, mas também do respeito de Neteyam (Jamie Flatters) para com o seu pai, da procura de validação de Lo’ak (Britain Dalton), da inocência de Tuk (Trinity Jo-Li Bliss) e da conexão espiritual com a água de Kiri.

The Way of Water aprofunda algumas personagens mais do que outras, mas todos recebem a devida atenção durante as pouco mais de três horas de duração – Neytiri é a única que acaba por, infelizmente, possuir menos tempo de ecrã comparativamente com outros, mas o último ato compensa a sua ausência algo estranha durante a segunda hora. O tratamento diferente que Jake tem para com o filho mais velho, Neteyam, e Lo’ak é bastante relacionável, sendo o enredo comum mais cativante de todo o filme. Senti-me emocionalmente investido nas histórias de cada membro da família durante todo o tempo de execução.

O mesmo não posso afirmar sobre o arco de Kiri. Sinceramente, apesar da personagem possuir uma personalidade distintiva e, de várias maneiras, ser a alma espiritual do filme, The Way of Water utiliza-a demasiado como um objeto cujo propósito é demonstrar à audiência o orçamento de 400 milhões de dólares. Não seria esta a intenção de Cameron, com certeza, mas tendo em conta os esquecimentos ao longo da obra – fragilidades de personagens são apresentadas e rapidamente ignoradas – parece que o cineasta se perde, ocasionalmente, devido à preocupação extrema com as áreas técnicas.

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Eis que chego ao grande problema de The Way of Water: o enredo principal. Apesar de algumas questões lógicas levantadas por certas decisões de personagem, o verdadeiro obstáculo passa pela previsibilidade e repetição de pontos narrativos genéricos. Cameron, Jaffa e Silver reciclam imenso, levando emprestado a estrutura, o antagonista e até muitos dos temas do original. Stephen Lang regressa como Colonel Miles Quaritch e até possui um ângulo intrigante, mas um que acaba por cair nos desenvolvimentos do costume, sem quaisquer surpresas.

Honestamente, sinto que esta sequela serve mais como um lembrete do que uma verdadeira continuação da história apresentada há 13 anos atrás. Uma tentativa de “testar as águas” ao colocar a audiência por uma experiência semelhante para convencer estúdios e afins que realmente vale a pena investir numa saga tão dispendiosa. Entende-se essa perspetiva, mas é difícil esconder a desilusão parcial de sair de The Way of Water sem ter sido surpreendido em nenhum momento ao longo de toda a narrativa.

No entanto, The Way of Water não deixa de ser eficiente em tudo o que faz. A história gira muito em torno de Jake querer proteger a sua família a todo o custo, seguindo um caminho repleto com aprendizagens duras e obstáculos complexos. Fugir dos nossos problemas nunca é a decisão mais acertada e o argumento aborda este tópico de várias maneiras satisfatórias. Nota final para a ação: apesar de preferir o terceiro ato do original neste aspeto, a energia, trabalho de stunts e efeitos gerais das várias sequências oferecem entretenimento para dar e vender. Nada a apontar aqui.

Avatar: The Way of Water claramente distingue-se de outros blockbusters, aproveitando os 13 anos de preparação para entregar uma experiência de CINEMA memorável. Uma aventura visual e tecnicamente deslumbrante, principalmente nas sequências subaquáticas verdadeiramente impressionantes. A banda sonora mantém-se épica, sendo que as dinâmicas genuínas entre as personagens da família Sully levam o espetador a investir forte e emocionalmente nas mesmas – as prestações do elenco, nomeadamente Zoe Saldaña, são vitais para o sucesso do filme. Pena que a narrativa reciclada e genérica não acompanhe os níveis de criatividade, dedicação e inovação alocados às várias áreas técnicas. Desapontante ao ponto de aumentar o peso das três horas, mas para fãs do original – que permanece supremo – encontra-se longe de arruinar uma das experiências cinemáticas obrigatórias do ano.

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