Balatro

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O poker e os roguelikes dão as mãos, numa experiência que merece juntar-se ao panteão de jogos como Tetris e Solitário.

Sei que é uma opinião pouco popular, mas há dois tipos de jogos – que salvo raras exceções – passo bastante bem sem eles. Jogos de cartas e jogos com mecânicas roguelike. Por isso, quando ouvi falar em Balatro, na primeira vez torci o nariz, não prevendo eu o que se seguiria.

Quando recebi a chave para o jogar, a mensagem que a acompanhava parecia premonitória, com a pessoa do outro lado a mostrar entusiasmo em arruinar a minha produtividade para o resto da minha semana, o que de facto aconteceu. Durante esse período não consegui deixar de pensar no jogo por muito tempo, ao ponto de o injetar nas minhas atividades mais multitasking. De facto, Balatro é um vício. Mas um bom vício. Do saudável e divertido que, com o tempo, pode começar a denunciar alguns sinais de burnout.

É estranho, de facto, chamar de “vício” a um jogo de cartas, um jogo de poker até, pelas suas conotações menos positivas. Mas não revirem já os olhos, porque não se usa dinheiro real, nem se joga com outros jogadores nesta experiência. É um jogo de tentativa e erro, cuja satisfação retirada nele passa pelas estratégias cerebrais conduzidas pela aleatoriedade das oportunidades apresentadas que nos permitem fazer incríveis combos para atingir as mais altas pontuações. E é, acima de tudo, uma experiência íntima, com Jimbo, uma pequena carta Joker brincalhona, a fazer-nos julgamentos de valor embaraçosos cada vez que falhamos.

Balatro é um jogo de poker em esteroides, com uma base familiar, onde temos que gerir muito bem a nossa mão e ter em consideração o que existe no deck para fazermos aquelas decisões arriscadas que ditam as possibilidades de fazer os melhores combos. Em vez de outro jogador ou de uma inteligência artificial para apresentar uma mão maior, Balatro é simplesmente sobre pontuação, com o objetivo simples de atingirmos X pontos com números limitados de mãos. Da simplicidade nasce a complexidade, com Balatro a atirar para cima da mesa os twists, reviravoltas, multiplicadores e até armadilhas mais bizarras e completamente ilegais num jogo de poker convencional.

Entre cada ronda, acedemos a uma pequena loja onde podemos alterar as regras do jogo. Comprando Jokers que multiplicam os valores das cartas de mil e uma formas, comprando cartas que melhoram os resultados de combos específicos, comprando mais cartas para o nosso deck – mesmo repetidas –, e temos até a oportunidade de alterar as propriedades das nossas melhores cartas, fazendo algumas cartas valendo por outras.

Neste processo existem considerações a tomar, como por exemplo onde gastar os créditos ganhos a cada ronda, que é sempre muito limitado, ou decidindo que tipo de deck é que queremos, já que a quantidade de Jokers na mesa é, por exemplo, limitada – e há cerca de 150 para encontrar.

Tudo é apresentado de forma aleatória, como uma mão de um baralho, o que faz com que cada sessão de jogo, cada vez que viajamos a Balatro nunca seja igual, e há um constante sentimento de descoberta que nos agarra através do que poderá o jogo apresentar a seguir. Ao mesmo tempo, Balatro é uma experiência insegura, onde a fasquia está sempre a aumentar e as cartas-de-vantagem que temos nas nossas mãos podem não ser eficazes de uma ronda para a outra.

Jogar Balatro é extremamente aliciante e satisfatório, especialmente quanto mais longe chegamos e começamos a ter a oportunidade de fazer os combos mais mirabolantes. Se, no início, é comum fazermos algumas dezenas de pontos, numa boa sessão é possível ver o contador a passar-se nas centenas de milhares, com a mesma efusividade de quem termina um jogo de Solitário no Windows e vê as cartas a saltitarem de um lado para o outro.

O ritmo de Balatro também ajuda a manter-nos agarrados ao jogo, com grupos de três rondas, cada uma delas bastante rápidas, particularmente no início, onde não há muito para pensar, sendo que, à medida que avançamos, a coisa começa a ficar mais cerebral. Menos positivo – ou num ato de julgamento à minha capacidade de jogar Balatro ao alto nível – é a velocidade estonteante com que, por vezes, a fasquia se eleva. É fácil avançarmos suavemente nesta jornada com objetivos alcançáveis e, do nada, Balatro atira bolas curvas de como fazer dezenas de milhares de pontos com apenas uma jogada, sem que tenhamos uma mão preparada para fazer uma fração disso. Terminando assim algumas sessões com um belo de um rage quit, ou com uma ligeira sensação de burnout.

Com uma apresentação colorida e um registo pixelizado, Balatro é um jogo surpreendentemente animado, com cartas que se movem, efeitos visuais interessantes e uma apresentação no geral extremamente cativante e intuitiva de navegar. Há ainda que mencionar toda a atmosfera psicadélica, conseguida com os fundos em movimento e uma música muito relaxante – ainda que possa enjoar a certa altura.

Balatro é um fantástico jogo que se aproxima do panteão de jogos perfeitos como um Tetris ou um Solitário. É simples, é desafiante e extremamente fácil de regressar durante aqueles tempos mortos ou mais aborrecidos. E a melhor parte é que o podem jogar virtualmente em todo o lado, seja no vosso PC ou consola, ficando a faltar apenas aquela versão móvel que, honestamente, me parece ser a ideia perfeita.

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Cópia para análise (versão PC) cedida pela Playstack.

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