Análise – Song of Horror (PlayStation 4)

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Uma aventura de terror que funciona como um best of do género, mas que falha em ser assustador.

Uma boa ideia não equivale a um bom videojogo. Um conjunto de ideias, como podem depreender, também não é o suficiente para darmos origem a um videojogo competente ou memorável. É preciso saber combinar essas ideias, mecânicas e narrativas num pacote completo e focado. Podemos, claro, respeitar a ambição e criatividade da produtora, que teve também a coragem de criar um projeto capaz de se expandir na sua própria fórmula, mas é difícil não criticar esta falta de análise e pensamento prévio.

Song of Horror, da Protocol Games, é um desses projetos, um título de terror com inspirações nas aventuras gráficas que propõe uma campanha repleta de mecânicas, mas sem um coesão que torne a experiência minimamente memorável.

A Protocol Games parece ter partido com a intenção de criar o jogo de terror mais completo e representativo do género que jogaremos este ano. Com um mistério suficientemente intrigante a despoletar a campanha, que se constrói em torno de uma misteriosa caixa de música, Song of Horror não perde tempo a apresentar todas as suas cartadas. As inspirações nas aventuras gráficas, e também no catálogo da Telltale Games, faz-se sentir assim que iniciamos a campanha. No papel de Daniel, podemos explorar a sua casa com total liberdade, investigando documentos – que podemos manusear -, e conhecer melhor o sistema de visibilidade, representado pela posição da cabeça da personagem, que identifica os itens com os quais podemos interagir. A visão na terceira pessoa e a presença de ângulo definidos, mas dinâmicos, dão a Song of Horror a vaga sensação de que estamos perante um clássico do género.

Só nesta introdução, que também me relembrou The Medium – um jogo que, apesar dos seus problemas, é muito mais competente –, temos uma cultura de excessos no que toca às suas mecânicas.

Song of Horror

Com a introdução terminada, temos acesso à experiência destilada da campanha. Song of Horror não se desenvolve apenas com um protagonista, mas sim com vários, cada um deles com aptidões particulares e uma fonte de luz diferente. Podemos escolher, por exemplo, Sophie, que se mune de uma vela para iluminar o caminho, Mas também Alexander e Omar. O elenco é variado e o título da Protocol Games constrói-se em torno de uma experiência com morte permanente, isto é, sempre que uma personagem falecer terão de trocar para a próxima e continuar a aventura. A narrativa tenta conciliar as várias estórias e criar, no meio da confusão, uma sensação de terror permanente, mas a aposta nos puzzles e na navegação lenta, juntamente com as personagens que são – para todos os efeitos – descartáveis, perde-se qualquer tensão que se pudesse construir pela presença da entidade que nos persegue.

A possibilidade de perdermos personagens é aliciante e é, sem dúvidas, um dos pontos de venda de Song of Horror. Tenho de sublinhar que existe, de facto, um terror honesto na morte permanente, mas apenas num primeiro contacto. Depois, cria-se a inevitável irritação de quem perdeu um protagonista sem saber bem porquê. É possível mudarem as regras do jogo e eliminarem a morte permanente, mas sinto que isso é ir contra as intenções dos produtores. No entanto, Song of Horror podia ser mais equilibrado no desafio e na perda das personagens, ainda que se note que o foco se manteve sempre na navegação, recolha de itens e na resolução de puzzles. Nesse sentido, é um jogo competente e próximo dos seus semelhantes.

Outro elemento interessante que podia ser mais proeminente na jogabilidade é a iluminação. Apesar do seu destaque, influenciando, por exemplo, quais os itens que as personagens conseguem percecionar nos cenários, nunca sentimos o peso da escuridão e a leveza da luz, com o jogo a manter-se num ambiente bastante controlado e longe de ser assustador. O que é estranho, visto que outra das suas mecânicas permite que acendamos várias fontes de luz, como lareiras, para reforçarmos a segurança de um local.

Song of Horror

Esta ideia de segurança transparece também na forma como localizamos a entidade que nos persegue, existindo a possibilidade de encostarmos o ouvido nas portas para ouvirmos o que se passa do outro lado. Uma fonte de tensão, sem dúvida, mas que sabe a pouco. Não só é evidente quando existe algo do outro lado, como esta opção só está disponível em momentos e portas concretas. Não existe uma tensão permanente, pois sabemos quando é suposto parar para ouvir. O mesmo para a possibilidade de segurarmos as portas para impedirmos que a entidade nos apanhe, uma ação relegada para QTE.

Song of Horror é rico em ideias, mas sabe a pouco. É raro abandonar um jogo de terror antes de o terminar, até mesmo quando são deploráveis, mas o título da Protocol Games foi uma maré de aborrecimento que não me conseguiu agarrar. Talvez encontrem uma experiência muito diferente da minha, mas aconselho-vos a darem o salto se gostarem de aventuras gráficas – o terror é quase opcional.

Fica o aviso que Song of Horror tem alguns problemas de desempenho na PlayStation 4, com slowdowns e bugs visuais constantes, como uma lanterna que fica presa no ar sempre que nos movimentamos. Fora alguns momentos de iluminação, também é um jogo pouco atraente a nível visual, com texturas pobres e modelos ultrapassados. Tantas ideias e pouco desempenho.

https://youtu.be/zRx6ZefGiH0
Nota: Satisfatorio

Disponível para: PC, Xbox One e PlayStation 4
Jogado no PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela Renaissance PR.

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