Viajem até à China Medieval numa busca por vingança e muita ação.
Com a idade, consigo reparar que fico mais fascinado com a simplicidade, com os designs minimalistas e com as mecânicas aprumadas e artificialidades. Começo a adorar projetos que são “o que são”, sem ideias mirabolantes, grandes conceitos – que muitas vezes ficam aquém do esperado – ou a necessidade canibalesca de adicionar mais elementos à jogabilidade. Este ano, tenho descoberto produções independentes que desafiam este amor crescente e 9 Monkeys of Shaolin é mais um excelente exemplo de “menos é mais”.
A Sobaka Studio trouxe-nos um beat’em up puro e duro, onde o foco no combate intenso é o seu grande destaque. Através de cinco capítulos e de múltiplos níveis, embarcamos numa viagem em busca de vingança, mas encontramos uma demanda pessoal e de crescimento pessoal à medida que o nosso herói, um simples pescador, se junta a um clã de monges e descobre a sua vocação para as artes marciais. A estória é muito simples e não é, de todo, o foco do jogo, mas achei muito interessante a vontade da Sobaka Studio em evoluir o seu protagonista através dos cinco capítulos, demonstrando como se desenvolve fisicamente e moralmente ao longo da campanha. Um pequeno toque para um jogo que é muito mais assente na sua jogabilidade
Em combate, 9 Monkeys of Shaolin domina as combinações rápidas, os ataques leves e mais pesados e ainda um desvio fluído e intuito que vos salvará de algumas situações de risco. Com um formato semelhante a outros clássicos do género, onde a linearidade dos níveis é complementada por hordas de inimigos e a possibilidade de recolhermos vários itens – como chás, que nos podem curar, dar mais pontos de defesa ou aumentar a nossa agressividade –, 9 Monkeys of the Shaolin aprofunda as suas mecânicas com um leque de adversários competentes que desafiam constantemente a nossa destreza em jogo. Sejam guerreiros com armaduras, que só poderão ser atordoados com ataques pesados, ou arqueiros, que podemos refletir os seus ataques para devolver as setas e balas, os inimigos complementam-se perfeitamente e dão ao jogo uma dificuldade sempre presente, nunca injusta, e que nos obriga a alternar entre ataques e poderes regularmente.
Apesar do seu foco em mecânicas mais tradicionais, este beat’em up apresenta algumas influências do género RPG no seu sistema de evolução e na forma como gerimos o equipamento do protagonista. Ao contrário de títulos como Streets of Rage ou Golden Axe, aqui podemos melhorar o nosso guerreiro do Shaolin através de várias árvores de atributos que desbloqueiam mais pontos de ataque e defesa, mas também novas habilidades. Estes pontos de experiência servem de recompensa sempre que concluímos um dos níveis e podem ser utilizados entre missões quando regressamos ao HUB do jogo. O mesmo acontece com os equipamentos, com o nosso arsenal de lanças e acessórios, que também podemos equipar antes de nos lançarmos numa missão.
É um pequeno toque e 9 Monkeys of Shaolin nunca chega a ser verdadeiramente profundo, mas a sensação de evolução, que é complementada pela própria narrativa, dá-lhe a ilusão de complexidade. Os equipamentos também não são descartáveis, cada peça tem as suas vantagens – passivas e ativas –, o que faz com que este sistema supostamente minimalista ganhe uma nova dimensão na prática.
A profundidade de 9 Monkeys of Shaolin pode não estar presente no sistema de progressão, mas está certamente no combate e nas habilidades que temos à nossa disposição. Se começamos com um leque limitado de ataques rápidos e pesados, rapidamente temos acesso a combinações mais destrutivas e a magias que nos ajudam a controlar os grupos de inimigos. Estas habilidades, que desbloqueamos ao longo da campanha, dependem de Qi, ou da energia do nosso protagonista, e obrigam a uma gestão de recursos sempre que as quisermos utilizar. No entanto, nunca senti que o jogo me estava a tirar controlo sobre estes poderes e com alguma calma, pude sempre utilizar o que queria quando queria.
No início, duvidei da profundidade do jogo. Faltava algo na jogabilidade, algo mais interessante a nível mecânico e que me obrigasse a combinar ataques e poderes de uma forma satisfatória. Faltava diversão. Os gráficos, num primeiro contacto, também não facilitaram, juntamente com alguns problemas de desempenho e bugs, mas quando 9 Monkeys of Shaolin começou a apresentar os seus trunfos, vi-me agarrado ao comando e não consegui largar. Senti um sorriso a formar-se à medida que avançava pelos cinco capítulos sem sentir um pingo de cansaço ou tédio.
Vi-me, por exemplo, a aperceber-me que podia combinar o pontapé para encurtar a distância com os inimigos, a puxá-los para mim – graças ao Qi – e a disferir uma combinação rápida (com R2 e triângulo), ao mesmo tempo que os paralisava no ar e concentrava o meu poder num só golpe pesado. Tudo isto sem paragens e sem perder o controlo, com a fluidez e a resposta dos comandos a permitir esta sucessão rápida de ataques e magias.
No entanto, o jogo nunca deixou de ser desafiante, até mesmo com todas estas opções, e isso é graças à variedade de inimigos e à sua agressividade em combate (ainda que a IA fique aquém do esperado).
A linearidade da campanha também é desafiada pela possibilidade de escolhermos quais as missões que queremos completar. Entre momentos narrativos, temos sempre dois ou três caminhos que podemos seguir que nos levam para cenários totalmente diferentes, tal como as recompensas que ganhamos no final de cada nível. Há sempre uma escolha que temos de fazer e sentimos que temos algum controlo sobre a progressão da campanha, mas esse controlo acaba por ser ilusório. Isto porque podemos concluir os níveis que não escolhemos à posteriori e como missões secundárias, eliminando assim o peso da escolha.
Contudo, tenho de sublinhar a variedade de níveis e de cenários que encontramos ao longo da campanha. Nunca sentimos que estamos a revisitar constantemente as mesmas zonas e há uma progressão física à medida que os monges viajam em busca dos seus adversários.
Com uma duração média de cinco horas e com a possibilidade de repetirem missões e de se aventurarem pelas dificuldades mais desafiantes, 9 Monkeys of Shaolin nunca desperdiça o vosso tempo. Os níveis curtos, mas variados, mantém-nos presos à campanha e existe uma sensação de “só mais um” à medida que avançamos pela estória. A nível visual, peca muito pela fidelidade gráfica e, apesar da variedade de cenários, é um jogo pobre com modelos pouco expressivos e vivos.
Mas não se deixem influenciar pelos gráficos e pela banda sonora genérica: se são fãs do género, 9 Monkeys of Shaolin é uma excelente experiência.
Plataformas: PC, PlayStation4, Xbox One e Nintendo Switch
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Dead Good Media.