Análise – Ary and the Secret of Seasons

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Uma aventura pelas estações do ano.

Ary and the Secret of Seasons

Existe algo de mágico num jogo de aventuras, nos seus mundos extensos e exploráveis, nos puzzles e nas mecânicas limadas que nos levam muitas vezes a enfrentar impérios maldosos, feiticeiros milenares ou as próprias forças da natureza. A fórmula é clássica, composta por uma viagem do herói, e existe sempre uma aposta numa estrutura onde a narrativa e a exploração se unem. No entanto, tudo pode cair por terra se os elementos não estiverem num equilíbrio perfeito e no caso de Ary and the Secret of Seasons, o seu desempenho e imaginação.

Como Ary, temos uma missão hercúlea pela frente. Num mundo onde as estações do ano estão em colapso, a jovem tem de ajudar a família e a sua aldeia à medida que tenta descobrir o paradeiro do seu irmão mais velho. Ary é destemida, muito cómica e com um brilho reconfortante nos olhos que lhe dá uma energia sobre-humana. Mesmo contra todas as adversidades, a jovem não hesita e aventura-se por um mundo à beira do fim, repleto de hienas, puzzles e mistérios, tornando-se num dos destaques da campanha deste jogo problemático.

A aventura leva Ary a explorar várias zonas distintas, interligadas por um mapa extenso, onde poderá descobrir novos aliados, missões secundárias, acessórios e armas que lhe permitem continuar a lutar. Ary and the Secret of Seasons é um típico jogo de aventura e transmite uma aura de nostalgia que nos transporta diretamente para a era da PS2, de Jak & Daxter e de Okami. O mundo é muito colorido, as personagens não são meros cartões de papel e servem sempre um propósito, e a progressão mantém-nos agarrada à sua jogabilidade que mistura ação com elementos RPG.

Infelizmente, Ary and the Secret of Seasons só se destaca pela sua mecânica de alteração das estações do ano, com o combate a ser muito básico – apesar de apresentar um contra-ataque, um botão de desvio e melhorias para os atributos de Ary – e o desempenho a prejudicar constantemente a nossa aventura.

Mas vamos primeiro ao positivo. O grande destaque de Ary and the Secret of Seasons é a sua aposta na manipulação do tempo e das suas estações. Através de amuletos mágicos, Ary consegue invocar, numa área limitada, uma das quatros estações, alterando os cenários à sua volta. Esta mecânica ganha vida nos puzzles e nas masmorras da campanha, muito à semelhança de The Legend of Zelda, onde podemos manipular objetos e os cenários para conseguirmos chegar a um baú ou à saída. Imaginem que têm o poder do inverno e que a masmorra está livre de gelo e numa primavera perpétua. Com o amuleto, Ary consegue congelar a água e os inimigos para criar plataformas que lhe permitem avançar. As alterações visuais têm sempre impacto e é surpreendente ver como as masmorras mudam de estação para estação.

Ary and the Secret of Seasons

Os quebra-cabeças não são muito desafiantes e muito deles requerem apenas alguma destreza e o timing certo, mas há uma progressão interessante ao longo das masmorras que consegue encontrar um equilíbrio entre uma aventura para os mais novos e os desafios ideais para os jogadores experientes no género. Para além dos amuletos, Ary pode utilizar amplificadores que exponenciam o poder das estações e funcionam numa área mais extensa. Estes objetos estão no centro de muitos dos puzzles e permitem uma maior combinação dos poderes. No entanto, são limitados, aparecendo só em locais específicos dos mapas, e a sua utilização é previsível, juntamente com a dificuldade reduzida dos puzzles e a linearidade das masmorras.

Nos melhores momentos, Ary and the Secret of Seasons é um competente jogo de aventuras com uma aura nostálgica que quase se assemelha a um filme de animação, com um mundo livre e várias localizações para descobrirmos ao longo de 5 a 10 horas. Nos piores momentos, é um desastre técnico, apresentando um desempenho repleto de soluços, bugs visuais, animações robóticas e uma falta de qualidade alarmante. Apesar da sua aposta na exploração, o mundo é pouco apelativo, a jogabilidade flutua entre a solidez de um jogo de plataformas e a falta de controlo de uma produção de baixo orçamento, com Ary a ficar presa nos cenários, os saltos a serem pouco precisos e o combate a relegar-se quase exclusivamente a um botão.

O desempenho é o maior transtorno deste jogo e custa ver o quanto prejudica a nossa experiência ao longo da campanha. Encontrei falhas nos cenários que me permitiram, por exemplo, nadar debaixo de um lago gelado apenas porque a produtora se esqueceu de preencher o lago na totalidade. Os modelos das personagens são tão assustadores que se cria uma sensação de estranheza, com alguns NPCs a rivalizarem o que vimos em Skylight Freerange 2: Gachduine. Não quero ser injusto, mas é uma pena, especialmente quando Ary é uma personagem tão adorável, mas acaba por destoar num mundo que quer ser um desenho animado e que acaba por ser uma produção direta para vídeo. E à medida que exploramos e encontramos cenários limitados, alguns deles que parecem estar inacabados, e repletos de problemas técnicos, a nossa vontade vai diminuindo e ficamos cansados. Muitos de vocês não vão chegar ao final.

Terá sido ambição a mais? Problemas de produção? Não sei o que levou Ary and the Secret of Seasons a ser uma aventura tão desnivelada, mas é uma pena. Esta estrutura clássica, o seu mundo interligado e a aposta em masmorras é uma fórmula vencedora, e a eXiin quase conseguiu atingir esse patamar, mas tropeçou no desempenho. É uma pena, mas existem ainda momentos de criatividade e a alteração entre as estações do ano, em qualquer parte do mundo, é sempre interessante de ver. Faltou mais alma.

Nota: Satisfatorio

Plataformas: PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Dead Good Media.

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