The Serpent Rogue – Um mundo amaldiçoado

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Existem boas ideias em The Serpent Rogue, mas será necessária alguma paciência para as aproveitar ao máximo.

Numa carruagem envelhecida pelo tempo, Warden viaja em busca de uma cura para a maldição que se propaga pelo mundo. Para trás, ficam premonições, que o avisam do perigo que o espera, mas também da importância da sua missão. Warden é uma pessoa de ciência, um investigador, químico, quiçá até médico, mas é, acima de tudo, uma esperança para os habitantes da região. A sua ajuda só fará sentido se encontrar o epicentro da maldição, algures em terras de ninguém, para conseguir criar as poções e remédios necessários para parar o avanço da contaminação, mas entre Warden e a salvação da região encontram-se criaturas transformadas, figuras humanóides consumidas pela maldição, armadilhas, tempestades implacáveis e um mundo em constante mudança. Assim é The Serpent Rogue.

A introdução afinca perfeitamente o tom de The Serpent Rogue, a sua aura melancólica, misteriosa, mas também banhada de uma curiosidade necessária para nos motivar a conhecer melhor este mundo doente. Os primeiros minutos são de premonição, de avisos cautelosos e de sonhos intensos, com Warden a preparar-se para a sua viagem enquanto se mentaliza do perigo que irá enfrentar. Indico o nome de Warden, mas podia dizer antes o meu, visto que a personagem não é dotada de uma personalidade muito presente, com o jogo a focar-se em nós, jogadores, e nas nossas ações. É neste misto de tensão, mistério e curiosidade que chegamos finalmente à região contaminada, à nossa primeira base e a todo um sistema de funcionalidades que nos permitirão enfrentar as terras abandonadas.

The Serpent Rogue é um jogo de sobrevivência e exploração onde, no papel de Warden, temos de explorar as várias zonas da região em busca de uma cura para a maldição que se instalou. Para tal, temos de explorar os biomas em busca de recursos que possamos investigar e transformar em novos itens. Como seria de esperar, é preciso manter o bem-estar de Warden, cuja energia limita o número de atividades que podemos realizar, com a busca por alimentos a ser uma constante. Também é possível cozinhar, utilizar a fornalha para criar armas e outros utensílios, e misturar ingredientes para criar poções mais poderosas. É um ritmo de jogo infalível e muito próximo ao que conhecem deste género de experiência, com o jogador a ser obrigado a gerir o seu inventário à medida que expande as suas zonas de interesse por terrenos progressivamente mais perigosos, mas também recheados de novos itens e recursos para continuarem a aventura.

O título da Sengi Games ganha alguns contornos interessantes quando temos em conta três elementos da sua jogabilidade. O primeiro é a investigação e a forma como descobrimos novas opções de personalização. Quando encontramos um recurso, seja uma planta ou um pedaço de metal, não temos automaticamente acesso a uma lista de opções que possamos utilizar. É necessário continuar a investigar e a inspecionar estes itens, animais ou até pessoas para termos acesso a receitas que possamos transformar em novas poções. Cada recurso tem um elemento associado e é aí que podemos combinar vários tipos de recursos para criarmos os itens que queremos. É um sistema simples, mas tenta dar um maior peso à exploração e ao papel de Warden no mundo do jogo, impulsionando a nossa vontade em recolher o maior número de recursos. Felizmente, podemos realizar a investigação em qualquer parte do mapa, desde que tenhamos a mala de Warden connosco, onde podemos descobrir novos elementos e criar poções.

O mundo de The Serpent Rogue é gerado de forma procedural, o que significa que nunca encontrarão o mesmo bioma duas vezes

O segundo elemento está incontornavelmente ligado ao primeiro, pois influencia o ritmo do jogo e a forma como nos adaptamos aos vários biomas de The Serpent Rogue. À exceção de algumas zonas principais, o mundo de The Serpent Rogue é gerado de forma procedural, o que significa que nunca encontrarão o mesmo bioma duas vezes. Alguns elementos são consistentes, como o tipo de recursos disponíveis e alguns monumentos de destaque, mas o tipo de criaturas, o posicionamento de baús e outros itens são aleatórios. Existe, portanto, um certo mistério sempre que reentramos numa das zonas, sem nunca sabermos muito bem o que iremos encontrar.

Infelizmente, esta aposta na novidade e na surpresa acaba por prejudicar The Serpent Rogue quando tudo se torna demasiado incerto. O design das zonas é quase idêntico em termos de dimensões, mas o resto requer algum reconhecimento sempre de regressamos. Não é um fator muito negativo, mas relembrou-me Sundered, da Thunder Lotus Games, que também apostava em níveis em constante mudança num género fora dos roguelikes.

Por fim, temos uma ligeira quebra no tom melancólico e solitário de The Serpent Rogue. Os jogos de sobrevivência focam-se maioritariamente em campanhas onde um herói solitário, longe de tudo e de todos, tem de enfrentar a maior das adversidades enquanto evita constantemente a morte. Em The Serpent Rogue, esse continua a ser o foco, mas com uma alteração. Warden não está propriamente sozinho ao longo da campanha do jogo e tem a possibilidade de encontrar novos ajudantes e até domesticar animais à medida que explora os terrenos baldios. Através do barqueiro, podemos resgatar almas perdidas e garantir a sua ajuda nas nossas bases, mas também em combate. Já os animais requerem um bocadinho mais de trabalho, no sentido em que têm de estudar os seus comportamentos e depois alimentá-los para garantir que são domesticados. A utilização desta funcionalidade é muito limitada e pouco se expande na jogabilidade de The Serpent Rogue, mas é uma opção que consegue criar uma sensação de cooperação e entre-ajuda numa experiência a solo.

Fora estes elementos, The Serpent Rogue segue os moldes do género de sobrevivência à risca, adotando uma narrativa mais espaçada e nem sempre presente para dar ao jogador uma maior liberdade no que toca à sua vontade em explorar o mundo do jogo. Não é dos piores exemplos que encontrei, mas The Serpent Rogue também não se destaca sempre pelos melhores motivos, ainda que exista alguma diversão na forma como se imersa no mistério da sua realidade. Tão seguro, como arrojado – assim é The Serpent Rogue.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Team17.

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