Young Souls – Dois irmãos contra tudo e todos

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Um divertido jogo de ação que é muito mais profundo do que o seu estilo visual leva a crer.

Não é fácil combinar géneros em videojogos. Podemos acreditar que sim, que é, de facto, fácil conciliar géneros e estilos quando tantos videojogos apresentam mecânicas retiradas – ou amigavelmente emprestadas – de títulos distintos; desde as mecânicas RPG em jogos de ação até aos elementos aleatórios e processuais de um roguelike em jogos na primeira pessoa. Mas criar algo novo, assente nesta combinação entre estilos de jogos, não se restringe à utilização de uma mecânica ou de certas funcionalidades, mas sim à adoção de sistemas inteiros onde é ainda possível ver o ADN de ambas as partes. Talvez seja o meu amor a falar mais alto, ainda encantado pelo que a 1P2P Studio nos trouxe, mas sinto que Young Souls, mesmo com os seus percalços, é um caso de sucesso neste choque de identidades e estilos.

Nesta aventura de dois irmãos, Jenn e Tristan, que se aventuram por um mundo mágico repleto de goblins e outras criaturas medonhas em busca do professor – o seu pai adotivo –, a 1P2P Studio decidiu conciliar a estrutura e o combate de um brawler, reminiscente de clássicos como Streets of Rage e Double Dragon, com as mecânicas e progressão de um dungeon crawler, criando assim uma experiência não só divertida, como muito completa em todos os níveis. O foco na narrativa, que se divide entre um ciclo de dia e noite – com os dias a deixarem a dupla explorar a cidade em busca de acontecimentos secundários e novos equipamentos –, não desvirtua a aposta na ação e nos componentes RPG, com Young Souls a injetar muita personalidade à sua aventura através dos diálogos entre os irmãos e os restantes adversários e aliados. Com um HUB à disposição, sob o formato da cidade e da cave dos jovens, a campanha perde o ritmo acelerado que associamos aos brawlers, mas dá aos jogadores uma maior liberdade de personalização e de escolhas na forma como progridem ao longo da aventura.

No que toca à sua vertente brawler, Young Souls apresenta algumas novidades, mas move-se sobre as mesmas mecânicas que popularizaram o género ao longo de décadas. Seja com Jenn ou Tristan, ou com ambos se jogarem cooperativamente, têm à vossa disposição um ataque rápido; um pesado, que requer um carregamento; um botão de defesa, que, se acertarem no tempo certo, podem fazer parry; um desvio, associado a uma barra de stamina, que nunca se torna muito limitadora ou invasiva; habilidades especiais associadas às armas que escolherem e não só. Esta é a base mecânica com que Young Souls se atira aos combates em formato sidescroller e é através da combinação entre estas ações que nascem os confrontos frenéticos e desafiantes. Podemos, por exemplo, projetar os inimigos para o ar e continuar a combinação, como podemos contra-atacar depois de um parry, atordoar os inimigos, agarrá-los e atirá-los contra outros monstros. Com os combates a restringirem-se a um número de adversários em campo, sujeitos a níveis de dificuldade, Young Souls ganha muito ao limitar as mecânicas ao essencial, pois permite que o jogador aprenda a dominá-las e a combiná-las entre equipamentos e a própria evolução das personagens.

No entanto, Young Souls é muito diferente se for jogado a solo ou cooperativamente. Se decidirem partilhar a aventura com outro amigo, Young Souls é o clássico brawler com elementos RPG, onde poderão ajudar-se mutuamente à medida que lutam contra grupos de inimigos. O jogo apresenta um sistema de itens, como poções de cura, que podem usar entre vocês, mas oferece também uma mecânica de ressurreição que vos permite manterem-se em combate mesmo depois de serem derrotados. A solo, Young Souls passa a ser um jogo de gestão de equipa, com os jogadores a poderem alternar entre os irmãos para conseguirem não só recuperar energia, mas também moldar a experiência e a abordagem a cada confronto. A troca é muito rápida, relegada a um só botão (neste caso, ao L1), e até podemos conciliar a mudança de personagem com combinações para ataques mais prolongados. A 1P2P Studio fez uma boa escolha ao adicionar esta opção, pois torna uma experiência assumidamente mais cooperativa em algo tragável a solo.

A aproximação ao género RPG, nomeadamente aos dungeon crawlers, é o que torna Young Souls num jogo tão aliciante. Com a possibilidade de evoluirmos as nossas personagens por níveis, temos à nossa disposição não só habilidades, como um leque impressionante de armas e equipamentos – cosméticos e não só – que influenciam consideravelmente a experiência de jogo. Os atributos das personagens evoluem de nível para nível e, num primeiro contacto, parece que estamos perante mais um jogo desequilibrado no que toca às diferenças entre protagonistas. No entanto, Young Souls vem munido de várias opções que contornam esta problemática. Através do ginásio, localizado na cidade, podemos evoluir individualmente os atributos das personagens e definir, por exemplo, que Tristan será uma personagem mais focada na resistência, quando Jenn ficará concentrada no poder de ataque. Uma pequena decisão que dá profundidade a uma jogabilidade que, a nível de combinações, pouco evolui para além dos ataques rápidos e pesados.

A presença de armas e equipamentos, com vários atributos e níveis de raridade – que alteram visualmente o aspeto das personagens -, é mais um degrau na profundidade de Young Souls, no sentido em que oferecem mais opções de personalização para ambos os irmãos. Com as armas, podemos tornar Tristan num mestre das armas rápidas e Jenn numa guerreira imparável com martelos e espadas gigantes. A pesagem destes equipamentos também é um fator importante e que afeta muito a forma como irão jogar. Uma armadura de ouro poderá dar-vos mais pontos de defesa, mas será apropriado perder tanta mobilidade, com a personagem a mover-se mais lentamente em campo? Se calhar, sim, será vantajoso se, por exemplo, construírem os atributos do outro irmão como uma compensação à sua lentidão. Existem opções, basta terem imaginação e vontade em explorar os sistemas de Young Souls.

A presença de um leque variado de armas e armaduras, capacetes, escudos e outras vestimentas leva-nos ao elemento dungeon crawler que constrói e comanda a campanha de Young Souls. Com quatro zonas principais, a aventura desdobra-se por níveis distintos, separados por níveis de dificuldade e portas fechadas, que apresentam várias arenas de combate repletas de inimigos, mas também de itens e baús com armas e equipamentos. A estrutura tenta afastar-se da linearidade ao permitir que sigam vários caminhos em simultâneo, mas o desfecho é quase sempre o mesmo. No entanto, a presença de exploração, através destes caminhos secundários, leva-nos a descobrir novos recursos e a melhorar progressivamente as nossas personagens, ao ponto de conseguirmos, com o tempo, enfrentar os níveis mais desafiantes em busca de novas recompensas. Não estamos perante propriamente um Diablo em formato Double Dragon, não chegamos a esse extremo, mas a expansividade da campanha, aliada ao número surpreendente de loot em jogo, tornam Young Souls num híbrido simpático entre os dois género, ainda que em formato light.

A nível visual, Young Souls demonstra um à vontade com a planificação e com o arranjo de cenas, numa visão muito cinematográfica e estilizada do que parece ser um desenho animado para adolescentes. As cores alegres, muito pautadas por um acabamento em pastel, tornam os modelos das personagens ainda mais ricos em personalidade, com a animação a tornar tudo mais vivo, desde as expressões dos irmãos até ao manuseamento das armas e dos seus equipamentos enquanto se deslocam. Sentimos o carinho da 1P2P Studio em todas as sequências animadas, com o estúdio a utilizar muito bem o meio dos videojogos para construir planos mais estilizados e representativos da personalidade dos protagonistas. Nem tudo é positivo, claro, e encontrei momentos em que as personagens ficaram presas nos cenários devido ao seu pathfinding, tal como uma enorme e incontornável repetição no design dos níveis e na sua decoração, mas é um efeito secundário da sua aproximação ao género dungeon crawler.

Young Souls é muito divertido e apresenta conteúdo suficiente para justificar uma segunda passagem pela sua campanha, seja a solo ou em modo cooperativo. Existem problemas de equilíbrio entre algumas zonas, nomeadamente nos inimigos e nos bosses, e as escolhas narrativas, representadas por opções de diálogo, não parecem ter efeitos mais presentes para além de novas falas entre sequências, o que é uma pena. A evolução também está restrita à passagem de dia para noite, obrigando o jogador a dormir entre sessões – num sistema que relembra Final Fantasy XV e a sua aposta constante em acampamentos e hotéis -, mas a experiência, como um todo, irá satisfazer os fãs de RPG, mas também de ação clássica. Uma surpresa muito agradável.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Cosmocover.

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