É cinco anos depois do último titulo da série, e cerca de 11 depois do original, que a Codemasters tenta ressuscitar GRID, agora lançado no PC, PlayStation 4 e Xbox One, na esperança de trazer as emoções do asfalto num jogo divertido, emocionante e bem acessível.
Superficialmente, GRID cumpre essas promessas, mas olhando para o conteúdo que oferece e para o que os jogos anteriores nos trouxeram, em particular o original Race Driver: GRID de 2008, é bem difícil não ficar um pouco desapontado.
Com uma forte aposta em diferentes modalidades motor desportivas, a Codemasters tem-nos trazido alguns jogos fantásticos, como a série-sequela dos antigos Colin McRae, com DiRT e DiRT Rally, que se dividem entre experiências mais casuais e profissionais, ou a fantástica série F1, que, ano após ano, e muito devagarinho, continua a acrescentar novidades bem mais interessantes do que a simples atualização de carros, pilotos e pinturas.
Ao longo destes lançamentos, temos assistido não só a afinações a nível de jogabilidade em cada uma das séries, como a melhorias visuais e a adição de muito conteúdo, quer a nível de carreiras, modos livres, multijogador e até apostas em esports. Infelizmente, o novo GRID pouco ou nada faz em cada um destes pontos. E pior, fica aquém das expetativas dos jogadores de capítulos anteriores.
Antes de falar no que resulta e não resulta, convém referir que GRID é um jogo sólido por si só. Apenas não atinge o patamar prometido pelos standards da série e da Codemasters, o que deixa um gosto bem amargo aos fãs.
Com uma aposta clara na jogabilidade árcade, GRID é dos poucos jogos que explora e se dedica a diferentes modalidades motor desportivas em pistas fechadas, com uma jogabilidade relativamente acessível. Designa-se como um sim-arcade, mas é, sem dúvida alguma, no lado mais fantástico onde se encaixa. Contudo, as leis da física têm um papel importante e não podem ser ignoradas se quisermos ter sucesso nas nossas partidas.
A adrenalina de fazer uma curva mais aberta, em que não podemos carregar no acelerador a fundo para não sairmos projetados, faz-se sentir muito bem, com os carros a apresentarem um peso ajustado às suas propriedades e a insegurança da aderência dos pneus ao asfalto a mostrarem-se ingredientes deliciosos para aquela emoção extra.
Com uma ótima sensação de velocidade, os controlos diferem bastante de carro para carro, e a sua condução vai depender imenso do tipo de câmara que usamos. GRID usa câmaras traseiras um pouco mais fixas nos carros, à semelhança do que temos por exemplo em DiRT Rally, o que dá uma sensibilidade extra aos toques dos analógicos dos comandos, requerendo alguma habituação. Já nas câmaras mais imersivas, as coisas parecem funcionar de forma mais responsiva e, por vezes, emocionante.
Seguir o nosso oponente de perto, volta após volta, até àquela ultrapassagem milagrosa e emocionante nos últimos metros antes da meta, é quase uma trademark na série, e GRID volta a oferecer um pouco disso, mas com alguns problemas. O primeiro a salientar é a aparente falta sensação de “drag”, em que o carro do oponente nos corta o vento, possibilitando a nossa aproximação ao ponto de nos tornarmos um projétil durante a ultrapassagem. Foram poucas as vezes que senti este efeito, especialmente em pistas mais retas ou ovais, onde o controlo da aceleração nas curvas e a cuidada perseguição dos oponentes são importantes para a vitória, mas que aqui me deram alguma frustração, mesmo até com carros estatisticamente melhores.
GRID introduz uma interessante mecânica de conflito durante as partidas, o sistema Nemesis, que promete tornar as corridas mais agressivas se formos mauzinhos para os nossos oponentes. A cada ultrapassagem arriscada, toque ou batida, cada oponente tem uma espécie de medidor que, uma vez preenchido, torna esse piloto num oponente. O que isto significa é que vão ficar particularmente agressivos connosco ao ponto de se tornarem em autênticos Kamikazes, destruindo os seus carros só para nos por KO.
Esta função está sempre ativa e a sua atuação depende do nível de dificuldade da AI, mas também da extensão das provas, com as mais longas a serem palcos de maiores rivalidades entre pilotos.
Outra função que podemos usar durante as corridas é a comunicação com os nossos colegas de equipa, a quem podemos dar indicações para nos abrir caminho ou deixar vencer provas. É uma função um pouco inútil e da qual dei por mim a nunca usar. Estes pilotos podem ser contratados fora da carreira e contam com diferentes perfis e habilidades, dependendo do tipo de carro que usam.
Que GRID se joga de forma competente e divertida não há dúvida, mas infelizmente os elogios ao jogo terminam aqui.
Visualmente, é um jogo difícil de comentar, uma vez que só tive oportunidade de experimentar numa plataforma e a experiência ficou longe do ideal. As primeiras partidas de GRID na PlayStation 4 deixaram-me desconfortável, com o jogo a apresentar uma qualidade de imagem digna da geração passada e muito pior do que a Codemasters conseguiu produzir com o seu motor de jogo em F1, DiRT e até mesmo nos anteriores GRID.
Após ver o comportamento do jogo no PC e nas consolas premium, como a Xbox One X e a PlayStation 4 Pro, nada me preparava para a falta de cuidado na otimização do jogo, em termos de apresentação na PlayStation 4 base (na Slim, neste caso). O jogo apresenta-se limitado nos 30fps, com visuais esborratados, como se a resolução estivesse muito abaixo dos possíveis 1080p. As texturas são de baixíssima qualidade e perdem detalhe a distâncias curtas, os reflexos dos carros atualizam aos esticões e os espelhos do interior são péssimos.
No fim de tudo, temos ainda as arestas difusas e escaladas da geometria, um excesso de efeitos de pós-processamento que torna tudo mais difuso e estranho. Este é, provavelmente, um dos jogos com pior aspeto que joguei na PlayStation 4 este ano. Todavia, não posso falar das outras versões do jogo, que estão, aparentemente, dentro do esperado para um jogo deste calibre.
Mas no meio de tudo isto, é possível ver a ambição da Codemasters com o seu motor de jogo, com os carros a mostrarem-se destrutíveis de forma quase orgânica e natural, com diferentes condições do tempo, pistas cheias de atmosfera e muitos detalhes que, infelizmente, pouco brilham nesta versão. Se gráficos são elementos que vos motivam a comprar um jogo, GRID na PlayStation 4 Slim, ou até na Xbox One S, é de evitar.
Mas há outro problema em GRID que já afeta todas as versões do jogo: o seu conteúdo. Apesar da grande, mas limitada seleção de carros e de mais de uma dúzia de localizações, GRID apresenta-se como um jogo bem clássico e old-school, com a parte principal do jogo, a Carreira, a ser composta de diferentes provas e taças. Inicialmente começam por ser curtas, mas vão-se tornando cada vez mais longas e competitivas à medida que avançamos em cada uma das diferentes disciplinas. A combinação dos tipos de carros com as várias provas é sempre interessante de partida para partida, mas eventualmente torna-se muito repetitivo e aborrecido.
Ao longo do jogo vamos ganhando créditos com os quais podemos comprar pilotos de equipa e novos carros até os desbloquearmos todos, podendo ainda personalizar cada um deles com pinturas e cores, mas tudo de forma muito superficial.
A carreira de GRID não tem necessariamente grandes objetivos do que simplesmente chegar ao fim em primeiro. A progressão é linear e a variedade de eventos é muito pequena. Sendo um reboot de uma série em que perdi centenas de horas quando se estreou em 2008, é com muita desilusão que vejo o desaparecimento de uma panóplia de modos que marcaram a série, como as corridas Touge, 1Vs1, o fantástico modo de drifting, modos de eliminação e ultrapassagem, o incrível modo de destruição (que era um show-off técnico do motor de jogo na altura), entre outros.
Fora da campanha, temos apenas um modo livre, onde podemos escolher as nossas regras, e o multijogador, que é igualmente básico, com um modo de sessões rápidas, em que a probabilidade de entrar numa partida composta apenas por bots é muito grande.
Sinto que GRID é uma desilusão e uma aposta falhada no reboot de uma série tão marcante para uma geração de jogadores como eu. Com este nome e vindo de quem vem, é difícil não estabelecer qualquer tipo de comparação e apontar o que falhar. Mesmo sem o fazer, GRID é pobre e simples demais para um jogo deste calibre. Tem falta de modos, dá-nos a sensação de uma ausência de progressão e está pobremente otimizado para uma grande quantidade de jogadores, nomeadamente os das consolas base.
GRID
Plataforma: PC, PlayStation 4, Xbox One
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Ecoplay.
Com uma jogabilidade divertida e acessível, os visuais e a falta de conteúdos tornam GRID num jogo banal até para o jogador mais casual, num género cheio de títulos bem melhores nesta e na geração anterior.