Chuva de reclamações tapa o Sol da Caparica. Afinal, o que se passou?

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Mas as palavras de desagrado do público parecem não ter surtido qualquer efeito junto dos promotores.

Quando vamos a um festival, e tendo em conta o dinheiro que gastamos num bilhete diário ou passe geral, pretendemos não só assistir a bons concertos, como ter boas condições no festival. Afinal de contas, estamos a investir o nosso dinheiro e a usar o nosso tempo livre em prol da cultura. E os artistas bem merecem, após dois anos complicados derivados da pandemia.

Mas infelizmente, nem todas as promotoras sabem organizar festivais ao pormenor, ou se o sabem fazer, há diversas falhas que, a este nível, não deviam acontecer. Falamos, neste caso, do festival O Sol da Caparica, que tem sido assolado de críticas nas redes sociais.

Longas filas para entrar no recinto, palcos sem condições e atuações canceladas

Os problemas surgiram logo no primeiro dia d’O Sol da Caparica, que começou na passada quinta-feira, dia 11 de agosto, um dia que prometia as atuações de nomes como Clã, Fernando Daniel, Calema, Wet Bed Gang, Syro, Julinho KSD, Miguel Ângelo e The Legendary Tigerman, entre outros. A abertura de portas estavam programada para as 16h, mas, uma hora depois, e os portões ainda estavam encerrados.

“Vergonha de organização. 17 horas e as portas continuam fechadas”, diz um utilizador no Facebook, com outro a corroborar a situação: “Já lá vai 1h de atraso para a abertura dos portões.” E também as crianças acabaram por sofrer: “Há crianças com menos de 10 anos na frente das filas, ao sol, sem água há mais de 2 horas”, disse outra utilizadora nas redes sociais.

Efetivamente, o recinto começou a deixar entrar pessoas às 17h15, mas muitos festivaleiros ficaram a torrar ao sol mais de três horas. É que, de acordo com alguém que comentou nas redes sociais do festival, apenas quatro elementos de segurança estariam a verificar as entradas. E aqui surgiu logo outro problema: com tanto atraso a entrar no recinto, milhares de pessoas perderam concertos que queriam ver.

Outra queixa está relacionada com o que se pode levar para o festival. Uma falha de comunicação fez com que a equipa de segurança não deixasse entrar comida no recinto, mesmo que fossem sandes embrulhadas em papel alumínio. “Está um contentor cheio de sandes embrulhadas em alumínio”, alega uma das pessoas que foi ao festival, o que fez com que quilos e quilos de comida fossem desperdiçados. “Ironicamente têm uma banca da Refood no festival”, diz outro queixoso.

“Obrigar a deixar comida no lixo, sem que isto esteja nas regras, não é aceitável. A oferta de comida não vai de encontro a todas as dietas e restrições alimentares e, por isso, descrimina parte da população. A pegada ambiental deste desperdício todo vai contra a filosofia deste festival, é lamentável. Um festival que se tem vindo a destacar pelos artistas e valores está agora a cair para ser só mais um acto de publicidade”, diz ainda outra jovem nas redes sociais, revoltada com a situação.

Mas pelos vistos (ou não), é mesmo possível levar sandes para o recinto – não podem é ir dentro de caixas ou outros recipientes.

Houve também críticas por parte de utilizadoras que referiram que nem batons e lápis dos olhos puderam levar para dentro do recinto. Na verdade, na lista de objetos proibidos, não há qualquer referência a batons e coisas do género, a não ser que a organização considere que façam parte dos “objetos que podem ser arremessados”.

Mas com tanto atraso nas filas, tal fez com que, indiretamente, também os concertos fossem adiados. Ou seja, os horários anunciados não foram respeitados. E de acordo com os festivaleiros, estes atrasos de última hora nunca foram comunicados durante o festival. Além disso, horários de atuações de vários artistas foram trocados, sem que qualquer comunicação oficial tenha sido feita. Por outras palavras, uma total desorganização.

Até os artistas criticam a organização

E com tantos atrasos e alterações de última hora, algo inevitável acabou por acontecer: artistas como Miguel Ângelo e The Legendary Tigerman acabaram por nem conseguir atuar.

O caso de Miguel Ângelo é caricato, para não dizer pior. O artista, cuja carreira vai a caminho dos 40 anos, devia ter começado a sua atuação às 21h20, mas somente entrou em palco às 00h17… Um atraso de três horas.

Minutos depois, enquanto cantava “Sou como um Rio”, houve um apagão. A instabilidade da corrente elétrica fez com que o concerto tivesse de ser cancelado. “Percebia-se, desde manhãzinha cedo, no ensaio de som, que as questões técnicas e práticas do palco Free Now n’O Sol da Caparica estavam muito aquém do que é necessário para um festival com esta dimensão…”, disse depois o artista na sua página de Instagram, tentando justificar o porquê da situação, sem que tivesse qualquer culpa. E a instabilidade da corrente elétrica fez com que também o concerto de The Legendary Tigerman, projeto de Paulo Furtado, fosse cancelado.

Mais recentemente, também os Karetus se viram obrigados a não completar o concerto no festival. “Infelizmente não conseguimos acabar o nosso concerto no Festival Sol da Caparica. Ao longo dos últimos dias, solicitámos várias vezes a alteração do local do espetáculo, por sentirmos que o palco onde atuámos não reunia as condições técnicas, de segurança, de logística e de dimensão de forma a que pudéssemos entregar o espetáculo que todos esperavam. Essa alteração foi reiterada e consecutivamente negada pela organização. Ainda assim, por respeito ao público e por acreditarmos nas garantias asseguradas pelo promotor, tentámos fazer o concerto nas condições que nos apresentaram. Pelo bem estar de todos, a meio da atuação, tivemos de abandonar o palco, dado que não estavam reunidas quaisquer condições de segurança para continuar. Foi a primeira vez na nossa carreira que interrompemos um espetáculo”, disse a dupla na sua conta de Instagram.

Nos comentários dessa mesma publicação, uma utilizadora diz que um indivíduo apropriou-se de um extintor e disparou-o dentro da tenda eletrónica.

Já no último dia do festival, os mais críticos acabaram mesmo por ser os Os Quatro e Meia, durante a sua atuação.

“Esta noite nós estamos aqui em cima do palco por vocês porque pagaram bilhetes… porque se fosse pela falta de respeito com que vários músicos durante este festival foram tratados e muito da plateia e do público foi tratado, não veríamos aqui nem mais uma vez, com esta organização”, disse Tiago Nogueira, um dos vocalistas.

Nas redes sociais, houve quem questionasse a organização se seria possível obter reembolso, pois tinham (supostamente) adquirido bilhete para ver estes artistas, mas não tiveram resposta.

“As pessoas que comentem o que quiserem”, disse o promotor do festival

Quando tantas críticas surgem – são mesmo várias e várias dezenas, tanto no Facebook como no Instagram, e não estamos a contar com as que foram feitas no Livro de Reclamações – é normal as promotoras fazerem algum esclarecimento público, mostrando que se importam com as queixas do público e que tentarão fazer de tudo para melhorar a situação. Mas esse não parece ser o caso d’O Sol da Caparica.

À NiT, Zahir Assanali, o promotor do festival da Margem Sul, teve esta infeliz tirada: “As pessoas que comentem o que quiserem”. “Tivemos um pico de eletricidade no palco Free Now e o quadro foi abaixo. Dez minutos depois já estava tudo bem, mas o Miguel Ângelo achou que não tinha condições para atuar, e nós respeitamos isso”, disse o promotor ao mesmo site.

Zahir Assanali parece não querer importar-se com as várias queixas que inundam os posts nas redes sociais do festival. Para um promotor que tem vários problemas de organização para resolver, dizer algo como “comentem o que quiserem” não só é escusado, como dá ar de pouco profissionalismo.

Um festival pouco inclusivo?

Há pessoas com mobilidade reduzida que também gostam de ir aos seus concertos. Porém, e para isso, é necessário existirem condições que lhes permitam esse acesso. E de acordo com algumas pessoas nesta situação, o festival O Sol da Caparica não é propriamente inclusivo.

“Não tem plataformas para mobilidade condicionada em nenhum dos palcos! Apenas tem um WC de mobilidade condicionada com uma rampa vergonhosa! Sempre que precisei de ir ao WC, depois de uma hora para que me indicassem correctamente onde era, precisei de ajuda de dois bombeiros ou de seguranças ou da proteção civil para colocarem a cadeira dentro do mesmo! Nunca estive num festival tão mal organizado para pessoas com mobilidade condicionada! Não tem estacionamento próprio, não tem entrada específico para cadeira de rodas, com rampas! Não sei como a câmara municipal de Almada deixou passar todas estas falhas que não são permitidas por lei!”, diz um dos comentários publicados nas redes sociais.

Muitas outras queixas estão relacionadas com os preços praticados dentro do recinto para consumir alguma coisa, com as poucas casas de banho (algumas delas até avariadas), com caixas Multibanco avariadas, com torneiras que deitam pouca pressão de água, com a fraca qualidade de som em alguns palcos, com horários extra de autocarros que não são cumpridos, com filas e mais filas… Enfim, há um pouco de tudo.

Não se sabe ao certo o que terá causado toda esta desorganização, mas uma coisa é certa: esta edição não será lembrada pelas melhores razões.

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12 Comentários

  1. o melhor que podem fazer já que os que organizaram estão se nas tintas, é nenhum músico aceitar o convite para o ano e assim não há cartaz, não há festival ponto final. caso houver , as pessoas que não comprem, é o melhor castigo para essa gente que quer ganhar dinheiro fácil a enganar as pessoas!!

  2. Muito surpreendido fico com as falhas organizativas de um festival às portas de Lisboa e que, ainda por cima, valoriza a música portuguesa. Hei-de ir ao histórico Vilar de Mouros, do qual, apesar da sua “recôndita” localização, não tenho memórias de “barracas” de gestão como essas.

  3. A critica devia ir para o cartaz….uma coisinha mediocre com artistas em final de carreira ou ilustres desconhecidos sem qualidade, os rappers de escada.
    Vejam o cartaz de vilar de mouros e é comparar….

  4. Acrescento apenas que a CMAlmada que gosta tanto de falar sobre sustentabilidade e ambiente, destrói totalmente o Parque Urbano que deixou há muito de ser devidamente cuidado, espalha plástico pela cidade que se transforma numa gigantesca lixeira e num urinol público gigante, dá cabo dos ouvidos e dos nervos dos moradores e veraneantes que têm o mau gosto de vir em Agosto para a Caparica e tudo isto sem acrescentar qualquer valor à economia local – os jovens festivaleiros chegam, estragam, sujam e não consomem nada fora do recinto e nenhuma das roulottes ou barraquinhas de comes e bebes que ali se encontrava era pertença de algum estabelecimento local. Poluição ambiental, poluição sonora, destruição local. Quem ganha? Pois claro que a Camara Municipal de Almada, não?

  5. Dos vários comentários que li todos verdadeiros quero acrescentar um relativamente ás revistas proibição de entrar comida no recinto garrafas de água só podiam entrar sem tampa e os bares entregavam as mesmas com tampa o que é ridiculo droga autorizada no interior país das bananas.

  6. É meio Mundo a enganar a outra metade, o preço da cerveja é de 4.5€ para uma Imperial de 0,40cl, mas vai-se a ver e o copo mostra no fundo que leva 0,35cl… e esta hein?

  7. Faço minhas as palavras dos restantes comentários e reclamações.
    Pelos preços praticados (bilhetes e consumo no interior do recinto), este Festival (realizado num espaço incrível) foi uma autêntica “tristeza”, deviam ter vergonha (onde está o RP para dar uma explicação ou comunicads aos festivaleiros sobre os muitos atrasos verificados, atuações canceladas, troca de horários e atuacoes, WC sem água – “saúde pública”, falhas de som, etc).
    Deviam emitir um comunicado a pedir desculpa e acompanhar vouchers de oferta/desconto para a próxima edição!!

  8. Bom dia
    Não vou ao festival pois sou contra ele desde o primeiro ano . A Costa da Caparica não tem condições para receber tanta gente . O prejuízo que causa aos moradores contribuintes , trabalhadores que merecem descanso , aos que vêm de férias , aos que também gostariam de aproveitar não só a praia mas o que o parque urbano pode oferecer :parque de merendas , espaço para actividade física , ténis, ring para jogar , parques infantis , parque para cães, etc ( encerrado mais de um mês , parte de julho e todo o agosto ), tudo isso é proibido por 5 dias de caos total .
    Sem contar com o resultado do pós festival e como fica a cidade .
    Caparica é uma zona . Não há apenas a Costa . Espaços não faltam no concelho para fazer o festival noutro lado .
    Pergunto apenas : quem ganha com isto ? Gostava de ter uma resposta !!!
    Cmts

  9. Podem acrescentar não haver água nem sabão nas casas de banho e nenhum mas nenhum sítio com desinfectante para as mãos. Na manhã das crianças durante as actuações da Maria de Vasconcelos começaram a fazer check sound no palco principal que se sobrepunha ao som daquele palco. Pararam a actuação a meio obviamente. Uma falta de respeito pelos artistas e pelo público. Filas gigantes para tudo, com crianças… Demasiados bilhetes para as condições e actividades que tinham e as casas de banho não estavam adaptadas para crianças.

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