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Como seria a experiência Fallout se fosse um jogo multijogador? Esta é a questão que a Bethesda lança com Fallout 76.

O novo jogo do universo Fallout não é uma sequela do jogo de 2015, Fallout 4, mas sim um spin-off que funciona também como prequela deste universo. Passa-se no estado de West Virgínia, em 2102, quando o Vault 76 é aberto para que os sobreviventes de um holocausto nuclear possam voltar a popular o mundo.

Cabe ao jogador vestir a pele de um desses sobreviventes, descobrindo rapidamente que o mundo se encontra num estado ainda decadente, cheio de perigos e habitado por mutantes, monstros e robôs psicóticos.

Fallout 76 é um jogo inteiramente online, focado no multijogador e que pretende usar as mecânicas já conhecidas pelos fãs da série, mas num ambiente virtual partilhado.

Com um mundo cuja área é sensivelmente quatro vezes maior que em Fallout 4, todos os NPCs são outros jogadores, o que demonstra, só por si, uma enorme ambição para este título. A ideia de entrarmos num jogo de sobrevivência e encontrar outro jogador que nos possa trair e roubar tudo o que temos é emocionante, apesar de não ser nova, e o facto de podermos escolher a nossa aventura num mundo partilhado é igualmente interessante.

Infelizmente, Fallout 76, apesar do seu conceito ambicioso, falha nos elementos mais básicos e desilude enquanto produto e jogo dentro desta aclamada série. É um produto inacabado, em estado quase embrionário, e, enquanto jogo Fallout, as suas mecânicas e a sua jogabilidade deixam muito a desejar.

Fallout 76 01

Depois de uma fase beta muito atribulada e com um estranho controlo por parte da Bethesda, entrei em Fallout 76 consciente que não ia ser uma tarefa fácil, mas, quanto mais joguei, mais sentia vontade de parar e esperar por melhores dias.

Fallout 76 é claramente um serviço e não um produto completo. Desde a sua apresentação ao seu desempenho, passando pelas mecânicas e estrutura, o jogo demonstra falhas graves e injustificáveis para um jogo com esta ambição.

Apesar de estar desenhado para o online e necessitar sempre de uma ligação aos servidores, Fallout 76 pode ser jogado a solo e inclui uma narrativa composta por missões lineares, missões secundárias e eventos, que, por vezes, podem contar com a companhia de outros jogadores aleatórios ou amigos a qualquer momento.

A falta de NPCs é substituída essencialmente por textos e notas que nos dão objetivos e indicações. Em vez de personagens com diálogos e trechos de cinemáticas, dirigimo-nos a computadores, corpos e restos de habitantes com notas nos bolsos e robôs com os quais podemos interagir.

A maioria das missões a que tive acesso mostraram-se simples, aborrecidas e desorientadas. Perceber o objetivo de algumas tornou-se mais complicadas do que o que se desejava e, na sua maioria, baseiam-se simplesmente na interação com uma máquina ou computador ou na sobrevivência a ondas de inimigos numa determinada área.

Fallout 76 está desenhado para ser um jogo de procura, apanha e modificação de itens, com poucas motivações para realmente avançar entre missões ou progredir.

A interação com outros jogadores também se mostra algo pobre. O mundo não é tão populado por outros jogadores como seria de esperar e todos aqueles com que tentei interagir preferiram ignorar-me e fazer os seus objetivos. Em momento algum senti que havia cooperação ou competição entre elementos e em nenhuma das missões ou explorações feitas durante as minhas horas de jogo senti a necessidade de ter alguém ao meu lado.

Jogadores de títulos anteriores da série, como Fallout 3, New Vegas e Fallout 4, podem sentir-se algo confortáveis com a jogabilidade e com a navegação nos menus, que, apesar do foco do jogo, mantêm-se virtualmente iguais. Infelizmente, isso também se demonstra um problema.

Num ambiente online, utilizar o Pip-Boy não é nada prático. A navegação entre menus requer prática e aprendizagem e, em momentos mais atarefados, como confrontos com inimigos, a gestão de itens é próxima do impossível. Enquanto mudamos de arma ou armadura, é fácil morrermos de um ataque ou de radiação do ambiente, o que se torna frustrante.

Fallout 76 02

Fallout 76 tem uma roda de seleção de ações e itens que, infelizmente, conta com alguma dificuldade na leitura e gestão deste sistema, acabando por nos fazer recorrer ao sistema arcaico do Pip-Boy.

Os combates em si também não são nada convidativos. O uso da terceira pessoa é praticamente indispensável, com o nosso avatar a ocupar uma porção significativa do ecrã, não nos dando sequer espaço para contemplar o que está à frente do jogador. Já na primeira pessoa os controlos são estáticos e arcaicos. Acertar num inimigo com uma arma de fogo ou de arremesso é uma autêntica aventura pelas piores razões.

Uma das mecânicas mais conhecidas na série Fallout é o V.A.T.S. (Vault-Tec Assisted Targeting System) introduzido em Fallout 3, que permitia ao jogador pausar o jogo em tempo real para escolher uma área do corpo do inimigo onde os seus ataques com armas de fogo pudessem ser mais eficazes.

Num ambiente online é impossível pausar o tempo, mas a Bethesda encontrou uma maneira de incluir uma nova versão deste sistema. Novamente, é algo que não é bem aplicado, uma vez que a mira, ao ser ativa, desloca-se automaticamente para uma das áreas do corpo do inimigo de uma forma tão estranha que nos faz falhar qualquer bala disparada logo a seguir por causa do balanço desse movimento.

Estas mecânicas e problemas são amplificados pelos problemas técnicos do jogo, como quebras de fluidez absurdas (na versão Xbox One é por vezes injogável), pausas de sincronização com os servidores e eventuais quedas que obrigam a regressar ao menu do jogo.

São também frequentes os momentos em que as personagens ficam congeladas durante o jogo sem que seja possível interagir com elas. Acontece várias vezes ficarmos com o ecrã preso durante dezenas de segundos enquanto se ouve o jogo a continuar e há um número de bugs e glitches hilariantes demasiado elevado para um jogo com estes níveis de produção, até mesmo para o que é normal vindo da Bethesda, que é conhecida e acarinhada pela comunidade por problemas destes.

Sendo um novo jogo da saga, lançado depois de Fallout 4, seria de esperar melhorias significativas a nível visual em Fallout 76. Recorrendo ao mesmo motor de jogo, o novo título é altamente inconsistente, não fazendo crer que estamos num jogo bem mais recente. Existe muita reciclagem de modelos, as áreas do jogo são aborrecidas e os ambientes escuros tornam o jogo impossível de ser jogado devido aos tons de preto esborratados. Jogar nos períodos de noite simplesmente não dá.

Fallout 76 – Official Trailer

Fallout 76 não é, no seu estado corrente, um bom jogo. Conta com um conceito ambicioso e parece ter sido produzido para uma porção muito especifica de fãs – os que gostariam de jogar um Fallout com amigos.

Infelizmente, apresenta-se desinspirado e com problemas técnicos que não serão do agrado de todos e com um desempenho que seria de esperar de um jogo em crowdfunding ou em early access, não de um jogo final.

A Bethesda promete continuar a trabalhar em Fallout 76, melhorando os seus problemas e adicionando-lhe conteúdo. Talvez seja um jogo bem melhor daqui a um ano, mas, para já, e para este Natal, infelizmente não se recomenda.

Fallout 76 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Fallout 76
Nota: 5/10

Este jogo foi cedido para análise pela Ecoplay.

David Fialho
David Fialhohttps://echoboomer.pt/
Licenciado em Comunicação e Multimédia, considero-me um apaixonado por tecnologias e novas formas de entretenimento. Sou editor de tecnologia e entretenimento no Echo Boomer, com um foco especial na área dos videojogos.
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