Análise – Remothered: Broken Porcelain (PlayStation 4)

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Um excelente exercício de terror de domingo à tarde, com direito a intervalos para ir à casa de banho.

Remothered: Broken Porcelain

A ambição é uma amante imperdoável. Se, por um lado, é a força motora para nos motivar a arriscar e a perseguir sonhos que, de outra forma, pareciam ser impossíveis, por outro, é a primeira a prejudicar-nos quando nos vemos num barco sem fundo, já em alto mar. A ambição foi a mesma que nos trouxe Remothered: Broken Porcelain, o novo título da Stormind Games, e uma nova abordagem sobre a fórmula que encontrámos em Clock Tower, mas com uma personalidade própria. Há aqui uma tentativa, uma visão singular e até uma sensibilidade muito cinematográfica, mas este é um exemplo perfeito para os perigos da ambição. Não se atirem ao mar se não sabem nadar.

Remothered: Broken Porcelain é um mau jogo. Está mal otimizado, estruturado e até realizado, construindo uma cacofonia de sequências de estória e mecânicas que mal se conjugam entre si. É um retrocesso em quase todos os sentidos quando comparado ao original, cuja estória esta sequela continua quase diretamente, onde existia uma maior restrição de ideias e de ambição. É uma sequela, é suposto ser “mais e melhor”, mas quando nos deparamos com um jogo tão fundamentalmente quebrado, é impossível não o achar também secante. E Broken Porcelain é tão fascinante e irritante.

Para um projeto independente, a Stormind Games esforçou-se ao máximo para nos dar cenários mais ricos, detalhados e um design de níveis mais intricado, juntamente com animações mais realistas – um dos problemas do primeiro jogo, onde todas as personagens pareciam ser androids –, e um maior cuidado na iluminação e na banda sonora. Há aqui uma tentativa palpável em melhorar tudo o que tornou Tormented Fathers tão peculiar e interessante, mas com as melhorias gráficas, vieram também os problemas de desempenho e os bugs constantes. A própria jogabilidade é rígida, com tempos de resposta que bloqueiam ocasionalmente a movimentação – ao ponto de pensarmos que o jogo parou –, e que cortam por completo a sensação de furtividade que a estória tanto se esforça em manter.

Remothered: Broken Porcelain

Remothered: Broken Porcelain é um jogo de horror onde temos de explorar cenários fechados enquanto fugimos e nos escondemos de inimigos imparáveis. Podemos contra-atacar, encontrar esconderijos e até deixar armadilhas e distrações que nos dão segundos preciosos de exploração e resolução de puzzles. Esta é a fórmula que vimos, ainda que noutro formato, em Clock Tower, uma das inspirações de Stormind Games, mas, ao contrário da série clássica da Human Entertainment, Broken Porcelain é muito mais limitado no horror e nos sustos, colocando-nos a revisitar constantemente os meus locais num loop interminável entre momentos de fuga e puzzles simples.

O primeiro capítulo é uma péssima introdução ao jogo e obriga-nos a descobrir uma forma de entrarmos num quarto, apesar de não sabermos concretamente o porquê. Para tal, temos de passar dezenas de vezes pelos mesmos corredores, realizar as ações mais mundanas – como descobrir um número de telefone, voltar atrás e regressar ao ponto de partida – e lutar contra uma UI que é tudo menos intuitiva. Mesmo com a possibilidade de alternar pelos itens através dos botões direcionais, Remothered: Broken Porcelain é antiquado e os menus são desinteressantes, ao ponto de ser difícil de perceber se selecionámos ou não um item. A UI também é inconsistente e encontrei momentos em que não conseguia abrir gavetas porque o jogo se recusava a dar-me o botão correto para interagir com os objetos, o que me obrigou a reajustar a câmara e a posição da personagem demasiadas vezes.

Existem alguns momentos de tensão, especialmente nas fugas, mas Broken Porcelain é mais chato do que difícil. As ações são morosas, lânguidas e aborrecidas, com as animações a demonstrarem ainda o orçamento reduzido do jogo. Mesmo percebendo o porquê desta escolha mecânica, pois serve para aumentar a tensão, a verdade é que temos um jogo que luta contra o jogador à medida que oferece opções de combate e furtividade desnecessárias. Por exemplo, a opção de saltarmos do balcão do hotel, que nos mata automaticamente. Qual é o objetivo? Dar ao jogador a sensação que é preferível morrer do que ser apanhado por uns dos vilões? Consigo compreender a ideia, mas não tem qualquer impacto na jogabilidade ou na narrativa. Aliás, nem temos uma animação única de morte. Nada.

Remothered: Broken Porcelain

Broken Porcelain é um jogo de excessos, mas respeito a sua coragem. É um projeto que quer fazer um jogo de milhões por uns meros trocos e nada os parou. Conseguimos sentir isso, por exemplo, nas interações entre personagens, que contam com voice acting, e a direção das cenas. Temos uma visão cinematográfica muito afincada com jogos de câmara, perspetivas forçadas e alguns truques de iluminação que tentam cortar a falta de cuidado e fidelidade geral do motor gráfico. Infelizmente, não consegue, mas tenta com todas as suas forças, tal como a banda sonora, que acaba por ser mais genérica e previsível do que se pedia.

No final do dia, o regresso a Remothered é muito insatisfatório. É uma visita de médico, curta e chata, onde nos vemos a repetir as mesmas ações à medida que tentamos descobrir onde está, afinal, a tensão e o horror. O desempenho inconsistente e os bugs horrorosos, como animações que são interrompidas ou personagens presas nos cenários e com o pathfinding mal programado – e ainda cutscenes que teletransportam as nossas heroínas de uma sala para outra –, tornam o ambiente sempre cansativo e morno. É uma tentativa falhada, mas há sempre espaço para melhorias.

No entanto, elas só chegarão numa sequela, pois Broken Porcelain é agora um poço envenenado – tal como a ambição.

Nota: Mau

Disponível para: PC, Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch
Jogado na PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela Dead Good Media.

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