Análise – Pine (PlayStation 4)

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Uma aventura assente na liberdade que precisava de menos ambição e mais conteúdos.

Pine

Nunca subestimem a liberdade nos videojogos. O conceito pode ser contra-argumentado, visto que descentraliza a narrativa e cria campanhas artificialmente mais extensas, mas é humano querer explorar sem amarras. É reconfortante vermos um ponto distante no cenário, um pico da montanha ou uma estrutura no horizonte, que podemos, em tempo real, acalçar através dos nossos esforços. Pine, da Twirlbound, procura capturar esse sentimento de descoberta e exploração, mas é condicionado por um desempenho pouco consistente e escolhas de design que nem sempre funcionam dentro do conceito.

Mas uma coisa é certa: Pine quer que explorem o seu mundo aberto. Depois da introdução, que nos apresenta uma tribo de humanos em busca de uma nova terra, temos liberdade para descobrir as várias zonas deste mundo primitivo. Como Hue, um jovem aventureiro, podemos desbravar caminho pelas regiões do norte ou as areias quentes do sul à medida que descobrimos mais sobre a mitologia deste universo e entramos em contacto com as quatro raças e tribos que o povoam. O foco na liberdade não é descabido e é um ponto extremamente positivo que deixa os jogadores explorarem à vontade e sem a rigidez de uma campanha mais linear.

As inspirações são claras e a Twirlbound não as escondeu. Pine não é propriamente um jogo muito profundo no que toca às suas mecânicas, assemelhando-se mais à inventividade de um jogo na PS2 do que a um clássico moderno, mas a aposta em crafting e na recolha de recurso cria uma sensação de progresso que poderá entreter-vos do princípio ao fim. A aventura é, de facto, o destaque de Pine, visto que o seu combate é muito pouco aliciante ou profundo, faltando-lhe uma noção de estratégia que, infelizmente, a Twirlbound não conseguiu aplicar. É certo que existe uma barra de energia que limita as ações, que pode ser recuperada através de alimentos, e que os inimigos são intimidantes, mas Pine resume o seu combate quase sempre a golpes repetitivos e sem a possibilidade de combinações. Já os puzzles são ligeiramente mais desafiantes, ainda que a exploração do mundo seja sempre o elemento principal.

Pine

No entanto, esta liberdade não é tão real como a Twirlbound queria que fosse. É certo que podemos visitar qualquer zona desde o início e que o sistema de crafting liga eficazmente a gestão de recursos com a exploração – que nos motiva a encontrar novos itens que permitem a construção de armas e armaduras mais poderosas –, mas a deslocação é lenta, o mapa é repetitivo e os problemas de desempenho dificultam a leitura dos cenários devido ao carregamento de texturas. A variedade de atividades é reduzida e sentimos, apesar da liberdade, que estamos constantemente a parar o progresso com missões obrigatórias que obrigam a uma gestão de recursos e de personagens – como as tribos.

Mas a aposta num sistema de influência credibiliza o mundo aberto de Pine, no sentido em que nos dá maiores opções de personalização dentro da campanha: há uma maior profundidade no seu ecossistema. Com quatro tribos à disposição, é necessário reger o nosso relacionamento com as diferentes raças e fazer oferendas regulares que não só estabelecem uma ligação comercial, como desbloqueiam ajudas necessárias e até novas oportunidades de missões adicionais. No entanto, este é um sistema vivo e maleável, e se melhoramos a nossa influência, por exemplo, com os lobos podemos contar que as restantes raças não apreciarão essa proximidade – se jogaram GTA 2, de certeza que compreenderão como funciona.

Só que falta algo a Pine. A liberdade é um ponto forte e existem aqui ideias que são aliciantes no papel, mas a sua implementação ou é pouco original ou frustrante. A própria mecânica de influência, que está no centro da experiência do jogo, acaba por ser facilmente manipulada se perderem algum tempo a recolher recursos. É certo que poderão ser atacados pelas restantes raças, mas acreditem que é igualmente fácil escapar e evitá-las enquanto exploram. Senti que estava a ver os alicerces para algo melhor, um pouco à semelhança de Decay of Logos, mas cujas mecânicas o prejudicam no que toca à sua longevidade.

Pine

Pine chegou ao PC em 2019. Existiram várias revisões e melhorias, mas não as senti nesta estreia nas consolas. A Twirlbound parece continuar disposta a apostar neste título de aventura, mas é uma venda difícil quando nos aproximamos de lançamentos de peso e temos já as novas consolas no mercado. É uma experiência satisfatória e o seu ideal, que se assenta na liberdade, é reconfortante, pois sentimos que a produtora tinha o coração no sítio certo quando projetou Pine, mas Breath of the Wild saiu em 2017 e este jogo independente não se pode construir apenas sobre a vontade em dar aos jogadores uma campanha livre.

Não subestimem a liberdade nos videojogos e não coloquem de parte os seus mundos abertos, mas não basta construir mapas extensos: é preciso saber criar cenários que permitam desenvolver esta liberdade. Talvez Pine seja o que estão à procura, e espero que sim, mas da minha parte, saí desiludido – quase como se se evaporasse da minha memória à medida que escrevia esta análise.

Nota: Satisfatorio

Disponível para: PC, PlayStation 4 e Nintendo Switch
Jogado na PlayStation 4
Cópia para análise cedida pela Zebra Partners.

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