O simulador da maior prova de ciclismo do mundo está de volta ao PC e consolas acompanhado de um pelotão simpático de novidades. A promessa é ganhar terreno ao Pro Cycling Manager.
Entre as inúmeras novidades neste Tour de France 2020, a mais interessante é (de longe) a nova câmara que permite controlar o ciclista na primeira pessoa. Apesar de ser mais difícil ter tanta perceção dos desenvolvimentos no pelotão, confere uma experiência extremamente imersiva, realista e envolvente (a sensação de velocidade é enaltecida). É possível mudar a câmara em qualquer altura da etapa sem limite ou restrições, ficando mais fácil fazer uma gestão personalizada face ao pelotão circundante.
As corridas contra relógio foram redesenhadas e estão agora mais fieis à realidade. Para conseguir o melhor tempo possível, é preciso otimizar a gestão de resistência e postura de corrida na bicicleta, de modo a melhorar a aerodinâmica. Graças ao tutorial base no modo de treino, é relativamente fácil entrar no esquema e perceber bem este novo modo de jogo.
No que toca a etapas, somos presenteados com as 21 etapas oficiais do Tour de France. Para além disso, foi adicionada, pela primeira vez, a corrida clássica Liège-Bastogne-Liège, disponível em vários modos de jogo/competição.
Falando em pistas, é importante falar no ambiente envolvente das mesmas: pouco ou nada mudou. O problema nem é tanto com as paisagens (se bem que a renderização podia ser trabalhada), mas sim com o público nas bermas durante as etapas. A diversidade de aspeto visual continua a ser reduzido e o leque de animações podia ser melhorado. Esta melhoria poderia ser um complemento muito positivo para o jogo.
No entanto, são as frases de apoio desse mesmo público as maiores responsáveis por lesar a experiência em Tour de France 2020. Tornam-se rapidamente irritantes por serem bastante repetitivas e usadas com elevada frequência. Se calhar, um balanceamento melhor entre as tais frases e os gritos/assobios poderia tornar a experiência mais suportável, pois damos por nós saturados de ouvir a mesma coisa em francês – Allez, Allez!
Outra novidade interessante e recebida de muito bom grado foi a adição dos Bonus Points às etapas (à semelhança do que já acontece na realidade), tornando-as mais imprevisíveis e excitantes com o aumento de planeamento estratégico. Esta é, também, uma forma de tornar 165km de corrida por etapa (em média) mais aceitáveis e toleráveis. Isto porque o jogo consome bastante tempo devido às etapas serem enormes, logo o mínimo que se pode pedir é que não se torne enfadonho.
Falando em enfadonho, no Tour de France 2016 foi adicionada a funcionalidade de fazer fastforward durante as etapas em qualquer altura. Atualmente, é possível saltar automaticamente para um dos Bonus Points seguintes. Por um lado é bom, tendo a corrida controlada podemos poupar o nosso tempo. Por outro é mau, porque o facto de não ser possível escolher exatamente até onde queremos avançar condiciona a preparação que queremos fazer antes de atacar um desses Bonus Points. É algo a ter em conta na próxima edição do jogo.
O aspeto visual in game não sofreu quaisquer alterações nos menus, o que é chato, dado que, quando compramos uma nova edição de um jogo que já temos, as alterações de layout e cores é sempre algo refrescante. As maiores alterações foram no display das informações do ciclista durante a corrida. Todo ele sofreu uma reforma e o aspeto atual é bem mais agradável e sólido, melhorando a perceção geral do que temos ao nosso dispor e o que podemos fazer com isso. Em contrapartida, o símbolo que representava o nível de proteção que estamos a ter do pelotão (contra a resistência aerodinâmica) continua a fazer falta.
Ainda dentro das melhorias visuais de Tour de France 2020, houve também um adição bem-vinda, um género de mini-mapa em situações específicas. Nas descidas, temos o suporte do percurso ampliado com pormenor. Isto acaba por ser uma ajuda preciosa para os jogadores que não conhecem bem as pistas. Desta forma, há a garantia de uma maior confiança e segurança na hora de bater os 90km/h, sem surpresas.
A jogabilidade não teve melhorias percetíveis neste Tour de France 2020. As mudanças de direção ou nos toques entre ciclistas continuam a pecar pela falta de realismo. Para além disso, o embate em paredes/barreiras ou na saída de pista ainda está longe do esperado. O efeito é de perda de velocidade do ciclista (até parar a bicicleta por completo) ou podendo resultar em queda em casos mais extremos, mas, ainda assim, fica aquém das expetativas.
Para novos jogadores, com a ajuda dos tutoriais (em Treino) e das Challenges, torna-se relativamente fácil ganhar perceção do controlo total do ciclista e gerir as suas ações e esforço. Estes tutoriais contribuem positivamente para a experiência na componente de trabalho de campo. No entanto, se esses novos jogadores não tiverem quaisquer (ou quase nenhumas) bases relativas à dinâmica do desporto em si, vão surgir dificuldades na hora de aprender a gerir a equipa durante a prova através do “Team Comm”, definir estratégias ou saber quando usar cada ciclista.
Sendo fã de desporto como um todo, apesar do ciclismo nunca ter sido um dos meus desportos de eleição, rapidamente me deixei absorver pelo jogo e adorei a experiência no geral. Tour de France 2020 é mais divertido, complexo e desafiante do que aparenta. No entanto, para principiantes nas tecnicalidades do ciclismo, a falta de um tutorial técnico intuitivo e completo acaba por prejudicar um bocado a experiência. Posto isto, se calhar compraria o jogo para experimentar, mas pensaria duas vezes antes de comprar a edição seguinte.
O veredicto final é positivo, apesar de haver potencial para mais. É evidente que, para os fãs de ciclismo, este é um jogo fundamental. Para os interessados pode vir a ser uma surpresa positiva. Para os curiosos se calhar vai ficar aquém das expetativas. No meu prisma de ver as coisas, a partir do momento em que o objetivo dos videojogos é vender – de forma a serem rentáveis e a garantir um futuro sustentável para a franquia – não podem falhar na primeira impressão, como Tour de France 2020 faz.
Todos os jogos têm de ser dotados de mecanismos de aprendizagem concisos. Isto vai gerar uma base para, quem nunca teve contacto com a realidade do jogo, aprender e reter o essencial com rapidez e facilidade. É a única forma de tornar a experiência envolvente, cativar novos fãs e, por sua vez, a aumentar o sucesso do desporto e o valor da marca Tour de France.
Plataformas: PC, Xbox One e PlayStation 4
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Upload Distribution.