Análise – XIII Remake (PlayStation 4)

- Publicidade -

Um regresso ao passado que desvirtua a memória do jogo original para um lucro rápido da produtora.

XIII Remake

O crítico é um sádico: que fique bem assente. Não quero, no entanto, desvalorizar o seu papel na análise e na apreciação da arte em geral, mas há um certo sadismo nesta área, seja pela forma como deambulamos e nos deleitamos por projetos menos competentes ou pelo tom que assumimos quando decidimos escrever sobre esses projetos. Há uma certa facilidade em criticar, em dizer mal, qual cantiga de escárnio e mal dizer, que nos alimenta a alma. Talvez esta introdução sirva mais de terapia do que propriamente de análise, mas são estes os sentimentos que combato e tento equilibrar quando penso e escrevo sobre XIII Remake.

Para todos os efeitos, XIII Remake é um jogo horrível. Espero que a história não seja cruel e misture esta atrocidade com o título original, lançado em 2003, assassinando assim qualquer respeito e notoriedade que o clássico da Ubisoft recebeu algo longo de 17 anos. Este remake, a mando da Playmagic, cai como uma afronta ao género, à série e até à banda desenhada em que se inspira, por Jean Van Hamme e William Vance, apresentando um dos jogos mais feios e difíceis de jogar que tive o desprazer de experimentar em 2020. Vou mais longe: se tiver de personificar este ano, seria XIII.

Mas estarei a ser injusto? Será que estou a exagerar, já que admiti que há em mim um lado mais sádico? Infelizmente, não. O que joguei é bastante real e incontornável. XIII Remake é um jogo de ação e furtividade na primeira pessoa que utiliza as suas origens como banda desenhada para criar uma campanha cheia de reviravoltas e estórias fantásticas que conta através de painéis desenhados e de um estilo próximo do cel-shaded; dando-lhe assim uma certa aproximação às suas origens.

No entanto, não estou a falar do remake, mas sim do original. O título da Ubisoft , que espero que não seja esquecido ou mal identificado por esta trampa, mantém-se resistente ao teste do tempo e apresenta um equilíbrio saudável entre ação e elementos furtivos, permitindo várias abordagens aos níveis e oferecendo um leque interessante de armas e ferramentas que podemos utilizar na campanha. Simples, direto, eficaz e muito desafiante – ainda que a precisar de uma revisão dos controlos.

XIII Remake

XIII, na sua interação de 2020 – não fosse ela tão irónica –, é um jogo de ação e quase nenhuma furtividade que se apresenta com gráficos próximos de lama, quase sem cores ou o efeito clássico em cel-shaded, cuja inteligência artificial está tão quebrada que não existe um pingo de estratégia no seu corpo moribundo. O design dos níveis continua a ser próximo do original e encontramos a mesma aposta em contar a estória atrás de painéis de banda desenhada – naquele que é um dos pontos fortes do jogo, ainda que menos eficaz –, mas nunca há uma sensação de controlo, de desafio ou de imersão devido à baixa qualidade gráfica, que nos presenteia regularmente com bugs visuais e um desempenho atroz – com quedas acentuadas de frames, dithering e pop-ups –, e à jogabilidade rígida dos seus controlos.

O que acho mais fascinante é que XIII Remake corre perfeitamente bem nas cutscenes: até chega aos 60fps. No entanto, quando começamos a jogar, o jogo atira-se do penhasco mais próximo e recusa-se a funcionar corretamente, algo que criou em mim uma dissonância tão forte que só me pude rir perante tal diferença. Aliás, XIII Remake consegue ser mais cómico do que envolvente, especialmente quando vemos os soldados inimigos a tentarem a todo o custo perceber onde estão e como se deslocam nos cenários, muitas vezes ficando presos e sem a destreza de código para se libertarem.

Os problemas não se ficam pelo desempenho e os gráficos. XIII Remake está tão mal otimizado que os sons tornam-se repetitivos e são cortados regularmente entre sequência de exploração e de combate. É raro encontrarmos momentos em que tudo funciona como deveria. Depois temos os problemas na jogabilidade, na mira difícil de controlar, na rigidez dos movimentos e a sensação constante de falta de cuidado no manuseamento de menus. Parece que foi tudo feito em cima do joelho, sem atenção aos pormenores, e ficamos com a sensação que é um jogo que não está terminado. Os disparos são insatisfatórios, a furtividade é descartável – não fosse fácil simplesmente eliminar tudo e todos em campo – e é difícil ler os níveis devido à falta de cuidado visual, ao ponto de precisarmos de um ponto de objetivo para nos localizarmos.

Mas existe assim tanta falta de cuidado? Bem, deixo-vos com um exemplo. Em XIII Remake, podemos recolher objetos mundanos, como garrafas e cadeiras, e utilizá-los para atordoar os inimigos. A ideia, em si, é boa. No entanto, tenham cuidado ao utilizá-los, isto porque o jogo associa que atacaram alguém sempre que carregam no R2. Se tiverem um cinzeiro nas mãos, por exemplo, o nosso agente parte-o no ar e descarta-o. Sim, no ar, sem efeitos sonoros ou outro auxilio audiovisual que suavize a estranheza do que estamos a assistir. Assim é XIII Remake.

XIII Remake

Enquanto escrevia esta análise, a Microids e a Playmagic lançaram um comunicado onde admitem que enfrentaram problemas de produção que levaram ao lançamento do jogo neste estado lastimável, prometendo, como um rabo a fugir à seringa, que vão continuar a trabalhar em patches e nas melhorias necessárias. Espero que consigam dar aos fãs o remake que merecem, especialmente quando confirmam que todos os conteúdos adicionais serão gratuitos, mas agora pergunto: porque lançaram o jogo neste estado? Talvez tenha sido uma tentativa de recuperar o investimento para continuarem a trabalhar nas melhorias, uma decisão que não pode ter sido fácil.

Só há um problema: o jogo está no mercado e foi comprado por fãs da série que não desconfiavam do seu estado impróprio para consumo. Há aqui uma falha de comunicação e o dano está feito. Louvados sejam os críticos!

Quando analisamos títulos como XIII Remake, o sadismo muitas vezes é dissociável de um certo masoquismo. Isto porque somos nós, críticos, que escolhemos o que queremos analisar e nos deixamos levar pela promessa de descobrir algo novo, talvez interessante ou curioso o suficiente para escrevermos uma análise. Infelizmente, é uma dicotomia sem fim, onde ninguém ganha.

Contudo, que este masoquismo sirva um bem maior, que é dizermos: por favor, não joguem XIII Remake. Evitem esta versão e joguem o original. E é assim.

Nota: Mau

Disponível para: PC, Xbox One, PlayStation 4
Jogado na PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela Microids.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados