Endling: Extinction is Forever – Sobreviver contra todas as adversidades

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Uma história emocional é incapaz de colmatar a falta de criatividade e evolução numa jogabilidade com problemas de identidade.

O que seriam capazes de fazer para proteger a vossa família? Conseguiriam fazer os sacrifícios necessários para garantir o seu bem-estar? Até lutar até à morte se for necessário ou deixar de comer para lhes dar? Para qualquer pai, estas respostas são fáceis de responder. Todos queremos proteger quem amamos, mas surge sempre aquela dúvida, aquele zumzum incomodativo que nos faz pensar: e se não conseguirmos? E se não tivermos forças para o fazer? Endling: Extinction is Forever tenta colocar esta problemática em cima da mesa, transportando-nos para um futuro à beira do fim, marcado por um Humanidade que rouba mais à Natureza do que dá de volta, onde seguimos uma família de raposas a tentarem encontrar o seu lugar nesta realidade que já lhes é tão estranha.

Não será de estranhar que Endling: Extinction is Forever se assuma como uma experiência muito emocional. No papel de uma mãe raposa, a nossa missão não se restringe apenas à sobrevivência, mas também à proteção das nossas crias. A campanha começa com a nossa raposa ainda grávida, à procura de uma toca para dar à luz, e somos introduzidos a este mundo em destruição, já em queda, onde a vida parece ser o que menos lhe importa. Na toca, a mãe raposa dá à luz quatro crias, cujas cores podemos escolher livremente, que passarão a segui-la para todo o lado. A partir de agora, a nossa mãe tem um único objetivo: garantir a sobrevivência das suas crias. Para tal, terá de explorar a floresta e pântanos, evitar seres humanos e outros predadores, caçar e encontrar qualquer fonte de alimentação possível para os pequenotes manterem a sua energia.

No entanto, surge um problema: uma das crias é raptadas. Sem saber o que lhe aconteceu, a mãe raposa terá de seguir o seu odor e perceber onde está a sua cria, com esta busca incessante a construir o esqueleto da narrativa de Endling: Extinction is Forever. Esta busca não está, no entanto, sempre presente e regressa de forma faseada quando é necessária. Até lá, a ação resume-se a exploração, caça, furtividade e à descobertas de momentos secundários e únicos no seu mundo. Endling: Extinction is Forever assume uma perspetiva 2.5D, com o mapa a desdobrar-se em vários caminhos – alguns deles selados, outros apenas acessíveis pela nossa raposa e não pelos seus filhotes – que injetam alguma tridimensionalidade a estes cenários lineares. A narrativa é também intercalada pelo próprio crescimento das crias, que, apesar de ser fechado à progressão natural da história, adiciona alguns elementos interessantes na jogabilidade. Com a ajuda das crias, que aprendem com a mãe ao longo das 30 noites em que as seguimos, temos acesso a novas fontes de alimento, com os pequenos a conseguirem escavar, saltar ou a passarem por espaços estreitos.

Apesar da sua base emocional, o grande problema de Endling: Extinction is Forever é a sua ausência de um loop interessante na jogabilidade. Se, a nível dramático, esta história de sobrevivência consegue ser eficaz, muito através do seu retrato de uma mãe contra todas as adversidades, já nas mecânicas e nas tarefas que somos obrigados a aceitar torna-se monótono e perde rapidamente a verve com que tenta retratar a sua narrativa. Quando afastamos a história de uma mãe raposa e das suas crias, numa realidade à beira da extinção, onde as alterações climáticas são incontornáveis, encontramos um jogo que se resume a tarefas repetitivas enquanto aguardamos que a narrativa avance. A campanha divide-se por noites, momentos em que a mãe consegue explorar o mundo à sua volta e caçar na companhia das suas crias. Fora o confronto ocasional com humanos, como o caçador de peles e os trabalhadores da fábrica, este é foco de Endling: Extinction is Forever: explorar, caçar e esperar que a narrativa avance, existindo acontecimentos secundários muito pontuais, como a presença da mãe texugo ou de uma menina que nos ajuda.

Na verdade, Endling: Extinction is Forever é um jogo narrativo e não de exploração ou sobrevivência. As mecânicas e funcionalidades estão lá, como a barra de energia e de fome das nossas crias, mas o jogo disponibiliza tantos mantimentos e oportunidades de caça que rapidamente compreendemos que o desafio não está aí. Pela minha experiência, não tive sequer perto de perder uma das crias, até quando tive de me afastar delas por vários minutos, o que significa que a temática não está equilibrada com a jogabilidade – a não ser que tenha jogado tão bem que consegui estar sempre um passo à frente, e se foi isso, então o jogo é pouco exigente. A repetição estagna a jogabilidade e quebra a ilusão quando chegamos à segunda toca, onde a rotina se instala e compreendemos como o jogo irá funcionar até ao final. Compreendemos que a caça é demasiado automática e que a narrativa só avança quando encontramos o odor da nossa cria raptada, que nos leva a explorar áreas anteriormente inacessíveis. E por falar nestas zonas seladas, são outro limite narrativo imposto aos jogadores, já que só ficam disponíveis quando o jogo quer, mas nunca apresentam elementos narrativos ou mecânicos para justificarem a sua inacessibilidade horas antes. No entanto, é compreensível, visto que o mapa de Endling: Extinction is Forever é pequeno – e ainda bem que o é – e existem atalhos que podemos desbloquear se explorarmos.

O que se sobrepõe à jogabilidade e ao seu ritmo de “exploração e caça” é a narrativa visual e a evolução deste mundo à beira da extinção. O jogo nunca abandona a perspetiva da raposa e das suas crias e rejeita por completo uma história mais tradicional, com diálogos, um elenco de personagens regulares e momentos narrativos que revelem mais sobre esta realidade. Endling: Extinction is Forever conta a sua história visualmente e foca a ação em duas perspetivas: a mãe raposa que protege as suas crias enquanto procura a que foi raptada e o mundo que se transforma através da presença dos seres humanos. As florestas perdem as suas árvores, quando, minutos antes, conseguíamos encontrar animais e ninhos por todo o lado, deixando um rasto de destruição; os rios ficam repletos de lixo, abrindo novos caminhos, mas eliminando mais fontes de nutrição para as pequenas raposas; e a presença de humanos trabalhadores, caçadores e guardas intensifica a exploração e coloca-nos em maiores situações de perigo.

A desflorestação é um dos primeiros impactos emocionais de Endling: Extinction is Forever e apreciei a forma como a Herobeat Studios retratou a sua evolução ao longo das noites. É um crescendo eficaz, mas igualmente suave, com a presença humana a aumentar à medida que vemos mais e mais máquinas a cortarem árvores, ao ponto de ficarmos apenas com a terra lamacenta daquilo que era um microcosmo repleto de vida. Das florestas, rios, pântanos nascem bairros de lata, compostos por barracas empobrecidas e de madeira velha, rodeadas de lixo, cartazes de greves e vidas enganadas pela “mentira do progresso”. A mensagem é óbvia, mas a sua metodologia é eficaz para o formato deste videojogo, criando ambiência através das mudanças visuais dos cenários e conseguindo adicionar um desafio maior ao limitar os mantimentos da mãe raposa.

Mas até a narrativa visual tem os seus limites. Infelizmente, Endling: Extinction is Forever embica num ritmo e estrutura que pouco trabalham as suas temáticas. É um jogo demasiado repetitivo e desprovido de desafio para tentar simular uma experiência próxima à sobrevivência. Até o sistema climático pouco adiciona ao jogo, com a chuva a ser meramente decorativa e sem peso na jogabilidade ou nas tarefas da nossa raposa. Basicamente, é um jogo de ilusões que força uma narrativa emocional através dos seus protagonistas de quatro patas, possuindo alguma crítica à nossa realidade atual, mas sem nunca conseguir ter um efeito prático quando passamos para a jogabilidade. É uma oportunidade perdida, ainda que acredite que terá os seus fãs.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Dead Good Media.

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