Bomb Rush Cyberfunk

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Uma explosão nostálgica cheia de estilo.

A magia de “sequelas espirituais” ou de jogos inspirados em clássicos de outras eras é, para mim, equivalente à de remakes e reboots, quando estes são bem executados. Permitem-nos não só revisitar jogos antigos favoritos, como são sempre ótimas janelas para os mais novos espreitarem o passado e oportunidades de o estudarmos.

Ao longo da minha vida, enquanto jogador de mil e uma experiências, dez mil passaram-me ao lado. Fosse por falta de oportunidade, disponibilidade ou simples vontade de as atacar. Jet Set Radio e a sua sequela Jet Set Radio Future são hoje dois desses exemplos, mas, por alguma razão, sinto que fizeram parte de mim ao jogar Bomb Rush Cyberfunk.

Talvez seja pela osmose cultural de consumir as novidades dos jogos de 128bit durante o início dos anos 2000 ou pelo mero efeito de falsa nostalgia, mas Bomb Rush Cyberfunk fez-me mesmo sentir em casa. Levou-me a uma época que nunca experimentei e sinto que isso é o maior dos elogios que posso dar a esta aposta da Team Reptile, cujo jogo é uma sequela espiritual dos coloridos jogos da SEGA, mas também acessível e jogada por toda uma nova geração de jogadores.

Bomb Rush Cyberfunk destaca-se logo pela sua peculiar estética a emular os gráficos mais arcaicos com modelos poligonais, num registo cell-shaded ali no início da geração da Dreamcast e da PlayStation 2, com uma paleta de cores fortes, vivas e de alto contraste que dão ao jogo um aspeto animado e que recriam na perfeição aquela estética de como seria um jogo de anime 3D dessa época, há 20 anos. E por falar em estética, temos aquela excelente direção de “estilo a cima de substância” conhecido como Neo-Y2K, onde tudo é redondo e espacial.

Em cima disso tudo, temos também a incrível música recheada de funk eletrónico, drum and bass, hip-hop, trip-hop, acid jazz, entre outras, que evocam a “música do futuro”, cheio de beats e faixas deliciosas que nos fazem abanar a cabeça de forma inconsciente, numa playlist absolutamente essencial. Infelizmente, a excelente banda sonora não está logo acessível desde início, com o jogador a ter que explorar o mundo para encontrar novas faixas, o que faz com que nesse início a repetição de músicas seja extremamente alta.

Mecanicamente, Bomb Rush Cyberfunk evoca a sua nostalgia também pelo loop de jogabilidade reminiscente dos jogos de pontuação da época como um Tony Hawk’s Pro Skater. O jogador tem acesso a vários estilos de jogo, Skate, Patins ou BMX para navegar pelos níveis, saltando e usando os seus adereços para incríveis truques e para aumentar as oportunidades de locomoção, sempre com muito estilo. É fluido, orgânico, rápido e raramente penalizante, o que faz com que seja fácil de repetir alguns objetivos propostos.

Outra parte mecânica do jogo é a utilização dessa jogabilidade para fazer um pouco de platforming, explorado zonas secretas, revelando segredos, avançando em sequências de história, desbloqueando colecionáveis e acedendo aos pontos de grafiti espalhados pelas diferentes áreas, onde somos convidados a pintar um desenho através de uma muito intuitiva combinação de movimentos dos analógicos. Inicialmente temos acesso a uma lista limitada de combinações, mas quanto mais explorarmos, mais teremos.

É uma camada familiar aos jogadores de Jet Set Radio, cheia de incentivo à exploração, mas acima de tudo divertida, até porque, para aceder a alguns destes pontos, requere-se uma ginástica mental e até destreza para solucionar o melhor caminho.

Mas Bomb Rush Cyberfunk não é apenas um jogo de altas-pontuações, um objetivo reservado apenas para pequenos climaxes, ou de truques e exploração, que podem ser feitos com várias personagens. É também um jogo de história, que equilibra bastante bem a descoberta das novas áreas com sequências narrativas.

Bomb Rush Cyberfunk toma lugar na cidade de Nova Amesterdão, uma cidade distópica, cyberpunk, onde gangues controlam as ruas e o abuso policial está no menu do dia. O jogador controla Faux, que acorda na prisão, e durante uma fuga, com a ajuda do seu amigo Tryce, perde a cabeça, sendo decapitado pelo grande vilão DJ Cyber. O que se segue é uma jornada de vingança e de auto-descoberta, cheia de voltas e reviravoltas, tem ainda um extenso elenco de personagens bem diverso e muito clichés à lá anime. Não é uma narrativa digna de prémios, mas faz o suficiente para nos manter investidos na trama e para tornar o jogo sempre novo à medida que avançamos na história e desbloqueamos novas área.

Ao longo do jogo, para além das ruas da All City (o conjunto dos vários distritos), os jogadores vão viajar para locais fantásticos e mirabolantes, onde o jogo se transforma num puro platforming e, honestamente, é algo que gostaria de ter encontrado mais. Apesar da linearidade destas sequências, toda a apresentação e a fluidez da navegação, juntamente com a narrativa visual, torna-se em algo muito especial.

O grande problema de Bomb Rush Cyberfunk acontece quanto temos combate. Usando os movesets de locomoção e de truques – que se assemelham a movimentos de break-dance -, as nossas personagens podem lutar contra as forças policiais do jogo e aos eventuais bosses. Infelizmente, esse combate não é muito afinado, é caótico e não faz um bom trabalho a dar ao jogador o “controlo” total da personagem. A sensação de hit é inexistente e os finishing moves com o uso do grafiti – que são o mais eficaz – têm uma janela de ação tão reduzida que se tornam frustrantes de usar. E embora possamos evitar a maioria destes momentos de combate, há confrontos que requerem alguma paciência, apesar de serem bastante fáceis de ultrapassar.

Bomb Rush Cyberfunk tem estilo, tem forma e é extremamente divertido – se descontarmos o combate da equação. Mesmo sem conhecer os jogos em que se inspira, transmite todos os sentimentos que eu imagino que sentiria se os tivesse jogado na altura. É pura nostalgia, ou falsa nostalgia, e a sua apresentação e jogabilidade não poderiam estar mais no ponto, para aquilo que o jogo promete ser.

Bomb Rush Cyberfunk está disponível no PC (é 100% compatível com a Steam Deck) e Nintendo Switch e tem lançamento na Xbox e PlayStation a 1 de setembro.

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Cópia para análise (versão PC) cedida pela Team Reptile.

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