Demon Turf – Uma experiência tão diferente como familiar, num mundo de demónios e graffiti

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Com uma perspetiva invulgar no género, o título da Fabraz traz consigo um best-of de mecânicas e decisões de design que irão conquistar os fãs de aventura e plataformas.

É difícil inovar dentro do género de aventuras e plataformas. A estrutura é (quase) imutável, no sentido em que temos uma variante entre níveis abertos e fases mais curtas que podem ser entre-cortadas por cenários mais extensos e exploráveis, onde o foco mantém-se em plataformas desafiantes, combates ocasionais e missões secundárias ou colecionáveis para descobrirmos. Demon Turf, da Fabraz, não foge a este modelo, aliás, acaba por encapsular todos os elementos que descrevi anteriormente, mas há uma tentativa honesta em dar aos fãs do género uma experiência diferente. Apesar de falhar nessa busca por originalidade, que também pode ser confundida com uma homenagem aos melhores títulos do género, Demon Turf é um título muito completo, diferente e divertido.

O foco no humor e nas suas personagens irreverentes tornam a campanha de Demon Turf numa ode ao género. A Fabraz afastou-se dos cenários idílicos, dos campos verdejantes e das personagens amistosas e apostou no seu inverso, transportando-nos para um mundo de demónios onde a cultura pop e urbana se misturam de tal forma que parecem levar-nos diretamente para 2001. Como Beebz, a nossa missão é derrotar os restantes demónios e conquistar os seus territórios em batalhas divertidas que envolvem vários níveis, colecionáveis e uma busca por pilhas, à medida que nos preparamos para enfrentar o temível Demon King numa batalha final e conquistar o nosso lugar como Rainha dos Demónios.

A estrutura de Demon Turf é muito próxima aos melhores do género e traz-nos um HUB principal, sob a forma da Forktown, onde temos à nossa disposição várias personagens, missões secundárias – como uma arena de combate, uma loja de fotografia e ainda vários níveis que relembram os desafios de Super Mario Sunshine – e portais para novas zonas. A campanha constrói-se a partir desta cidade em formato reduzido e multiplica-se por HUB mais pequenos, mas que apresentam os níveis do jogo, onde encontramos a experiência tradicional do género de aventura e plataformas. Cada zona tem oito níveis, incluindo uma batalha contra o boss, que oferecem vários desafios, desde plataformas movíveis até a saltos que parecem anteriormente impossíveis para descobrirmos todos os segredos escondidos.

Apesar de oferecer várias distrações, ao ponto de ser inicialmente intimidante, Demon Turf destaca-se sempre como um jogo de plataformas e não o contrário. Os níveis apresentam a longevidade certa, nunca abusando da sua estadia, e constroem-se através de cenários maioritariamente verticais, onde basta um deslize para perdermos o progresso conquistado até ali. O jogo não é fácil, apesar de não apresentar um sistema de vidas, e algumas sequências exigem alguma concentração e destreza, mas compensa esta aposta no desafio ao oferecer aos jogadores a possibilidade de estabelecer os seus próprios checkpoints. Com três bandeiras à sua disposição, poderão posicioná-las onde quiserem e garantir que não são obrigados a regressar ao início do nível. Este sistema não corta, no entanto, o desafio ao meio, pois continuamos a ter um limite e a ter de o gerir se quisermos reposicionar os checkpoints nos níveis mais extensos.

A dificuldade de Demon Turf também é suavizada através da jogabilidade sólida, que nos traz várias mecânicas tradicionais do género. Se jogaram Super Mario 64, de certeza que se vão sentir em casa, pois Beebz é capaz de usar praticamente as mesmas habilidades, como o triplo salto, o salto lateral e até o wall jump. Estes movimentos são muito intuitivos e requerem que os consigamos combinar para que possamos ultrapassar alguns dos desafios e saltos mais complexos. Demon Turf não fica apenas por este leque de habilidades e expande as capacidades de Beebz ao adicionar movimentos mais avançados, como o planar e o super salto, mas também novas ferramentas e armas, como o gancho, que dá à jogabilidade uma maior versatilidade sem nunca se desviar demasiado do que torna o género tão acessível e divertido. É clássico, sem dúvida, mas é a melhor aposta para um título desta natureza, até porque se apresenta num formato mais moderno ao apostar fortemente em missões secundárias, mas também em versões alternativas e mais desafiantes dos níveis da campanha após derrotarmos o boss de cada zona.

Mas Demon Turf acaba por cheirar a novo porque se apresenta através de um estilo visual diferente, desenhado e animado à mão – o que dá às suas personagens uma maior personalidade e vivacidade –, mas também pela sua perspetiva. Ao contrário de outros títulos do género, acompanhamos as aventuras de Beebz através de uma perspetiva por detrás das suas costas, mas com a câmara a ficar muito mais próxima da nossa protagonista, ao ponto de ser ocasionalmente difícil ver os cenários do jogo. É uma escolha interessante e que me relembra, curiosamente, o experimentalismo da década de 1990, mas que encaixa perfeitamente no design de Demon Turf. A Fabraz evita a maioria dos problemas associados à perspetiva e consegue manter a jogabilidade divertida e pouco frustrante ao conseguir manter a visão dos jogadores mais livre entre saltos. É importante seguirmos a sombra de Beebz para sabermos onde vamos cair, mas raramente senti que as distâncias eram impercetíveis ou injustas.

Apesar de funcionar, senti que a perspetiva criou alguns problemas incontornáveis. Se os saltos são sólidos e a navegação entre plataformas mantém-se maioritariamente intuitiva, o mesmo não se pode dizer do combate, que perde muito do seu dinamismo ao reduzir-se a ataques insatisfatórios – representados, na sua maioria, por projéteis em forma de mão – e a arenas restritas, onde só podemos eliminar os nossos inimigos ao atirá-los para fora dos cenários ou a empurrá-los para picos vermelhos. Esta falta de variedade é, na minha opinião, um reflexo da perspetiva porque limita as ações possíveis em jogo. O mesmo acontece na ausência de combinações entre habilidades, uma escolha compreensível, mas igualmente enervante. Em Demon Turf, só podemos combinar saltos, como um wall jump ou o duplo salto, se não tivermos planado antes. Isto porque Beebz transforma-se num pequeno demónio quando plana, o que limita o número de habilidades que pode utilizar. Com este limite, basta esquecermo-nos para cairmos nos precipícios dos níveis, sem possibilidade de pararmos o nosso destino. Estes limites são muito sufocantes, ainda que se suavizem ao longo da campanha.

Demon Turf exige algum hábito devido à perspetiva e ao sistema de combate, mas é um jogo de plataformas muito divertido e repleto de conteúdos. Com várias zonas, níveis e missões, a aventura de Beebz é tudo menos pequena, especialmente se equacionarmos as novas versões dos níveis e ainda os troféus de melhores tempos. Há muito para fazer neste mundo de demónios e, se vierem pela aventura e plataformas, acredito que fiquem pelo humor, a arte e a banda sonora dinâmica. É um pacote completo e mais um diamante em bruto para este final de ano.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Renaissance PR.

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