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Maio foi o mês mais curto do ano no que toca a álbuns, mas trouxe alguns regressos interessantes.

Desses regressos temos BC Camplight, no seu primeiro álbum pós-trilogia de Manchester, mas a estadia vai ser de curta duração. Durand Jones também está de volta, mas deste vez sem a banda que o acompanhou durante alguns anos, para uma nova experiência. Também de regresso estão SBTRKT e The Lemon Twigs com algumas novidades interessantes.

Nota especial para a estreia de Hannah Jadagu, que promete mundos e fundos ao universo Indie Pop, e para o álbum extremamente agradável de Alex Lahey, artista com que abro a lista de álbuns essenciais de maio.

Alex Lahey – The Answer Is Always Yes

Alex Lahey The Answer Is Always Yes

Género: Indie Rock/Indie Pop

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Alex Lahey sempre foi uma artista cool e, depois de dois álbuns repletos de abordagens e sons mais crus e ousados, Lahey dá a volta sob a premissa que, neste álbum, decidiu examinar as suas relações passadas e decompor o sentimento que a envolvia ao ver as suas ex-parceiras seguir em frente.

The Answer Is Always Yes diz muito sobre ele próprio, dado que é um álbum repleto de confiança, cujas letras são bastante acessíveis, maioritariamente sobre temas do dia-a-dia facilmente relacionáveis.

Diria que, para aquela malta que procura sempre um álbum para ouvir nas viagens de carro de vidro aberto ou naqueles fins de tarde de verão a relaxar enquanto o sol se põe, este é a adição que aconselho fazerem à vossa rotação de música, em 2023.

Ser o álbum mais acessível a nível de escrita também tem as suas desvantagens, dado que Lahey consegue caprichar mais do que isto, e a composição instrumental é mais contida e relaxante, mas a mensagem é clara. De “Good Times” a “The Message Is Always Yes”, a setlist percorre uma série de emoções, deixando uma sensação de alegria pela força e postura de Lahey face ao eventos da sua vida.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Congratulations
> The Sky Is Melting
> On The Way Down
> They Wouldn’t Let Me In
> The Answer Is Always Yes

Arlo Parks – My Soft Machine

Arlo Parks My Soft Machine

Género: Indie Pop

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Confesso que estava à espera de muito mais depois do clássico instantâneo que foi Collapsed In Sunbeams (2021) e, para ser sincero, estive indeciso se valeria a pena falar sobre My Soft Machine ou se só o deixava com nota na secção de “Outros álbuns a ouvir”. Já depois de começar o artigo, fui pescá-lo.

Arlo Parks é uma artista muito completa, com uma escrita sempre sincera e com imenso para oferecer, com sonoridades serenas e abordagens que a permitem chegar tanto a ouvintes de música mais genérica como àqueles que procuram novos álbuns relacionáveis para ouvir. Com este trabalho a intenção parece clara: jogar pelo seguro e continuar a agradar a todos.

O problema é que, por detrás da emoção e sinceridade, sinto que há um pingo de intenção em não mudar nada, para continuar a envolver quem gostou do primeiro álbum e cativar quem o “falhou”. Isto faz com que My Soft Machine seja um alongamento do álbum de estreia, com muito “mais do mesmo”.

Com exceção de “Devotion”, que é o maior risco calculado da dúzia de músicas que nos oferece e mais um par de músicas mais cativantes na abertura do álbum, há muita monotonia ao longo do álbum que não fazem, de todo, justiça à habilidade lírica de Parks, que merece ser explorada.

Inevitavelmente, se não estivermos a tomar atenção ao conteúdo lírico que explora os altos e baixos do início dos 20 anos, o álbum passa a voar e fica a sensação que estamos a ouvir uma única canção de embalar de dezenas de minutos.

Por norma, considero que Phoebe Bridgers consegue fazer de uma música simples algo mais, mas em “Pegasus” (claramente a faixa mais calculista deste álbum), Bridgers foi tão mal empregue que estar ou não estar não fazia diferença. E eu sou fã dela.

Como disse inicialmente, considero Arlo Parks uma ótima artista. E este álbum é bom, mas para segundo álbum de carreira, apontar para o “bom”, repetindo todas as fórmulas de Collapsed In Sunbeams de forma menos caprichada, não é suficiente.

Aprecio este sentimento de plenitude, mas é altura da artista explorar novas vertentes e expandir o seu alcance musical. Diria que as faixas presentes em My Soft Machine são material para 4º ou 5º álbum.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Impurities
> Devotion
> Blades
> Weightless

BC Camplight – The Last Rotation of Earth

BC Camplight The Last Rotation of Earth

Género: Art Rock

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Depois de, em 2020, ter completado a sua pretendida trilogia, Brian Christinzio descansou. Seria de esperar um regresso, e The Last Rotation of Earth não só marca o regresso de um artista que consegue dobrar regras de inúmeros géneros musicais em favor da sua arte muito ímpar, como marca a sua despedida – irónico o título do álbum, que bate certo com a intenção por detrás dele.

Os arranjos pouco convencionais serão sempre difíceis de assimilar, mas a verdade é que, dentro do Art Rock, BC Camplight já tem o seu espacinho especial. Para este álbum, fechada a trilogia, confesso que esperava outra direção a nível lírico. No entanto, mais do mesmo nunca é demais, quando há qualidade na escrita – ainda que envolto em melodrama e detalhes trágicos.

Este álbum não está ao nível de Shortly After Takeoff, mas não lhe deve muito, podendo ser definido como curto e grosso. Caso seja uma despedida (espero que não), Christinzio sai pela porta grande, com direito ao merecido descanso, desta vez perpétuo.

“She pour a glass of wine, hands another one to me
Says “Brian, I’ll miss you”
I said “Now I know what you mean”
And then I see my dog, he’s packing up my things
He says “I’ll take it from here, I hope you land on your feet”


Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> The Last Rotation of Earth
> The Movie
> Kicking Up A Fuss
> Going Out On a Low Note

billy woods & Kenny Segal – Maps

billy woods Maps

Género: Hip-Hop

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Longe da ribalta e holofotes, longe de sonoridades dançantes e temáticas simples e efémeras, há toda uma escola de rappers da velha guarda que exploram o cerne do coração do Hip-Hop. O Hip-Hop é isto, é dança, é estilo, é skateboard & bmx, é parkour, é graffiti e muito mais, mas só pode ser isso se tiver a atitude que o transmite, e com Maps temos Hip-Hop no seu estado mais puro de ritmo e poesia.

billy woods e Kenny Segal, já com um par de décadas de experiência no panorama mais underground, usam a simbiose desta colaboração para fazer fluir uma energia radiante para uma narrativa quase literária, que dá vida a este trabalho e capta espírito do estilo (e género) de forma irrepreensível.

Ainda que seja o álbum mais acessível de ambos os artistas até à data, Maps não é para toda a gente. Ainda assim, é um álbum recompensador para que mergulha nele e consegue absorver o que o torna especial.

Às vezes, quando ouço músicas de determinado género, questiono-me da longevidade que este pode ter. Depois de ouvir este álbum, não tenho dúvidas que o Hip-Hop será sempre intemporal graças a esta variante recheada de autenticidade, que vai ter sempre alguém que se identifica por praticar uma das vertentes desta rica forma de viver a vida.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Soft Landing
> Rapper Weed
> The Layover
> FaceTime (ft. Samuel T. Herring)
> Houdini

Durand Jones – Wait Til I Get Over

Durand Jones Wait Til I Get Over

Género: Soul

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Depois de um punhado de anos a partilhar nome próprio com os The Indicators, que com Private Space (2021) elevou esta colaboração a outro nível, Durand Jones decidiu iniciar carreira a solo.
Durand Jones afasta-se dos brilhos nostálgicos do contemporary R&B do último álbum (com toques de Disco do Funk) e atira-se de cabeça e alma ao Soul, que, caso fosse um desporto olímpico, seria nota quase perfeita.

Wait Til I Get Over é, por vários motivos, um sinal positivo que joga a favor do artista. Primeiro porque este levou o conceito de álbum a solo à letra, de tão íntimo que é. Depois veio defender o porquê de até à data ser Durand Jones & The Indicators e não outro nome qualquer & The Indicators, por via de uma versatilidade musical surpreendente.

Resta saber se, no próximo álbum com a banda, se mantém a tendência definida por Private Space, ou se teremos mais de Wait Til I Get Over. Seja qual for a decisão, será um tiro certeiro com certeza, visto que as influências da banda são de alto nível e Durand Jones tem o talento e alma para fazer tudo funcionar de forma oleada.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Lord Have Mercy
> Sadie
> That Feeling
> See It Through

Hannah Jadagu – Aperture

Hannah Jadagu Aperture 1

Género: Indie Pop

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Sinto que este álbum está a ter menos atenção do que merece, até porque Hannah Jadagu tem dado todos os passos certos para conseguir sucesso imediato. Mas para terem uma noção, eis um pouco de contexto com um timeline que se estendeu ao longo de menos de quatro anos.

Em 2020, Hannah Jadagu mudou-se do Texas para Nova Iorque para estudar “music business”, mas, no espaço de um ano, tudo mudou radicalmente.

Em 2021 lançou o seu primeiro EP, What’s Going On, gravado inteiramente na app Garage Band do seu iPhone 7, que foi partilhado na NPR Music, e no final desse ano estava em tour com os Wild Nothing e os Beach Fossil. Durante a tour, lançou “All My Time Is Wasting” que fez parte do soundtrack da série Naomi.

Em 2022 começou a chamar a atenção de meios de comunicação e, nesse mesmo ano, fez parte do alinhamento do festival Pitchfork Music Festival London 2022, partilhando o palco com nomes como Black Country New Road, Courtney Barnett, Faye Webster ou Jenny Hval.

Este ano começou e escrever Aperture, que se suporta na experiência e ponto de vista de Jadagu com a entrada na casa dos 20s. Pelas palavras da própria, “com uma pessoa jovem, hoje em dia, tens de saber o que escolher retirar das experiências que tens e o que deixar para trás”, e é sobre isto que este álbum é.

Jadagu tem como base o Bedroom Pop, diferenciado por ter faixas que puxam da nostalgia melódica do dream pop, como é o caso de “Say It Now”, “Scratch the Surface” ou até do Lo-fi em “Admit It”, mas é já com “Warning Sign”, a pender para o R&B com um riff de fundo delicioso, que a jovem artista confirma todo o seu potencial. O ponto a retirar é que este não é só mais um álbum de Bedroom Pop e que Hannah Jadagu não é só mais uma artista com algo para dizer… Há aqui verdadeiro talento. Resta saber até onde irá!

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Say It Now
> What You Did
> Lose
> Admit It
> Warning Side

Overmono – Good Lies

Overmono Good Lies

Género: Techno/Pop

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Sucedendo uma porrada de EPs, Good Lies é o álbum de estreia dos irmãos Tom e Ed Russell, e segue essa linha sem se desviar um milímetro. Após a passagem pelo Coachella 2023, pode-se dizer que este primeiro álbum os coloca em rota de colisão com o merecido e inadiável sucesso.

A química é inerente à relação entre ambos e faz-se notar um pouco ao longo de todo este álbum. “Good Lies” é a faixa de entrada para o inventivo universo de Overmono, mas é “So U Kno” ou “Is U” que nos prende lá, com uma linha de bass constante e distorção de vocais hipnotizantes. Ao longo de uma (quase sempre) cativante setlist, este álbum tem nele contido uma série de truques instrumentais (como os ritmos irregulares e skips de beats) que faz com que rapidamente entre na cabeça de quem aprecia techno. Em simultâneo, são empregues uma série de samples trabalhados em laboratório para encaixar nas sonoridades que, ainda assim, facilmente captam a atenção de quem gosta de Pop/R&B.

Não é o trabalho perfeito pelas faixas que fogem à regra, mas esta conjugação entre dois universos distintos faz com que fique perto disso pela arte e engenho do duo escocês.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Good Lies
> Cold Blooded
> Is U
> So U Kno

SBTRKT – The Rat Road

SBTRKT The Rat Road

Género: Electronic/House

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Ainda que conheça o trabalho de Aaron Jerome desde a sua origem enquanto música/produtor, que em 2011 partilhou ribalta com nomes como Little Dragon, Jessie Ware ou Sampha (passados 12 anos continua a ser uma peça fulcral do projeto SBTRKT), creio que sempre foi um bocado subvalorizado.

The Rat Road veio para mudar isso, desta vez a suportar-se maioritariamente em Toro Y Moi (dispensa apresentações), Teezo Touchdown e a misteriosa LEILAH – que colabora com SBTRKT em cinco faixas do álbum. Este álbum, ainda que incorpore e se apoio num turbilhão ideias que é a mente de Jerome na hora de produzir música e apesar de have alguns vislumbres de glória, tem muito “barulho” que podia ter sido aprimorado ou removido do álbum. Por muito que aprecie um artista, um álbum com mais de 14/15 faixas tem de o justificar. The Rat Road, fora os três interludes, tem 19.

Não deixa de ser uma boa produção para correr no fundo com uma mão cheia de faixas distinguíveis, mas não é tão memorável quanto poderia ser.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Wainting (ft. Teezo Touchdown)
> Days Go By (ft. Toro Y Moi)
> Limitless (ft. LEILAH & Sampha)
> Demons (ft. Toro Y Moi)

The Lemon Twigs – Everything Harmony

The Lemon Twigs Everything Harmony

Género: Soft Rock

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A banda formada pelos irmãos D’Addario, apesar de recente, revive melodias e sonoridades do passado. A verdade é que o ambiente em que cresceram, com um pai músico (com inúmeros álbuns folk em seu nome), ajudou, mas ainda assim é de louvar o que os The Lemon Twigs têm feito ao longo dos últimos anos.

Seja por que género passem, há sempre um toque vintage que faz quem não os conhece questionar-se do quão antiga é a música que está a tocar.

Rico em harmonia e com uma suavidade já característica, é assim que se pode definir este novo álbum do duo, cuja escrita merece ser distinguida.

Já em 2020, com o álbum Songs For the General Public, tinham-me chamado à atenção, mas desta vez, no álbum mais pausado e pensado dos D’Addario, não pude deixar passar em branco sem esta nota em forma de comentário.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> In My Head
> Corner Of My Eye
> Ghost Run Free

Outros álbuns a ouvir:
> ClothSecret Measure
> Kesha – Gag Order
> Madison McFerrin – I Hope You Can Forgive Me
> Mega BogEnd of Everything
> Sparks – The Girl Is Crying In Her Latte

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