Curto, difícil e muitas vezes implacável – assim é este metroidvania que acaba de chegar às consolas.
Acho fascinante o mundo das séries independentes, das estórias cruzadas que se expandem por vários jogos e que partilham, entre outros elementos, uma estética e narrativas fortes que compõem uma experiência de nicho. Séries como Touhou, que se multiplica também por vários géneros, e Fate, representando o mesmo modelo através de animes e visual novels, são apenas alguns dos exemplos de destaque, mas quero dar-vos a conhecer a série Momodora, produzida pela brasileira Bombservice, e Minoria, o seu sucessor espiritual.
Apesar de abandonar a pixel-art e os sprites por modelos e cenários em alta definição, Minoria mantém o ADN da série e transporta-nos para um mundo de bruxas e freiras, de monstros e maldições, onde no papel da Irmã Semilla temos de parar uma rebelião e salvar o reino em nome da Sacred Office. Como seria de esperar, nem tudo é o que parece e Semilla terá de lutar para descobrir a verdade por detrás da sua ordem e da missão que lhe foi incumbida. A originalidade não é o seu forte, mas nota-se uma forte mitologia que é auxiliada por vários jogos e uma forte compreensão das personagens e das suas motivações por parte da Bombservice, onde destaco os diálogos diretos, mas bem escritos.
Minoria é um metroidvania, tal como Momodora: Reverie Under the Moonlight, apresentando várias zonas distintas – ainda que não surpreendam a nível visual e no seu design, relegando-se a secções de plataformas nada empolgantes e a corredores sem vida –, onde o foco está no combate, na exploração e na descoberta de armas, habilidades, chaves e outras curiosidades. O controlo de Semilla é muito intuitivo e fluído, algo que a Bombservice já tinha aperfeiçoado no título anterior, e a passagem para HD não influenciou negativamente a jogabilidade de Minoria. Os controlos são responsivos, especialmente o botão de desvio, e há um ritmo lento, mas ponderado nos confrontos, auxiliados pelo foco no contra-ataque face aos ataques destrutivos dos monstros.
A navegação nunca se torna confusa e temos sempre um mapa disponível que nos permite verificar as zonas que ainda não visitámos. Visualmente, Minoria adota um estilo cel-shaded que dá aos modelos das personagens uma maior vivacidade e expressividade, seja Semilla ou qualquer outra das freiras ou bruxas. Já os cenários, como havia mencionado, surpreendem pouco, até no seu design e nos seus corredores aborrecidos, mas existe sempre um efeito visual, a iluminação ou a presença de uma direção artística mais proeminente que lhe dão alguma beleza. Os quebra-cabeças, por mais simples que sejam, injetam alguma variedade ao design e a exploração requer algum jogo de memória para podermos voltar atrás e descobrir os itens que deixámos para trás.
Como metroidvania, Minoria mantém a aposta nas habilidades e no desbloqueio de caminhos, mas há um foco mais presente no combate que se sente pela inserção de um sistema de níveis – que influencia o poder de ataque e pontos de vida de Semilla –, novas armas, atributos e poderes. A dificuldade é um destaque e a Bombservice não se limitou nesse aspeto, apresentando inimigos com um poder de ataque assustador, ao ponto de ser quase injusto. Esta sensação é contornada pelo foco no contra-ataque, mas nem sempre é fácil conseguir ultrapassar estes picos de dificuldade inesperados. No entanto, existe uma barra de atordoamento que devem explorar para conseguirem uma maior eficácia contra os inimigos.
A Bombservice quis dar mais variedade e liberdade aos jogadores sob a forma de novas armas e habilidades. As armas encontram-se espalhadas pelo mapa e apresentam atributos únicos, não só pelos pontos de ataque, mas também por poderes que podem alterar o rumo de um combate. Os incensos são o segundo foco deste sistema de combate e são habilidades especiais, com um limite de utilização, que dão a Semilla a possibilidade de usar magias desde raios, projéteis ou a invocação de monstros. São complementos de peso, passivos e ativos, mas o combate corpo a corpo continua a ser o destaque e é necessário dominar o contra-ataque se não quisermos perder minutos de progresso.
Na verdade, penso que isso irá acontecer quer estejam preparados ou não. Minoria é difícil, às vezes demasiado, e o facto de apresentar tantos pontos de gravação revela que a Bombservice tentou equilibrar mais o seu jogo. No entanto, há algo que não funciona tão bem. Existem inimigos que tiram sempre mais de metade da barra de energia e cujos ataques surgem em sucessão rápida. É certo que temos o contra-ataque, mas quando estamos perante mais do que um inimigo, torna-se difícil de controlar os seus ataques e manter a distância. Com prática, acabarão por dominar a dificuldade do jogo, mas os picos de desafio são reais e demasiado inesperados.
O mesmo não pode ser dito dos bosses que apresentam um leque limitado de habilidades e padrões muito fáceis de prever. Os seus designs são interessantes, mas as batalhas são fáceis. Parece que Minoria quer desafiar constantemente os jogadores enquanto exploram e dar-lhes um merecido descanso quando encontram um dos seus vilões, uma escolha com a qual não consigo concordar. A aposta na dificuldade e num posicionamento de inimigos pouco interessante em campo dão aso a um design de níveis limitado, como havia mencionado, e se num metroidvania a exploração não é um dos destaques, então algo se perdeu na produção. Momodora: Reverie Under the Moonlight é mais equilibrado neste sentido.
Apesar dos desequilíbrios, Minoria é um bom jogo que chega finalmente às consolas. A ação é rápida, os controlos são fluídos e existe variedade no sistema de combate que vos permitirá experimentar com as várias habilidades do jogo para construírem a vossa própria personagem. Está longe de ser perfeito e é ocasionalmente frustrante, mas conseguimos sentir o carinho e dedicação da Bombservice através do design e da narrativa do jogo.
Plataformas: PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela DANGEN Entertainment.