Twisters é exatamente aquilo que se espera de um filme de desastre: um espetáculo visual repleto de ação e adrenalina, com uma narrativa previsível mas eficaz.
Normalmente, filmes previsíveis, genéricos e repletos de clichés acabam por sofrer com estas caraterísticas frequentemente vistas como aspetos negativos. Pessoalmente, sou defensor da teoria de que a execução tanto pode transformar uma ideia fantástica numa obra terrível como consegue elevar tremendamente uma mera variação de uma premissa gasta, para além de também acreditar que filmes podem perfeitamente ser apenas e só aquilo que se espera dos mesmos, nem mais, nem menos. Os disasters flicks (filmes de desastre) são conhecidos precisamente pelos atributos mencionados acima, mas possuem uma camada de entretenimento simples e direto que conquista audiências e críticos pelo mundo fora. E não existe nada de errado com isso.
É, de facto, um género especial. De tal forma que se fazem sequelas isoladas a obras originais de 1996 como o clássico Twister. O filme de Jan de Bon inspirou Lee Isaac Chung (Minari) e Mark L. Smith (The Revenant) a aventurarem-se no mesmo mundo recheado de cientistas com vontade de testar novos sistemas meteorológicos, cowboys do tempo com paixão pela adrenalina e muitos seguidores nas redes sociais e, claro, inúmeros tornados – tantos que o título da sequela não podia ser outro que não Twisters.
Todos os cinéfilos têm os seus guilty pleasures, isto é, filmes admitidamente “maus” ou com problemas evidentes, mas que mantemos bem perto do nosso coração, seja por fator nostalgia, humor não-intencional, simplicidade de enredo ou puro escapismo. Armageddon sempre foi a minha escolha de eleição – nada bate a banda sonora de Trevon Rabin – mas Twister é igualmente mencionado por muitos outros espetadores como o seu filme de desastre favorito. As expetativas para a sequela eram as mesmas que para qualquer outro blockbuster do mesmo tipo: diversão genuína.
Porque é apenas por essa razão que obras como Twisters existem. Um espetador entrar na sala de cinema à espera de algum estudo temático complexo ou de uma narrativa única é equivalente a desejar uma desilusão provocada por expetativas irrealistas e, sinceramente, sem qualquer nexo. Chung e Smith criaram um enredo simples com personagens e respetivos arcos bem identificados, assim como um tema central bem definido, e deixam o caos da ação constante tomar conta das rédeas. O resto desenvolve-se naturalmente com mais ou menos exposição forçada.
Despachando já a análise ao que o público-alvo mais deseja de assistir, Twisters tem mais do que entretenimento suficiente com tornados e a consequente devastação provocada pelos mesmos. A utilização de câmara tremida podia facilmente tornar-se num problema, mas Dan Mindel (Star Wars: The Rise of Skywalker), diretor de fotografia, consegue não só controlar o número de vezes que a técnica é aplicada, mas também focar minimamente câmara de forma a não ser uma confusão visual incompreensível. Dito isto, apesar dos efeitos visuais serem de louvar, são alguns planos largos deslumbrantes e a composição geral de um par de cenas em particular que geram uma beleza inesperada imersiva. A banda sonora de Benjamin Wallfisch (It) transporta os espetadores para a região de Oklahoma com músicas country a serem contribuintes surpreendentes para os níveis de adrenalina e energia das sequências de ação.
Tecnicamente, Twisters cumpre com os requisitos mínimos e acrescenta uns pequenos pozinhos de estilo ocasionais. Narrativamente? Tal como referido anteriormente, é tudo aquilo que se antecipava. A história formulaica serve meramente de contorno a um desenho já completo, estendendo-se até em demasia para este tipo de filme. Dito isto, a sua previsibilidade e repetibilidade não estraga a mensagem de alerta transmitida pelo argumento e transportada para o grande ecrã através da destruição causada pelos tornados nas inúmeras famílias que perderam tudo de um momento para o outro. Humanidade e altruísmo são tópicos igualmente explorados pela eventual ajuda por parte de personagens que aprendem a dar valor ao que realmente importa ou que simplesmente se relembraram da motivação principal por detrás daquilo que fazem no seu dia-a-dia.
Era fácil Chung e Smith caírem no erro de se focarem exclusivamente nos protagonistas, deixando de lado o real perigo dos tornados, quase como tornando os mesmos numa espécie de mito que nunca acontece. Felizmente, ambos demonstraram respeito pelas muitas vitimas de desastres naturais, mesmo no meio de uma obra guiada por entretenimento barato. Twisters não deixa de ser uma montanha-russa num parque de diversões, mas com os seus limites de diversão insana e inconsequente.
No fim, grande parte do sucesso desta sequela – que funciona perfeitamente como filme isolado, não existe necessidade de assistir ao original se a preocupação for entender a narrativa, apesar de recomendar obviamente – passa pelo elenco. Twisters consegue dois atores fenomenais para liderar um grupo cheio de boa química, Daisy Edgar-Jones (Fresh) e Glen Powell (Hit Man). Se o último traz o seu charme natural e sorriso marcante para interpretar Tyler, um cowboy dos tornados / estrela do YouTube que é muito mais daquilo que aparenta, a atriz demonstra o alcance emocional que a levou ao estrelato, representando Kate, uma jovem doutorada muito inteligente com o sonho de poder salvar populações através das suas ideias para parar tornados.
Ambos carregam a obra aos ombros com uma naturalidade notável, sendo que Anthony Ramos (In the Heights) também possui os seus momentos de brilho ao representar Javi, amigo de longa data de Kate e o que mais muda com o desenrolar da narrativa e que serve de interligação com praticamente todos os pontos de enredo e eventuais conexões entre outras personagens. Nota curiosa sobre os minutos iniciais que me deixaram perplexo a pensar que Kiernan Shipka era, na verdade, Mckenna Grace (Ghostbusters: Frozen Empire) tal a semelhança impressionante entre as atrizes e ainda mais entre a caraterização das personagens respetivas – impossível ser o único a ter esta sensação.
VEREDITO
Twisters é exatamente aquilo que se espera de um filme de desastre: um espetáculo visual repleto de ação e adrenalina, com uma narrativa previsível mas eficaz. Daisy Edgar-Jones e Glen Powell destacam-se como protagonistas, trazendo carisma e química para personagens com alguma profundidade emocional. A cinematografia de Dan Mindel e a banda sonora de Benjamin Wallfisch contribuem para a camada de imersão do blockbuster de verão. Não traz nada de novo para o género, nem precisa, pois cumpre o seu único e válido propósito de entreter o público, respeitando ainda as vítimas de desastres naturais, lembrando-nos da importância da humanidade e altruísmo em tempos de crise.