Submerged: Hidden Depths – Um amor sem corrente

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A jogabilidade pacifista é refrescante, tal como o seu foco na exploração, mas Hidden Depths desvaloriza as suas mais valias ao insistir numa jogabilidade que se recusa a evoluir ao longo das cinco horas de campanha.

No cerne de Submerged: Hidden Depths, temos a história de dois irmãos, Miku e Taku, num mundo inundado, repleto de ruínas de uma realidade há muito esquecida. Neste mundo adormecido, uma estranha entidade expande-se como raízes de uma árvore amaldiçoada, criando réplicas de seres-humanos, que agora ocupam os seus lugares, para sempre congelados no tempo, numa sucessão perpétua de pequenas ações. Miku, também marcada pela entidade, reflete que estas réplicas poderão ser não só uma tentativa de recriar um mundo que nunca voltará, mas também um memorial jocoso para aqueles que ignoraram os seus avisos. É neste vasto oceano de destroços que encontramos a base emocional de Submerged: Hidden Depths e a sua mensagem não só ecológica, mas também fraternal, de dois irmãos contra todas as adversidades. É também no azul do oceano eterno que morre a diversão.

Falhei o lançamento do título anterior, mas consigo perceber que a base era a mesma. Continuamos num mundo inundado, muitos anos no futuro, onde dois irmãos viajam através de ruínas no seu estimado barco. Entre ruínas, encontramos zonas exploráveis, marcadas por puzzles muito simples e uma calma desconcertante, pautada pela banda sonora suave e pouco intrusiva, onde navegamos níveis que encaixam entre a linearidade e um formato mais labiríntico. É um mundo colorido, verdejante, mas ocasionalmente saudosista, onde a simbologia do oceano extenso cria uma realidade em constante movimentação apesar da sua estagnação. Miku e Taku são as únicas personagens que encontramos em Hidden Depths, fora as réplicas em disposição pelos cenários, mas há uma atenção à representação das culturas que se apoderaram das selvas de betão, construindo tendas e pontes entre prédios tombados e fábricas abandonadas, vivendo acima do limite do mar. A narrativa é maioritariamente visual, algo que interliga ambos os jogos para criar um estilo e uma mensagem muito próprias, tal como a ausência de combate ao longo da campanha.

Submerged: Hidden Depths constrói a sua aventura através de nove pontos de destaque, representados por sementes da entidade que se expande pelos cenários, intercalando estes níveis mais clássicos – que colocam os jogadores em busca das sementes através de puzzles ambientais muito acessíveis e facilmente resolvidos – com a exploração de um mapa extenso repleto de colecionáveis e melhorias para o barco dos protagonistas. Existe liberdade total na forma como abordam a campanha. Para encontrar os vários pontos de interesse, o jogador tem à sua disposição um telescópio que permite marcar no mapa os artefactos, barcos abandonados e marcos exploráveis. É um sistema muito intuitivo que, infelizmente, não funciona como seria de esperar, com o telescópio a ser muito seletivo com o que decide identificar em campo. Não consegui concluir se a distância é a única métrica que determina a descoberta dos colecionáveis ou se a sua descoberta é influenciada por outros objetos, pois, à medida que explorava, encontrei vários colecionáveis em locais onde já tinha explorado e utilizado o telescópio. Existe uma quebra na imersão, especialmente para aqueles que quererão explorar o mapa de Hidden Depths e encontrar os seus colecionáveis, perdendo-se através de um oceano sem desafio e de zonas pouco ou nada marcantes.

A partir do momento em que terminam a introdução, Submerged: Hidden Depths não vos exige uma ordem pré-definida entre os nove pontos de destaque, pedindo que explorem o seu enorme mapa em busca dos locais que querem explorar. A liberdade é uma mais valia, ainda mais para uma jogo que recusa por completo a possibilidade de combate e a presença de figura inimigas na sua campanha, mas é também o maior problema de Submerged: Hidden Depths enquanto jogo de aventura. Sem uma direção, temos um jogo que tem de funcionar de igual medida em qualquer uma das suas zonas principais e proporcionar um desafio idêntico entre elas. Para compensar a ausência de dificuldade e de um crescente desafio na jogabilidade, a Uppercut Games procurou uniformizar a campanha ao apresentar puzzles intercalados por níveis lineares. Esta é a base da experiência: encontrar o caminho, utilizar esferas para abrir portões, puxar pontes com o barco ou aproveitar os poderes das sementes para desbravar caminho. Os níveis criam uma dissonância com a liberdade que sentimos enquanto exploramos o oceano, limitando a experiência a ações repetitivas que destoam da expansividade que o mapa tenta proporcionar.

O design dos níveis é, infelizmente, muito idêntico. A sua falta de variedade é tão grave e arcaica que dei por mim a confundir as zonas que já havia explorado. A repetição de tarefas prejudica ainda mais a experiência de Hidden Depths e coloca-nos num loop interminável entre subir escadas, escalar paredes e saltar entre plataformas sem existirem elementos suficientemente fortes que marquem uma diferença mecânica entre elas. Foi impossível ignorar estes problemas quando encontrei um edifício decrépito onde fui obrigado a viajar de um ponto ao outro do edifício para encontrar um colecionável. A viagem funcionou como um espelho que refletia duas partes quase idênticas desta zona, onde a sua semelhança era tão acentuada que deixei de perceber se estava a avançar ou a voltar atrás. Esta passividade é desapontante, não porque sinto que o jogo precisasse de combate ou de habilidades para sobreviver, mas porque não existiu um cuidado adicional no design dos níveis e uma progressão eficaz entre eles. Um caso curioso onde a liberdade é o calcanhar de Aquiles.

A primeira hora de Submerged: Hidden Depths é uma lufada de ar fresco. Sem as pressões tradicionais de um jogo de aventura e os sistemas que tornam complexas as experiências em mundo aberto, o título da Uppercut Games leva-nos numa viagem calma e ponderada num futuro repleto de beleza. As cores fortes descontraem-nos, os animais, que saltam pela água, demonstram como ainda há vida neste mundo e a liberdade de escolhermos o nosso caminho deixa-nos mais motivados para explorarmos os vários destroços que vemos no horizonte. A ilusão rapidamente é quebrada quando encontramos níveis idênticos, uma falta de variedade assustadora e vários colecionáveis espalhados por um mapa muito mais vazio do que aparentava ser – ao ponto de apresentar, tal como os jogos em mundo aberto, torres que desbloqueiam a visibilidade no nosso mapa.

Aprecio a sua aposta numa aventura contemplativa e contra as normas do género, mas sinto que ainda falta alma a Submerged: Hidden Depths. Um problema que também identifiquei em City of Brass e que parece estar inerente ao design e preocupações da Uppercut Games.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Renaissance PR.

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