Um jogo de plataformas demasiado repetitivo para dar vida ao mundo e personagens coloridas que mereciam ter sido o destaque.
As primeiras impressões são uma espada de dois gumes. Se um primeiro contacto positivo poderá levar-nos a comprar ou a conhecer melhor um videojogo, por outro lado, esse mesmo contacto tecerá as expetativas para o que esperamos de uma campanha que começou forte. No caso de Bakeru!, o novo jogo de plataformas da Spike Chunsoft, o impacto das primeiras impressões não podiam ter criado um cenário mais propício ao desapontamento, com a campanha a destruir as nossas expetativas ao longo de uma campanha onde somos capazes de ver as suas boas ideias, mas cujos níveis e mecânicas tornam-se progressivamente mais repetitivas, incapaz de alcançar o seu verdadeiro potencial.
O que é uma pena, pois Bakeru! jorra personalidade. A personagem titular, um cão-guaxinim com a habilidade de se transformar em pessoa, é divertida e o seu design colorido está repleto de pormenores interessantes que não deixam de surpreender. A paleta de cores, os padrões no seu cabelo, as suas transformações – que mudam por completo o seu design e adicionam uma maior variedade ao combate e à exploração – são um reflexo do carinho que a Spike Chunsoft injetou na identidade visual do seu jogo de plataformas. O elenco secundário, tal como os vários inimigos que enfrentamos – estes desenhados de acordo com lendas e mitos japoneses, que certamente reconhecerão de outras obras –, adicionam vida aos cenários já por si bastante coloridos e cheios de luz, onde a visibilidade e comunicação visual funcionam em prol de uma jogabilidade bastante acessível.
Fora as transformações de Bakeru!, que desbloqueamos ao longo da campanha – e que podem transformá-lo num rato ou então num lutador kabuki, entre outros –, a jogabilidade destaca-se pela utilização de um taiko como arma principal. O tambor japonês serve de proteção para Bakeru! e escuda-o de todos os ataques inimigos, tal como permite a defesa perfeita para que possamos devolver projeteis ou então atordoar as criaturas que nos perseguem. O taiko não vem só e para ser tocado, é necessário que tenhamos as baquetas correspondentes, também adaptadas à jogabilidade de Bakeru!, servindo como a sua arma principal. Neste caso, podemos controlar as duas baquetas em separado ou então combiná-las para um ataque pesado. Através dos botões L e R, na versão Nintendo Switch, controlamos a velocidade e a intensidade dos ataques, e temos à disposição um leque de habilidades e combinações que desbloqueamos no decorrer da campanha. O que apreciei mais foi a rapidez dos ataques e a possibilidade de interligarmos vários golpes ao intercalarmos a utilização das duas baquetas, criando a sensação de estarmos a utilizar os inimigos como verdadeiros tambores.
Bakeru! é um jogo que funciona mecanicamente e cujos problemas não estão inerentes aos controlos que apresenta, antes às oportunidades em combate e na exploração que limitam a jogabilidade e a tornam cansativa. Os níveis seguem o molde do género de plataformas, com vários momentos de combate e outros de desafios físicos, ainda que os saltos e a leitura dos cenários tenham sido atenuados, criando uma experiência mais acessível. Os níveis são caraterizados pela inclusão de novos elementos decorativos e mecânicos, seja pela introdução de inimigos progressivamente mais complexos – como os lutadores de kendo, que nos obrigam a dominar a habilidade de parry – ou então auxiliares mecânicos que adicionam algumas barreiras de progresso à forma como navegamos pelos níveis – como as roldanas que precisamos de bater para controlar. Os colecionáveis também estão presentes e são divididos em duas categorias: a primeira são trechos de sabedoria, sobre os mais diferentes tópicos e sempre com um tom humorístico, indo além dos tradicionais tutoriais e até ignorando-o; a segunda baseia-se quase em brindes das máquinas de gatcha, que podemos encontrar espalhados pelos níveis.
A base para o level design é familiar e durante as primeiras horas, Bakeru! parece encontrar um lugar confortável entre uma aventura light de Super Mario e companhia, com o foco no combate de títulos como Ratchet & Clank (mas sem armas, claro) e Pumpkin Jack. No entanto, os níveis revelam-se demasiado despidos, extensos, mas sem variações interessantes nos desafios que apresentam. Existem momentos em que estamos apenas a caminhar por um enorme trecho sem plataformas, totalmente focados no combate e na recolha de moedas – que podemos utilizar para comprar itens temporários e permanentes nas lojas. O cansaço instala-se porque não existem desvios interessantes no caminho principal ou sequências de plataformas que nos desafiem, criando um marasmo estranho onde existem ocasionalmente rasgos de inventividade que nunca se desenvolvem como mereciam. Os níveis mais curtos são os que funcionam melhor, mas até esses acabam por se tornarem repetitivos devido ao excesso de inimigos.
O sistema de combate e a utilização das baquetas como armas, tal como o desbloqueio das novas transformações, são mecânicas que funcionam e que podiam criar verdadeiros momentos empolgantes num jogo mais denso. Infelizmente, a utilização individual das baquetas torna-se cansativa por estarmos constantemente a carregar nos mesmos botões e a enfrentar tantos inimigos, quase sempre sem apresentarem novos padrões ou diferentes métodos de ataque. O facto de os ataques seguirem os inimigos, se forem alternados entre as baquetas, mitiga alguma da repetição e cria a ilusão de rapidez nos confrontos, mas basta encontrar um inimigo com mais pontos de vida e voltamos a sentir o cansaço. Os meus dedos chegaram a doer e tive de parar devido à repetição dos ataques. Se a solução, nestes momentos, é evitar os confrontos e não interagir com o videojogo, tal como a produtora o desenhou, algo falhou na conceptualização de Bakeru!
Talvez não sintam o cansaço que marcou as minhas horas com Bakeru! e descubram apenas o mundo colorido e repleto de personalidade que lhe dá vida. Talvez até apreciem o foco no combate e sintam que está muito mais equilibrado do que eu senti, mas não consigo ignorar o meu desapontamento. As primeiras impressões foram fortíssimas, com o jogo a surpreender-me visual e mecanicamente com níveis cheios de animação, cor e uma jogabilidade limada e bastante fluída. As transformações são outro destaque, sem dúvida, mas algumas são tão mal utilizadas que me esqueci regularmente de as utilizar. Algo falhou para mim e Bakeru! nunca conseguiu reconquistar-me.
Cópia para análise (versão Nintendo Switch) cedida pela Spike Chunsoft.