Análise – Tell Me Why (Xbox One)

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Em busca da felicidade.

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A viagem da produtora francesa DONTNOD tem sido uma delícia de acompanhar. Com a estreia do jogo de ação Remember Me, com o extremamente popular Life Is Strange (e respetivas sequelas), passando ainda pelo regresso à ação de Vampyr, temos agora Tell Me Why, uma nova aposta narrativa com foco na escrita de histórias e personagens fortes, num exclusivo para PC e Xbox.

Composto por três episódios, Tell Me Why é como uma minissérie, acompanhado o reencontro de dois gémeos, separados durante dez anos, depois de um evento traumático que mudou as suas vidas. É um drama na linha de Life is Strange que, em vez de nos colocar no estranho período que é a nossa adolescência e em busca de uma identidade antes de nos tornarmos adultos, inverte a leitura, mostrando o que vem depois e como o passado afeta as nossas vidas, por vezes de modo inconsciente.

Fui para Tell Me Why sabendo pouco ou nada. Não sabia muito bem o que me esperava e, apesar de alguns momentos menos positivos, terminei os três episódios (cedidos antecipadamente pela Xbox Portugal) com um pequeno nó na garganta, satisfeito e bem emocionado, algo que sabe sempre bem quando entramos às cegas numa história.

Allyson e Tyler são os protagonistas desta história, dois gémeos ligados por uma força sobrenatural, que se reencontram uma década após a trágica morte da sua mãe problemática, da qual eles se sentem, de alguma forma, responsáveis. Allyson ficou na sua terra natal ao cuidado do seu tio e das pessoas que rodeavam a pequena família, ao passo que Tyler foi enviado para um centro de recuperação, depois de ter confessado que foi ele que matou a sua mãe.

A reunião dos dois é onde tudo começa. Tyler é uma personagem transgénero sem dúvidas na sua identidade, que já não tem que se adaptar ao mundo, mas sim o mundo à sua presença, enquanto que Allyson, apesar de ter o seu irmão de volta, quer sair da sua zona de conforto e recomeçar uma nova etapa na sua vida, longe da cidade que a viu crescer. Partem ambos em direção à casa da sua mãe, onde cresceram, para a limparem e venderem, mas a sua ligação é tão forte que acorda memórias reprimidas que começam a reescrever as suas histórias e acordam a necessidade de descobrir a verdade por detrás da morte da sua mãe.

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Tell Me Why não é apenas um drama familiar, com segredos e reviravoltas, mas sim uma história de investigação, onde sabemos desde muito cedo tudo o que aconteceu. Porém, é durante a jornada que vamos percebendo e descobrindo como e porque aconteceu, daí o nome do jogo. É uma decisão arrojada, tornando Tell Me Why num jogo muito mais contido do que as restantes apostas da DONTNOD, mas que não deixa de ser empolgante ao longo de quase todo o jogo, com exceção do seu segundo episódio, que patina entre filler e objetivos aborrecidos.

Semelhante a jogos do género anteriores, Tell Me Why é uma experiência relativamente linear, com algumas ramificações nas escolhas que, neste caso, parecem não se fazer sentir tanto como seria suposto, havendo alguma perda de urgência nas escolhas, exceto em momento raros onde por sinal são bastante efetivos. Após um primeiro episódio bastante sólido, Tell Me Why dá-nos tanto para absorver que parece que não tem muito para onde avançar, mas, tal como a premissa do jogo propõe, a procura dos “porquês”, juntamente com o excelente elenco de personagens interessantes e com as suas versões dos eventos que impactaram o passado dos gémeos, tornam a restante viagem bastante interessante e recompensadora de se explorar.

Enquanto jogadores e observadores, acompanhamos Allyson e Tyler alternadamente de acordo com o que a DONTNOD nos quer contar. Por vezes juntos, outras vezes separados, mas de alguma forma sempre unidos graças ao BOND, ou o lanço que os une, um elemento sobrenatural que joga com a ideia de que os gémeos partilham emoções e pensamentos, aqui explorado de forma mais fantástica, não só para acrescentar aquele tom de mistério extra aos “porquês”, como para ser usado como mecânica. Infelizmente, a existência deste laço nunca é explicada. Simplesmente existe e é pena que até mesmo as personagens aceitem tal habilidade de forma tão casual, o que acaba por retirar alguma força no momento em que descobrimos e começamos a explorar o seu verdadeiro potencial.

Com o BOND, o jogo abre a oportunidade de explorar esta história e os seus níveis de uma forma transcendental, revivendo memórias, seguindo pistas, pessoas e eventos, um pouco como o “modo detective”, tão popular noutros jogos de aventura e RPG. É uma utilização bastante peculiar e feita de forma eficaz, com pequenos contornos interessantes, pois cada irmão pode aceder a memórias diferentes, lembrando-se à sua maneira dos eventos e dando a oportunidade aos jogadores de definirem a sua versão desta história, que acaba por impactar o presente. No fundo, Tell Me Why é um jogo point-and-click que brinca com o conceito do Efeito de Mandela e com o facto de que as nossas memórias se deterioram ao longo do tempo.

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Mas o que me deixou mais agarrado a Tell Me Why não foi a sua estrutura, formato, conceito, mecânicas ou até o seu aspeto característico quase cartonesco com uma vibe indie que a DONTNOD tão bem aplica, mas sim os seus temas e como são apresentados utilizando as suas personagens como veículos. Além da inclusão de género, com a representação de uma personagem transexual apresentada com uma segurança enorme e sem recurso a clichés, temos uma história de traumas familiares que ecoa entre gerações, afetando o bem-estar individual de cada um e a aprendizagem de viver após a morte e a ausência, de luto. É um processo doloroso e longo, do qual eventualmente todos nós passamos na nossa vida e que, de alguma forma, temos que aprender a ultrapassar. E são histórias destas, no nosso escapismo e nos paralelos com a realidade que encontramos respostas, levantamos questões, vemos o mundo em perspetivas diferentes e aprendemos a lidar.

Por vezes, não é preciso uma ameaça maior que a vida, um perigo iminente ou algo espetacular para mexer com as nossas emoções. Basta algo simples, próximo e familiar, e Tell Me Why aposta nessa vertente de forma fantástica, ainda que por vezes tente ir mais além. Com um forte elenco, um excelente voice acting, uma banda sonora minimalista, mas fantástica, e que aparece sempre nos momentos certos para dar aquele toque emocional, Tell Me Why é um perfeito exemplo de que, por vezes, menos é mais, com apenas três episódios bastante sólidos que funcionam como uma trilogia perfeita para consumir de uma assentada numa tarde de domingo.

O primeiro episódio de Tell Me Why já está disponível no PC, Xbox One e no serviço Xbox Game Pass para PC e consolas e pode requerer um pacote de lenços ao lado do comando. O segundo episódio tem data marcada para dia 3 de setembro e o terceiro para dia 10.

Nota: Muito Bom - Recomendado

Plataforma: Xbox One e Windows 10 PC
Este jogo foi cedido para análise pela Xbox Portugal.

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