OFF é um daqueles jogos que pode divide opiniões. É estranho, enigmático e de culto. Lançado em 2008, por Mortis Ghost, este jogo de RPG Maker conquistou fãs pela sua estética peculiar e atmosfera desconfortável. Mas será que envelheceu bem?
OFF é um jogo estranho e se estivesse a escrever este texto em inglês, ia com o trocadilho “OFF is a very off game”. Se calhar, era mesmo a intenção de Mortis Ghost quando decidiu brincar com o RPG Maker e lançar esta experiência peculiar de poucas horas. Se ainda associam RPG Maker a uma enchente de jogos sem esforço, não estão errados, mas também encontramos pérolas e jogos fantásticos como To The Moon, Omori, Lisa: The Painful, entre outros, o que revela o potencial da plataforma. E se não foram criados neste motor acessível, foram inspirados por estas experiências independentes. Admito que ainda tentei brincar nele no passado, mas minha ambição e criatividade estavam bem mais à frente do meu jeito em domina-lo.
Lançado em 2008 apenas em francês, OFF tornou-se num fenómeno de culto quando foi localizado por fãs e disponibilizado gratuitamente na Internet. Ao passo que a sua qualidade é subjetiva, não há dúvida de que se tornou num clássico bizarro dos fóruns online que veio inspirar melhores jogos, como Undertale. Até ao anúncio da versão física pela Fangamer, admito que não conhecia nada do jogo, mas quis experimentar a versão gratuita para ver se valia a pena apoiar e expandir a minha coleção de RPG na Nintendo Switch. Joguei o suficiente para não me estragar de uma eventual experiência completa, mas quis o destino que analisasse a versão PC, ou no meu caso específico, na Steam Deck.
E devo dizer que o terminei sem sentir grande apreço pelo que joguei. Costumo dizer que clássico nem sempre se traduz em bom. Da mesma maneira que não sou fã de The Godfather, embora reconheça a importância dos filmes e o seu impacto. É o mesmo aqui, não? To The Moon (e sequelas) e Undertale tocaram-me de tal maneira que ainda não consigo ouvir a banda sonora descolada dos sentimentos que os jogos me fizeram sentir, mas OFF começou e acabou da mesma maneira: a ser estranho só porque sim. Óbvio que o jogo tenta passar uma mensagem e até fui ler sobre isso quando o terminei, mas não creio que as poucas horas (que pareciam mais) tenham feito um bom trabalho em espalhar as sementes de uma narrativa interessante.
Em Off, assumimos o controlo de The Batter numa premissa aparentemente simples, a de purificar o mundo com um taco de beisebol. E lembrei-me logo da personagem Shonen Bat, de Paranoia Agent, uma série igualmente bizarra do falecido Satoshi Kon. É durante esta demanda, que purificamos os espectros que arreliam os tristes habitantes que gemem sempre que falamos com eles, os Elsen. E desde muito cedo, reparamos que o elenco, onde se inclui o peculiar gato guia The Judge, não se dirige ao The Batter, mas à alma à qual atribuímos um nome no início do jogo.
A estética do mundo lo-fi e das personagens é por si só deliciosa, destacando-se num estilo quase de esboço realista, mas com devaneios rabiscados e desconfortáveis. Este mundo divide-se em cinco zonas, cada uma caracterizada pela sua respetiva indústria. Por exemplo, na primeira zona, os Elsen criam vacas para lhes extrair metal – não façam perguntas complicadas porque a coisa não vai melhorar até ao final (para o bem ou para o mal).
Mas não sei se gostei de explorar e de interagir com este mundo. Se não estamos a combater, estamos a resolver puzzles que pedem a presença constante de papel e caneta para anotar números, padrões e outras combinações. É old school, mas também mói quando são sempre a mesma coisa e nos fazem ir à Internet, versus voltar atrás para ver se não nos falhou alguma pista ou diálogo. Talvez o bloqueio seja só meu porque tive uma queixa parecida quando joguei CrossCode, embora tenha conseguido apreciar mais os puzzles desse jogo.
Por outro lado, os combates por turnos são simplicíssimos e sem grande profundidade. Por falta de profundidade, refiro-me a premir o botão de ataque até o adversário ficar sem HP. Não existe grande estratégia, mesmo nesta versão melhorada que viu a introdução de barras ATB à lá Final Fantasy, que ditam o turno de ataque da personagem ou dos parceiros flutuantes. Neste campo, a adição de bosses secretos é a novidade mais sumarenta.
A demão mais controversa desta versão é, sem dúvida, a banda sonora reimaginada. O compositor original não regressou, então ficou a cargo de outros artistas, onde também se inclui Toby Fox. Sem grande termo de comparação purista, posso dizer que o que ouvi é um dos pontos mais do que positivos e desconcertantes da minha experiência.
Escrever sobre o meu tempo com OFF deixa-me numa posição delicada, não posso dizer que não gostei a ponto de não o recomendar, até porque ainda gostei genuinamente de alguns detalhes, como a premissa, a atmosfera e a arte. Mas também não o consigo recomendar a quem procura um jogo imersivo e divertido. No fundo, é uma experiência que compensa pelo fator curiosidade, um pouco como jogar pedaços de história, como os Earthbound/Mother ou Live a Live para reconhecer o que mexeu com Toby Fox durante a criação de Undertale e de Deltarune.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela PiratePR.