Um dos jogos mais aclamados da Remedy Entertainment regressa uma década depois às consolas modernas com uma muito necessária atualização visual.
Falar de relançamentos de jogos, sejam conversões, novas edições ou, como neste caso com Alan Wake Remastered, remasterizações muito focadas numa atualização visual, não é propriamente interessante.
Por muito emocionante que seja o regresso de Alan Wake Remastered, que chega às consolas modernas da Xbox e pela primeira vez às consolas PlayStation, a verdade é que a sua história, os seus eventos e o impacto cultural deste clássico inspirado em contos de Stephen King e na lendária série de David Lynch, Twin Peaks, já são todos conhecidos o suficiente para Alan Wake se escusar de qualquer apresentação, ou descrição, do que é o seu aclamado e importante jogo.
Ainda assim, passo a explicar. Dos criadores de Max Payne, Quantum Break e Control, Alan Wake marcou uma geração por vários motivos. Lançado como um dos grandes exclusivos da Xbox 360, apresentou-se como uma experiência bem mais narrativa que os restantes jogos do portfólio do estúdio finlandês, com uma jogabilidade acessível e desafiante que misturava um sistema de tiro simples e o uso de uma lanterna para eliminar inimigos. Porém, mais importante que isso, marcou pela sua jornada misteriosa em formato quase episódico pela busca dos segredos de Bright Falls, uma cidade remota norte-americana que é misteriosamente invadida pela escuridão.
Com a sua história narrada pelo próprio Alan Wake enquanto a narrativa avança, o jogo apresenta uma experiência quase meta, onde as ações do autor já foram, na verdade, escritas pelo mesmo, com ele próprio consciente de tal facto, mas deixando os jogadores curiosos com os porquês. Mistério, tensão, um toque de horror cósmico e um final que ainda hoje faz com que a comunidade se sente à mesa para discutir o que aconteceu, são tudo ingredientes de uma experiência única que muitos de nós queremos ver continuar numa futura e hipotética sequela.
Alan Wake Remastered surge agora em jeitos de teasing do que a Remedy Entertainment poderá guardar para o futuro, mas enquanto não o revela, os fãs revisitam e os que nunca tiveram a oportunidade de o fazer podem agora conhecer o jogo de culto.
Através dos comentários de direção que podem ser ativados no menu desta versão, Sam Lake explica muito sucintamente aquilo que nos espera: uma remasterização. Alan Wake Remastered não é um remake, nem sequer um reboot. É exatamente aquilo que diz no seu título, o mesmo jogo aumentado. Basicamente: Alan Wake, agora em HD.
É exatamente o mesmo jogo de 2010, sem tirar nem por. Não há novos extras para além dos dois capítulos lançados posteriormente que agora fazem parte do pacote, não há modos fotografia, nada de essencialmente transformatório à parte dos visuais atualizados de forma muito ao de leve.
“Alan Wake, agora em HD” é a melhor forma que tenho de descrever esta experiência. Colocando de parte a versão de PC lançada posteriormente, onde os jogadores podiam usar as suas máquinas pessoais para ter uma experiência visualmente mais agradável, a versão da Xbox 360 Alan Wake era ambiciosa, mas muito feia. Talvez na altura não fosse tão claro, mas a verdade é que envelheceu imensamente mal, com o jogo original a correr a resoluções abaixo dos 720p e, por muitas vezes, abaixo dos 30fps, algo que não mudou nem com os sistemas de retrocompatibilidade da Xbox One X e Xbox Series X|S. Uma nova versão era mesmo necessária.
Ao longo destes últimos 10 anos, foram várias as vezes que tentei revisitar Alan Wake e tal não foi possível, muito por causa da sua apresentação… Até agora. Comparativamente ao Alan Wake original, Alan Wake Remastered apresenta uma diferença de dia e noite. Na Xbox Series X, onde tive a oportunidade de o jogar, a remasterização é uma concretização precisa e exata daquilo que se imaginaria de Alan Wake na sua melhor forma. A qualidade de imagem é perfeita e a fluidez acompanha a experiência a 60fps.
Fosse o meu carinho semelhante ao que tive por outros jogos da sua época, que esta ano também receberam remasterizações, como por exemplo Mass Effect Legendary Edition, teria ficado completamente em pulgas e com imensa vontade de mergulhar nos segredos de Bright Falls, mas tal não aconteceu. Muito porque o mistério que o jogo guarda já o conheço e a sua natureza linear traz uma experiência de jogo semelhante à de re-visualização de uma série ou de um filme. Pessoalmente, já não é tão emocionante.
Além disso, esta atualização não é a mais consistente com as promessas que nos fez. A Remedy Entertainment indica que a nova versão conta com novos modelos de personagens, ambientes mais densos, motion capture melhorado, etc… E sim, de facto é possível observar os níveis com mais elementos, algo que saltou logo à vista no primeiro nível do jogo assim que controlamos Alan e ao fundo da ponte, antes de apanhar o primeiro colecionável, onde temos mais sinais e barreiras.
Quanto ao resto, é muito difícil de apontar o dedo sem uma comparação direta mesmo lado a lado. As cinemáticas continuam dirigidas da mesma maneira, plano a plano, mas as pessoas apresentadas são, na sua maioria, as mesmas, salvo raras exceções, pois os modelos foram retrabalhados, como por exemplo Alan a parecer-se mais com a sua contraparte humana, o ator que lhe dá a cara, Ilkka Villi. Contudo, estas alterações revelam ainda mais a idade do jogo, através de um voice acting honestamente medíocre (à parte da narração de Alan e das conversas com o seu amigo Barry), das cinemáticas que continuam bloqueadas a 30fps e pelas animações no geral, incluindo NPCs no decorrer do jogo, que são claramente de outra era, apresentando-se robóticas e pouco naturais.
Não quer dizer que Alan Wake Remastered não se sinta como um jogo atual, porque é efetivamente um jogo atual. Tal está presente na sua jogabilidade simples e satisfatória, que curiosamente se comporta tal e qual como o título original, provando, de alguma forma, que Alan Wake foi um jogo um pouco a frente do seu tempo.
Seja a primeira, a segunda ou a enésima vez que visitamos Alan Wake, a sua versão remasterizada sente-se como uma edição definitiva, algo que era muito pedido pela comunidade, especialmente dada a ausência de novidades da série e depois do crossover que teve em Control. É uma pérola imperfeita, mas mais polida do que nunca, que merece ser experienciada agora enquanto a Remedy Entertainment não expande o seu universo, até porque Alan Wake andou pela escuridão, para que Control e Quantum Break corressem explosivamente.
Cópia para análise (versão Xbox) cedida pela Remedy Entertainment.