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Ant-Man and the Wasp: Quantumania justifica a receção divisiva. Visuais imersivos, ação mais do que satisfatória e prestações absolutamente excecionais, tirando Kathryn Newton por falta de direção.

Apesar de muita discussão sobre a Phase Four do MCU – desde a sua estrutura ao sempre complicado debate de quantidade vs. qualidade – a verdade é que esta foi geralmente bem recebida. Pessoalmente, prefiro esta última Fase a outra(s), mas independentemente disso, as aventuras de Ant-Man (Paul Rudd) nunca me impressionaram. Se o original é um filme de origem genérico mas decente, a sequela é uma das poucas obras do universo cinemático que não recebeu uma crítica positiva da minha parte. Tendo isto em conta e o facto do “big bad” desta The Multiverse Saga ser apresentado – no grande ecrã – em Ant-Man and the Wasp: Quantumania, as expetativas não eram propriamente fáceis de estabelecer.

Um detalhe que salta logo à vista é o crédito de argumento. Jeff Loveness é o único responsável por redigir o primeiro filme da Fase Cinco. Uma decisão questionável tendo em conta a falta de experiência do mesmo – esta é a sua estreia em longas-metragens. Para além disso, as outras duas parcelas de Ant-Man reuniram várias pessoas para redigir os enredos respetivos, o que torna este facto técnico ainda mais estranho. Colocar alguém inexperiente no controlo de Quantumania, um dos filmes mais importantes de toda esta nova saga, é de deixar espetadores, no mínimo, perplexos.

Infelizmente, é precisamente no argumento de Loveness que se encontram os maiores problemas. Quantumania tem os seus pontos positivos, mas vou deixá-los para o fim, até para terminar de forma mais agradável. Dito isto, a quantidade de exposição desnecessária, repetitiva e irrelevante é, sem dúvida, a caraterística narrativa mais incomodativa e prejudicial. O enredo depende imenso de vários diálogos prolongados em demasia para passar informação que o público facilmente descobriria por si próprio, sendo que ainda são ocasionalmente interrompidos por flashbacks que quebram o ritmo de uma obra com uma primeira metade difícil de digerir.

O build-up para a primeira aparição de Kang – Quantumania é, no fundo, um filme de origem para o vilão – começa por ser bastante tenso e interessante, mas quando este finalmente chega para agarrar de vez o holofote, já existe um certo cansaço acumulado devido à estrutura narrativa extremamente dependente da tal informação explícita ao virar de cada esquina. Bill Murray (The Greatest Beer Run Ever), por exemplo, é desperdiçado numa única cena que não acrescenta nada em relação a nenhuma personagem ou ao enredo principal, repetindo o facto de Janet (Michelle Pfeiffer) estar a esconder algo, o que é abordado inúmeras vezes antes deste momento.

quantumania review echo boomer 2

Outro dos maiores problemas pessoais com Quantumania é um ponto em comum em relação a todos os filmes do MCU: o equilíbrio de tom. Quando existe controlo total sobre as transições entre momentos mais dramáticos e a leveza e humor de marca registada da Marvel, obtemos uma das melhoras obras da franquia. No entanto, quando a comédia não sai do mesmo tema infantil e datado – piadas sexuais – e, do outro lado, encontra-se um dos vilões mais temíveis e assustadores que alguma vez encontramos dentro da franquia, estas transições nunca iriam dar um bom resultado.

A vasta maioria das tentativas cómicas em Quantumania sai ao lado, sendo que o carisma de Rudd é a grande salvação, conseguindo safar algumas piadas bastante foleiras que não funcionariam com mais nenhum ator. Mesmo assim, Peyton Reed – realizador regressa para terminar a sua trilogia de super-heróis – diminui bastante a quantidade de humor habitualmente presente em filmes do MCU, reduzindo o impacto negativo da mistura inconsistente de tons. Os minutos finais são o exemplo perfeito do quanto a obra sofre com este problema em concreto.

Finalmente, a falta de consequências sérias e de prestações dramaticamente condizentes. Numa obra onde o próximo vilão ao nível de Thanos é introduzido, não posso ficar satisfeito com uma história formulaica em que não existe qualquer valor de choque ou momentos emocionalmente poderosos. Cheguei a perder a conta à quantidade de cenas em que os heróis estão a ser escoltados por guardas e se conseguem libertar sempre da mesma maneira. Para além disso, Kang merecia um impacto muito mais pesado e substancial na conclusão da história.

Kathryn Newton (Freaky) interpreta a filha de Scott Lang, Cassie, de forma demasiado expressiva, sorrindo demasiado em cenas mais dramáticas como se nada do que acontece à volta da personagem fosse minimamente perigoso ou devastador. A atriz possui imenso talento, pelo que o problema está na falta de direção. Michael Douglas (Ant-Man and the Wasp) e Pfeiffer (French Exit) não sofrem tanto devido à sua experiência, lidando melhor com a diferença de tons, mas também não saem ilesos. Rudd e Evangeline Lilly (Crisis) destacam-se mais e demonstram excelente química, mas aproveito agora para transitar para os aspetos positivos.

Começando pelo MVP de Quantumania, Jonathan Majors (Devotion) e a sua prestação absolutamente fenomenal como Kang. Não possuo vocabulário suficiente para descrever o quão poderosa é a simples presença do ator no grande ecrã. Por mais problemas que possua com a primeira metade do filme, quando Kang aparece, a minha mente não se foca em mais nada. Majors suga toda a atenção para si com um carisma verdadeiramente ameaçador, elevando todas as cenas das quais faz parte de maneira impressionante.

Se Thanos precisou de matar dezenas de Asgardians, Loki e ainda destruir Hulk em combate para ser levado a sério, Kang ganha o mesmo nível de respeito pela sua postura aterrorizadora e discurso sombrio. Reed pode ter tido dificuldades com os problemas acima mencionados, mas a atmosfera criada à volta de Kang é tudo o que necessitava de ser: misteriosa e carregada de suspense e incerteza do que poderá acontecer no minuto seguinte. Pena que este ambiente tenso se perca à medida que Quantumania se desenrola…

Os visuais eram a minha maior preocupação, mesmo acima do argumento a solo de Loveness. O MCU tem vindo a receber críticas – bastante justas – sobre a sua inconsistência em relação aos efeitos especiais, em muito devido à sobrecarga de trabalho dos artistas de efeitos visuais. Quantumania inerentemente coloca todas as personagens num reino quântico ficcional, o que significa que praticamente todo o filme encontra-se rodeado de paredes verdes e azuis. Surpreendentemente, os visuais aguentam-se de tal maneira que criam um ambiente muito imersivo com o qual não contava, de todo.

Juntando o guarda-roupa, maquilhagem, produção sonora e artística, as semelhanças com os vários mundos vistos em Star Wars são óbvias, mas Quantumania consegue diferenciar-se com designs de criaturas imaginativos e “vilas” construídas de formas inesperadas. MODOK (Corey Stoll) é possivelmente o único elemento CGI que poderá não funcionar para muitos espetadores – o conceito da personagem é, por si só, impossível de tornar realista – mas pessoalmente, aprecio a “tontice” em redor do seu design e o personagem acaba por possuir o arco mais bem desenvolvido.

E claro, um filme de super-heróis não podia deixar de ter ação. Mais uma vez, o fundo CGI preocupava-me, mas a verdade é que Reed consegue construir vários momentos memoráveis. Quantumania possui inclusive cenas longas ininterruptas com excelentes coreografias que poderão passar despercebidos tal o caos – no bom sentido – que enche o ecrã em sequências com uma dimensão muito maior daquilo que antecipava. Para fãs do género que vão ao cinema exclusivamente em busca deste valor de entretenimento, dificilmente sairão insatisfeitos.

Ant-Man and the Wasp: Quantumania justifica a receção divisiva. Visuais imersivos, ação mais do que satisfatória e prestações absolutamente excecionais, tirando Kathryn Newton por falta de direção. No entanto, o diálogo excessivamente, repetitivamente e desnecessariamente guiado por exposição, juntamente com a falta de melhor balanço tonal – menos piadas para o padrão Marvel, mas o nível de humor disparatado afeta transições de/para momentos mais sérios – e uma narrativa subdesenvolvida e inconsequente – arcos de personagem são quase inexistentes – tornam a obra muito inconsistente. Ainda assim, JONATHAN MAJORS COMO KANG! Uau!

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