Descubram a história de Serious Sam numa só coleção.
Sinto que perdi anos de conhecimento e de história de videojogos ao não ter um PC poderoso o suficiente. Nos anos 90, por exemplo, tinha um Commodore 386 muito velho, que só ligava com três pancadas secas, e enquanto os meus amigos jogavam Quake, Duke Nukem 3D e Half-Life, eu estava relegado ao Arkanoid e a Elifoot. Nem DOOM corria no meu PC.
Com a entrada do novo século, a sorte mudou e consigo trouxe um Pentium IV, topo de gama, onde pude, por breves momentos, olhar de frente para o esplendor do catálogo de videojogos no PC. Mas como tudo na vida, o tempo passa, a tecnologia evolui e o meu pobre Pentium IV ficou mais velho e mais cansado. O triste fado continuou no meu portátil atual, onde escrevo agora esta análise, que sofre ao correr Mega Man X Legacy Collection.
Não é, portanto, de estranhar, que me habituei a jogar nas consolas. Há algo de mágico nas pequenas (ou enormes, no caso da PS5) caixas que ligamos à televisão, onde os comandos substituem a destreza e versatilidade do teclado e rato por uma experiência mais compacta e universal. Este restringimento às consolas não foi sempre saudável e perdi, de facto, muitos videojogos clássicos. Perdi o crescimento e surgimento de novos géneros; vi tudo à distância.
É por esse motivo que ainda hoje fico com um enorme sorriso na cara quando exclusivos PC chegam finalmente às consolas, tal como é o caso de Serious Sam Collection, uma coleção composta pelas remasterizações dos primeiros dois jogos e a estreia do terceiro capítulo na atual (quase passada) geração.
Mas é um sentimento agridoce ao mesmo tempo. A espera tem destas coisas, idealizamos as coisas até que somos obrigados a enfrentar a realidade. Neste caso, apercebi-me que Serious Sam, já visto como o sucessor dos clássicos do género – e uma série independente importante na história da produção europeia –, é muito mais limitado do que antevia. Na verdade, é dos jogos mais simples, diretos e desinteressantes que encontrei, relegando a sua ação a arenas demasiado extensas ou a cenários fechados onde somos bombardeados por hordas de inimigos sem padrões ou uma inteligência artificial verdadeiramente desafiante – a sua força está unicamente nos seus números.
A Croteam tentou captar a magia e irreverência de Duke Nukem e criar quase uma paródia em Sam, agora mais irónico e ciente da sua vida dentro de um videojogo, mas falta-lhe o design de níveis meticuloso e o ritmo de exploração dos títulos em que se inspirou. Apesar de existirem dezenas de segredos espalhados pelos seus níveis e de ser, em todos os sentidos, um jogo desafiante, Serious Sam não evolui para além da sua fórmula e dos seus combates em arenas, cansando e desgastando os jogadores com a repetição de cenários e texturas envelhecidas.
No entanto, Serious Sam é intuitivo e é fácil de pegar e jogar: seria de estranhar se não fosse. O leque de armas é impressionante e podem contar com caçadeiras, lança-rockets, motosserras e armas menos convencionais. A movimentação é um pouco rígida no comando, mas poderão aumentar a sensibilidade dos controlos nas opções.
Na verdade, a Croteam adicionou novas opções de acessibilidade e até a possibilidade de escolherem se querem correr o jogo com melhor qualidade gráfica ou com melhor desempenho – e se querem o meu conselho, fiquem-se pelo último. Isto porque Serious Sam tem alguns bugs visuais e de desempenho que pioram quando decidem aumentar a fidelidade gráfica, empurrando as quedas de frame rate para números impróprios.
Se são fãs da série, esta coleção é uma janela para o passado e conta não só com os três jogos, como com os DLCs e modos de sobrevivência online e local. As opções de dificuldade também injetam alguma longevidade ao pacote já completo, mas perante a repetição de níveis, a falta de cor e uma aposta em texturas ultrapassadas – especialmente no estilo mais realista de Serious Sam 3 –, senti a ausência de Serious Sam 2. Mais colorido e cómico que os títulos anteriores, a sequela apresenta uma maior identidade visual e uma vontade em quebrar o molde da série.
Infelizmente, é o jogo menos respeitado pela Croteam e fãs, e foi injustamente afastado desta coleção, que afinal não é tão completa como aparentava ser.
Serious Sam Collection é aquilo que é: três jogos básicos, mas ocasionalmente divertidos e todos os seus DLC. A série é incapaz de abandonar as suas arenas e inimigos cansativos, e até certo ponto, respeito essa dedicação ao tom e raízes destes clássicos. Infelizmente, saí dececionado e aborrecido com o que descobri. São jogos de nicho, ao contrário do que a memória dizia, e irão continuar a ser. Apenas para fãs da série ou do género.
Disponível para: PC, Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch
Jogado na PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela Cosmocover.