Análise – Ultra Age (PlayStation 4)

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O equivalente aos bonecos de Dragon Ball Z que comprávamos nas papelarias, mas mais divertido.

Como uma cápsula do tempo, Ultra Age, produzido pela Intragames, parece ter hibernado durante anos, enterrado algures no deserto, como um tesouro perdido de uma era há muito desaparecida, que agora ressurge numa geração carente por experiências deste género, mas cuja evolução mecânica o tornou obsoleto. É o equivalente a um simulacro, a uma miragem, onde, se serrarmos os olhos, conseguimos ver mais as suas influências do que as suas virtudes, mas não deixa de ser fascinante o quanto nos relembra de tempos longínquos, nostálgicos e mais simples. Um misto de sensações.

Seria fácil comparar Ultra Age às séries populares da Capcom, como Devil May Cry e Onimusha, para perceberem como a campanha se constrói em torno de um sistema de combate acessível, mas com a profundidade necessária para quem quiser retirar mais da sua utilização de várias armas em combate. No entanto, o título da Intragames não é apenas uma cópia das aventuras de Dante, ainda que mais linear e sem dividir a sua campanha por missões (ou níveis), ou de Nier Automata, mas sim de toda uma era. Para ser mais específico, Ultra Age transportou-me diretamente para a sexta geração, para as tardes de verão em torno da PlayStation 2 e de títulos que combinavam a exploração do género de aventura com o foco no combate frenético e vistoso de um brawler. É tanto Devil May Cry, como Rygar: The Legendary Adventure e Nanobreaker.

A fórmula mantém-se viva e leva-nos numa campanha curta, mas dividida entre exploração ocasional e a aposta em combates suficientemente fluídos e desafiantes para transformarem Ultra Age numa distração eficaz para os fãs do género. Apesar de não ser original, é um jogo peculiar na forma como combina algumas das suas mecânicas e constrói esta experiência clássica para uma nova geração de jogadores.

Ultra Age

A linearidade dá origem a um sistema de combate centrado na utilização de cinco armas que devem ser combinadas para eliminarem as várias hordas de inimigos. Cada arma tem as suas vantagens e está pensada para ser eficaz contra determinados tipos de inimigos, como a Katana, que é perfeita para contra-atacar alguns dos monstros do planeta abandonado, e a Claymore, que nos dá uma enorme vantagem contra os robots da Frontier. Ultra Age apresenta ataques especiais para cada arma, tal como habilidades únicas – acessíveis através de R1 – e uma árvore de atributos. E depois adiciona a quebra de armas ao seu sistema de combate. E depois adiciona a possibilidade de encontrarmos armas regularmente, dentro e fora de combate – invalidando por completo a presença desta mecânica. E depois tem mecânicas temporais que nos permite retroceder no tempo e adquirir ainda mais armas. E não ficamos por aqui.

Ultra Age não tem medo de atirar todas as mecânicas possíveis para o seu pote e esperar que tudo funcione. O que mais me surpreende é que, à exceção da mecânica do tempo – que está no cerne da narrativa fraca do jogo, mas que mecanicamente pouco adiciona –, estes elementos funcionam. Não são explorados ou exponenciados como deviam, mas são sólidos o suficiente para tornarem Ultra Age numa experiência bastante clássica e aceitável até para os padrões atuais das produções independentes. Não apresenta um sistema de combate vistoso, repleto de golpes impossíveis e de uma coreografia impressionante, mas é direto e sem grande gordura, focando-se mais na simplicidade das suas mecânicas para dar aos jogadores uma experiência acessível e, ainda assim, divertida.

Apesar das armas partilharem as mesmas combinações entre si, que se focam na utilização de ataques rápidos e fortes, as árvores de atributos desbloqueiam regularmente novas habilidades e oportunidades de combate que refrescam o sistema de combate: tal como os plug-ins que podemos adicionar a Age. Também podemos melhorar as habilidades de Age e de Helvis, o seu companheiro robótico, para desbloquearmos mais poder de ataque e aumentarmos, por exemplo, a quantidade de vida que conseguimos recuperar entre utilizações, tal como o tempo que podemos retroceder e a eficácia da habilidade Critical Rage, que funciona como o Devil Trigger de Ultra Age, ao aumentar o poder de Age em combate. Estas melhorias são desafiadas regularmente pela IA dos inimigos, que é muito agressiva, e pela necessidade constante de alternarmos entre espadas, criando assim combates pouco imaginativos em termos de momentos narrativos e do posicionamento dos inimigos, mas sempre divertidos e fluídos.

Ultra Age

Esta combinação de mecânicas é tão acentuada que Ultra Age até apresenta um gancho que pode ser utilizado dentro e fora de combate. Naquela que é, fora o design de Age e do sistema de combate, a mecânica mais descaradamente copiada da série Devil May Cry, podemos utilizar o gancho para transportarmos Age para um ponto específico, onde poderemos, por exemplo, encontrar segredos, ou puxar inimigos para nós, permitindo que possamos continuar a atacar. E, mais uma vez, funciona perfeitamente dentro do sistema de combate de Ultra Age. Não é perfeito ou inovador, e a mira nem sempre ajuda, mas funciona e acho que esse seria um bom resumo para o titulo da Intragames, que abraça a sua vida enquanto homenagem. Seria facilmente recomendado se não fosse pela repetição de inimigos e de cenários, a linearidade desgastante – seguida de níveis com salas extensas e vazias –, um melhor equilíbrio entre armas – é muito fácil apostar apenas em duas espadas –, os gráficos desinspirados e o péssimo desempenho dos atores e do guião do jogo. O desempenho dos atores é tão mau que podia passar por paródia à sexta geração de consolas, mas penso que tal não se aplica.

Tal como Tormented Souls, Ultra Age é um artefacto perdido, uma janela para outra era e as suas decisões de design revelam essa natureza, mas é difícil desculpar todos os problemas inerentes a esta necessidade de ser pouco mais do que uma homenagem. É divertido, mas igualmente desinspirado. É sólido, mas sempre pouco profundo. É mestre de nada, mas é também uma recordação das tardes de verão em frente à televisão e de comando nas mãos. É nostalgia: é o melhor elogio que lhe posso fazer.

Nota: Satisfatorio

Disponível para: PlayStation 4 e Nintendo Switch
Jogado na PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela DANGEN Entertainment

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