ASAE pediu ao Ministério Público para encerrar o site Viagogo

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Até se saber de uma decisão, o site permanece online.

Quem segue o Echo Boomer, certamente estará recordado das dezenas de vezes em que avisámos os leitores sobre burlas que andavam a circular, surgindo via email, sms, WhatsApp ou, até, através das redes sociais.

Também já alertámos várias vezes para que tenham atenção sobre compras em segunda mão, principalmente no que diz respeito a bilhetes para espetáculos, pois muitos são os burlões que enganam centenas de pessoas através de grupos dedicados a compra e venda de bilhetes no Facebook.

Há, porém, outra plataforma, considerado o maior site de revenda de bilhetes para espetáculos, que muitas queixas tem gerado junto daqueles que confiam. Falamos, claro, da Viagogo.

Publicidade paga na Google começa por dar origem a estes esquemas

Em artigos anteriores sobre esquemas online, mostrámos como é que lojas falsas, que se fazem passar por lojas online de marcas de roupa, surgem nos primeiros resultados das pesquisas Google quando se procura por determinado termo. Basta pagar, e isso faz com que muitos sites fraudulentos surjam em primeiro lugar nas pesquisas, em detrimento dos sites fidedignos.

A questão é que muitos portugueses não sabem distinguir um site falso de um verdadeiro, clicando, por isso mesmo, nos primeiros resultados que aparecem. Ou seja, nem se dão ao trabalho de verificar algo tão simples como o URL ou o conteúdo da própria página.

Mas avançado. Em Portugal, as plataformas de ticketing mais conhecidas são a TicketlineMEO Blueticket e BOL, sendo nestas três que a maioria das promotoras se concentra para promover os seus espetáculos. Depois há outras promotoras que, talvez devido a taxas, preferem somente vender em plataformas como a Seetickets, o que é perfeitamente legítimo. Afinal de contas, o mundo da música é também um negócio.

Além dessa regra de ouro – e para isso basta consultar os respetivos sites das promotoras desses espetáculos, onde surgem os locais oficiais de venda de bilhetes -, convém também comprar com antecedência, principalmente para espetáculos que certamente irão esgotar em poucas horas. Quando os interessados não o fazem e perdem essa oportunidade, só existe uma solução: o mercado em segunda mão.

Muitas burlas são feitas atualmente através de bilhetes digitais. Não só são facilmente modificados, como um bilhete digital, mesmo que real, pode ser enviado a várias pessoas. E aí, somente uma pessoa consegue realmente entrar no recinto. Os outros? São roubados, no fundo.

Em agosto do ano passado, Álvaro Covões, da promotora Everything is New, insurgiu-se contra a publicidade que a Google dá a sites de revenda de bilhetes, como é o caso da Viagogo, praticando uma atividade “proibida pela Lei Portuguesa”.

Numa publicação feita na sua página de Instagram, o responsável mostrou o exemplo dos resultados obtidos para a pesquisa do termo “bilhetes arcade fire lisboa”. Neste caso em específico, partilhado por Álvaro Covões, o anúncio que surge é… adivinharam, da Viagogo.

Viagogo arcade fire

“Ontem, no concerto de Harry Styles, umas dezenas largas de crianças choraram porque elas ou os pais foram enganados pela informação publicitária da Google. Os bilhetes foram revendidos a valores acima dos mil euros e alguns nem sequer eram válidos”, disse na altura Álvaro Covões no Instagram, referindo-se à plataforma Viagogo.

Este problema foi denunciado pelo promotor em agosto passado, e possivelmente já muito antes, mas, até ver, tudo continua igual: a Viagogo continua a existir em Portugal e muitos portugueses continuam a cair no engodo.

Como é que a Viagogo se defende?

Convém começar por dizer que a Viagogo nunca foi, não é, e provavelmente nunca será, uma plataforma de venda oficial de bilhetes. “Somos o maior mercado secundário do mundo para ingressos para eventos ao vivo. Os preços são definidos por vendedores e podem estar abaixo ou acima do valor nominal” é a mensagem que se pode ler na página principal da Viagogo, demarcando-se, desde logo, de qualquer associação oficial com promotoras de espetáculos.

O problema está precisamente relacionado com as tais pesquisas Google que mencionámos anteriormente.

Vamos a um exercício simples. Pesquisámos pelo termo “Bilhetes Arctic Monkeys” e estes são os resultados que nos aparecem.

pesquisa bilhetes arctic monkeys

Este não é o melhor exemplo, mas serve para o caso. Ora, os bilhetes diários para 7 de julho, dia em que atuam os Arctic Monkeys, estão disponíveis na Ticketline, e está também disponível o passe de dois dias (7 e 8 de julho). Basta uma simples pesquisa para comprovar isso mesmo.

A questão é que a página paga pela Viagogo aparece logo em segundo lugar (e podia aparecer em primeiro, o que seria ainda pior), e diz algo chamativo como “Bilhetes Arctic Monkeys Portugal – viagogo”. Ora, alguém menos informado e desconhecedor da existência da plataforma deverá sentir-se tentado a abrir, até porque a frase que surge logo abaixo do título refere “viagogo, o maior mercado de bilhetes do mundo”, nunca referindo explicitamente que se trata de um “site de revenda de bilhetes para espetáculos”.

Se carregarmos nesse link, estes são os resultados que surgem.

arctic monkeys viagogo

Como podem ver, são três as opções disponíveis, dando a entender que está disponível o passe geral de três dias, uma vez que o festival se realiza de 6 a 8 de julho, o passe de dois dias e, ainda, o bilhete diário. Mas não é bem assim.

Para já, o passe geral já esgotou há algum tempo, logo a primeira opção que surge nesta página da Viagogo não se aplica. O mesmo acontece com o segundo resultado, porque este passe de dois dias também já está esgotado. Mas quem está mesmo desesperado por bilhete, pode querer tentar na mesma.

Só para terem noção, se carregarem na opção de “06 jul – 8”, são levados para uma outra página onde têm que definir quantos bilhetes precisam, sendo que o preço por bilhete é de 474€… O passe geral vendido nas plataformas oficiais custa, ou neste caso custava, 179€.

O porquê deste preço na Viagogo? É simples. Alguém possivelmente tem um passe geral para o NOS Alive em formato digital e resolveu revendê-lo a um preço quase astronómico. Porém, isto gera dois problemas.

Para já, nada garante que o bilhete é real. Pode ter sido alterado, por exemplo. E o comprador final nunca irá saber de nada. O outro problema é que a especulação de preços é uma prática considerada crime em Portugal, pelo que pode ser punida com pena de prisão.

ASAE pede encerramento do site ao Ministério Público

Este nosso artigo surge no seguimento da peça do Exclusivo, da TVI, ao qual podem assistir aqui para ficarem a par dos perigos do mercado em segunda mão, e no qual ficam a conhecer os casos de alguns lesados. Há, por exemplo, quem nunca tenha recebido bilhetes, e há quem tenha pago cerca de 600€ para um espetáculo na Altice Arena para, no fim, ter de assistir do Balcão 2, secção onde os ingressos são mais baratos.

Devido a estas situações, muitos são os consumidores que se queixam de burla, tendo efetuado essa reclamação no Portal da Queixa, um marketplace de reputação que permite pesquisar, reclamar e comparar qualquer marca gratuitamente. Há reclamações sobre bilhetes falsos, inválidos, duplicados e, claro, sobre os preços praticados.

Aliás, a página dedicada à Viagogo é esclarecedora: em 100 pontos, o índice de satisfação é de somente 6.4, sendo que a plataforma nunca responde aos queixosos.

O Exclusivo, da TVI, contactou a Viagogo, para receber uma resposta de um porta-voz que dizia o seguinte: “(…) o nosso principal objetivo é proteger os consumidores contra fraude e temos tolerância zero para vendas especulativas na nossa plataforma.” Esta é uma resposta que não faz qualquer sentido, tendo em conta as inúmeras reclamações no Portal da Queixa, e uma vez que uma rápida pesquisa (como a que fizemos anteriormente) rapidamente conclui que o que não falta, de todo, é especulação de preços na Viagogo.

Na mesma peça televisiva, Pedro Portugal Gaspar, Inspetor-Geral da ASAE, a polícia que fiscaliza a atividade da Viagogo em Portugal, aceitou dar uma entrevista, onde revela que, tendo em conta algumas das denúncias, a ASAE instaurou mais de 30 processos crime à empresa norte-americana.

Mas isto não é só, pois ficámos a saber que a ASAE pediu ao Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa para fechar o site da Viagogo em Portugal.

“Achámos que, pelo volume, se justificaria uma medida de interdição dos domínios .pt e .com relativamente a esta plataforma”, disse Pedro Portugal Gaspar.

Para já, aguarda-se por uma decisão do Ministério Público, mas, enquanto isso, o site da Viagogo continua a estar disponível em Portugal.

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1 Comentário

  1. Acho que é golpe. Tem muitas pessoas postando no Instagram, Facebook, YouTube, vários avisando sobre golpe. Acredito que a empresa faz dar certo para alguns de fachada

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