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Another Code: Recollection é a lembrança de que uma pessoa morre duas vezes: quando a alma abandona o corpo e quando se é esquecido.

Joguei o original (Another Code: Two Memories) há anos e anos, na antiga e roliça Nintendo DS. Para a altura, e para mim, foi uma experiência inovadora poder controlar a protagonista, interagir com o cenário e resolver puzzles com o stylus – para além de ver a minha consola implementada nas mecânicas e no enredo, e não apenas como um easter egg bonito. 2005 foi um bom ano, tinha o mundo nas mãos, em vários sentidos, e o futuro era promissor. Já o futuro da série parecia mais tremido com as críticas ao primeiro jogo a destacarem negativamente a sua linearidade, a curta longevidade e a sua simplicidade. No entanto, foi daqueles lançamentos que conseguia tirar proveito das possibilidades da primeira geração da portátil da Nintendo de dois ecrãs.

Já quando a Nintendo revolucionou com a Nintendo Wii, a Cing seguiu com um Another Code: R – A Journey into Lost Memories, que não joguei, embora o tenha algures no backlog. As críticas continuaram a não ser efusivas; se acarinhavam a história e os temas, o excesso de gimmicks não deixava o jogo voar mais além. Another Code, a par com Hotel Dusk (que também adorei), passaram a ser séries de culto e condenadas pela acessibilidade inexistente em gerações recentes.

Vai daí, fiquei bastante entusiasmado (e surpreso!) com a remasterização desta duologia! Para além da protagonista de cabelo branco, já não me lembrava de grande coisa, pelo que seria uma excelente oportunidade de revisitar e terminar a série. Para além de que estaria a investir para mostrar que há abertura para também resgatarem os dois Hotel Dusk.

Apesar de serem dois jogos distintos, em duas plataformas distintas, não é possível jogá-los em separado nesta versão. Nem mesmo depois de os terminarmos (a menos que tenha falhado algo…). Another Code: Recollection é um jogo completo em dois actos e a única alternativa para desfrutar das duas aventuras passa por manter vários saves. Mas quis, e senti a necessidade, de ir ao início para refrescar a memória e ainda bem que o fiz porque esta versão é um bom exemplo do que uma remasterização deve ser e fazer. Another Code: Recollection (daí o seu subtítulo) não pega apenas nos jogos anteriores para os largar na Switch à martelada com um toque na resolução. Para este projeto, a Arc System Works foi ao fundo para atualizar não só os visuais, mas também mecânicas (adaptando-as às capacidades da Nintendo Switch) e até mexendo em momentos na história para tornar os dois jogos mais consistentes entre si.

O primeiro ato leva-nos à ilha de Blood Edward, onde uma Ashley de 14 anos chega acompanhada da tia em busca do pai, o único que continua vivo após o homicídio da sua mãe. Após uma década sem contacto, a Ashley recebe um presente de aniversário com um postal e um aparelho estranho designado por “DAS”, que na versão original era uma Nintendo DS, mas aqui surge ilustrado como uma Nintendo Switch. Não há lugar mais comum do que uma mensagem demorada a chamar alguém a lugares crípticos, especialmente com aquele nome e no meio do oceano.

Mas a ilha até que é agradável e a rapariga trava logo amizade com o capitão do navio e com o espírito de um rapaz amnésico, com uma marca peculiar no peito, a quem passa a chamar de D. A tia desaparece logo de imediato e agora não só tem de encontrar o pai, como também a tia, enquanto ajuda o D a recuperar as suas memórias que estão ligadas à tragédia da mansão. É uma história breve que decorre num dia (poucas horas para nós) e que nos leva a explorar a mansão abandonada, onde o pai continua a investigar a memória humana. Avançamos entre puzzles e flashbacks para desenrolar o fio desta intriga, que conseguiu em fazer-me sentir um misto de tristeza e de conforto quando o terminei.

Já na sequela, encontramos uma Ashley adolescente. Passaram dois anos desde o reencontro com o pai, mas o homem é o modelo ideal de paternidade e voltou a afogar-se em trabalho. Desta vez, não a convidou para uma ilha sinistra, mas para um campo de férias bem mais agradável com mais pessoas, algumas da sua idade. Esta Ashley está mais crescida, gosta de música, tem uma banda e lida com as suas mágoas e incertezas como uma adolescente normal, mesmo uma que comunica com fantasmas e está envolvida em conspirações científicas.

A sequela que veio responder às críticas do primeiro jogo, deu folga aos puzzles e apostou num ambiente mais teen, mais Life is Strange!, capitalizando na ficção científica. Afinal, quando alguém consegue enfiar uma Switch no bolso das calças, só pode mesmo ser ficção… Uma comparação mais tola seria se também tivéssemos um jogo do Clube das Chaves ou de Uma Aventura. E até que precisamos de jogos assim: descontraídos e reconfortantes.

Se os visuais deste Recollection pendem para o juvenil, com uma estética ilustrada e tons quentes, que são uma delícia no ecrã da Nintendo Switch OLED, os temas de Another Code não deixam de ser maduros, abordando o luto, os traumas, a memória e a família, com a banda sonora melancólica e os diálogos gravados para esta versão a tornarem essas emoções mais palpáveis.

Para além destas demãos, o pacote conta com uma nova jogabilidade, e a minha tendinite agradece, para jogarmos de uma forma mais casual, com a câmara a seguir a protagonista e com pouquíssimos gimmicks. Só que esta perspetiva, aproxima-nos demasiado da personagem, o que acaba por ser contraproducente nos momentos de exploração e interação com o cenário. Isso e o facto de o jogo sentir-se muito lento. Passo a explicar: andamos e corremos devagar; abrir e navegar por menus é lento, o mesmo com o mapa e o inventário, como se alguém se tivesse esquecido de adicionar frames durante a remasterização, mas também não é um suplício e joga-se bem. Muito bem, aliás, porque o jogo colmata com algumas acessibilidades: dicas durante os puzzles (sem estragar a resolução) e orientações para onde ir, que podemos ativar e desativar no momento.

No final do dia, é bastante fácil recomendar este Another Code: Recollection. Sem dúvida, uma surpresa, mas uma que é bem-vinda.

Recomendado - Echo Boomer

Cópia para análise cedida pela Nintendo Portugal.

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