Infernax – O inferno é Zelda II

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Uma aventura implacável que irá desafiar até os mais experientes.

Difícil, cruel, jocoso, talvez até sádico ou apenas severo. Qualquer um destes adjetivos descreve na perfeição Infernax e a experiência clássica que procura revitalizar na sua aventura. A Berzerk Studio não se poupou na criação de Infernax, bebendo da fonte de Castlevania e Zelda II: Adventures of Link para trazer um jogo de ação e aventura, com fortes raízes nos RPG em 2D, que pouco se importa com os vossos sentimentos. Infernax é difícil, às vezes até injusto, mas não existem dúvidas de que irá satisfazer aqueles que procuram uma experiência deliciosamente clássica.

A campanha é muito mais macabra, sangrenta e violenta do que poderiam esperar. Infernax pode inspirar-nos nos clássicos da Nintendo e da Konami no que toca à sua estrutura, procurando retratar um mundo interligado por várias zonas e limitado pela descoberta de novas habilidade – não se afastando também das suas inspirações nos metroidvania e em modelos mais atuais, apresentando missões secundárias ao longo das suas horas de jogo –, mas é a sua antítese no que toca ao tom e ao retrato da demanda do seu herói. Aqui seguimos um cavaleiro medieval, retornado das Cruzadas e ainda de cruz vermelha ao peito, que encontra a sua terra natal atacada por demónios e outras monstruosidades. A sua violência não tem limites e é através do seu estilo pixelizado, imitando os clássicos dos 8 bits, que vemos modelos ensanguentados, marcados pela arma do nosso herói e observamos pedaços destes monstros a voarem à medida que disferimos o que pensamos ser justiça perante aqueles que atacam as nossas terras. A carnificina é uma constante e os pequenos trechos em vídeo, quase sempre de personagens estáticas, revelam um elenco de traços carregados, como se o mundo estivesse lentamente a enlouquecer.

A aventura faz-se em 2D, em formato side-scrolling, e Infernax comporta-se como qualquer outro jogo de ação da era da NES. O nosso cavaleiro é capaz de atacar, saltar, utilizar magias, melhorar os seus atributos, comprar equipamentos e armas, e até utilizar o seu escudo para evitar ataques inimigos – uma mecânica amistosamente retirada de Adventures of Link. O foco está na dificuldade, na dureza dos inimigos e nos seus padrões, com o jogo a colocar-nos constantemente em situações onde grupos de monstros atacam em todos os sentidos. Podemos encontrar cenários onde esqueletos atiram machados, olhos voadores condicionam os nossos saltos e armadilhas obrigam-nos a defender ritmicamente sem deixarmos um único ponto fraco à vista. Estes momentos são intensos e até cansativos, mas nem sempre justos. No entanto, é normal sentirmos que a equipa quis apenas atirar tudo contra nós sem pensar se o ritmo e o fluxo da jogabilidade estariam necessariamente de mãos dadas.

Este desequilíbrio surge não só no design dos níveis, que temos de percorrer várias vezes – especialmente se estivermos numa das masmorras principais da campanha –, ou no fraco posicionamento de pontos de gravação, mas também nas mecânicas RPG. Sou levado a crer que Infernax quer ser tão próximo dos jogos em que se inspira que decidiu criar uma jogabilidade dependente do infame grinding. Chego a esta conclusão porque os pontos de experiência para melhorarmos a força, a saúde e a magia do nosso cavaleiro são muito exigentes, condicionando-nos a lutar contra inimigos que requerem um número enfurecedor de golpes para serem eliminados. Se equacionarmos a ausência de novas armas em certos momentos da campanha, inacessíveis devido às barreira impostas pelo próprio jogo, cria-se a necessidade de derrotar os adversários, mas também os longos minutos de recolha de pontos que culmina sempre numa corrida até ao ponto de gravação mais próximo para não perdermos o progresso. É aqui que Infernax desvirtua as suas qualidades mecânicas, no que toca à sua vertente de ação e aventura, em prol de um ambiente RPG. Devia ter sido mais Castlevania e menos Adventures of Link.

O que é absolutamente enfurecedor. Infernax tem todos os elementos para ser um excelente regresso ao passado, mas perde demasiado tempo a adicionar mecânicas e sistemas que complexificam o que devia ter sido simples e intuitivo. A navegação entre zonas é cansativa, as missões secundárias apresentam incentivos interessantes, mas resumem-se sempre às mesmas tarefas – eliminar inimigos, encontrar item, etc – e até as opções narrativas focam-se demasiado na moralidade para atingirem qualquer tipo de catarse emocional. Estas sequências são interessantes, especialmente no contexto de um jogo que procura ser o mais clássico possível, e existem repercussões para algumas das escolhas que fazemos – não só narrativas, mas também mecânicas, como termos acesso a magias que seriam inacessíveis se fizéssemos outra escolha –, mas no final, tudo culmina num julgamento de valores: ou somos muito maus ou somos muito bons.

Infernax é um voltar atrás no tempo e uma aventura sangrenta muito sólida a nível mecânico. As ideias estão no lugar, mas sofre ao não limar o que apresenta ao jogador. É um jogo de excessos, até na sua simplicidade, e saí sem perceber se necessitaria assim tanto deste mundo interligado e das suas mecânicas RPG. Não há harmonia, apenas violência e força bruta neste mundo de criaturas e monstruosidades. Para alguns, isso será o suficiente e eu respeito isso, mas não fiquei inteiramente satisfeito. Se a dificuldade vos assustar, não se preocupem, existem um modo casual que corta algum do tédio de voltarem constantemente ao ponto de gravação anterior. Mas se quiserem a experiência tradicional, aconselho-vos a não o fazerem e a seguirem o modo normal, até porque adiciona alguma tensão à jogabilidade.

Se não fosse a repetição e os inimigos em formato de esponja, daquelas baratíssimas, Infernax podia ser muito mais divertido do que é.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Cosmocover.

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