Música – Álbuns essenciais (janeiro 2023)

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Custou a arrancar este ano, mas aqui estão os 11 primeiros essenciais de 2023!

Ando desaparecido e sei que estou um bocado atrasado no que toca à publicação dos meus artigos de álbuns essenciais, mas já estou a apanhar o fio à meada.

Sobre as minhas escolhas de janeiro, tenho a dizer que é um mês de álbuns que exigem dedicação e atenção (que podia muito bem servir de desculpa para o tempo que levei a compilá-los) para tirar completo proveito dos mesmo. Não obstante, há dois ou três álbuns de fácil digestão – sendo um dele já o que vem abaixo, de Biig Piig.

Há também um álbum que facilmente vai figurar nos lugares mais cimeiros da seleção de melhores álbuns de 2023 e que é obrigatório para os amantes do rock. Falo do mais recente trabalho dos The Murder Capital, que é o último álbum deste artigo.

Biig Piig – Bubblegum [Mixtape]

Biig Piig Bubblegum

Género: R&B/Pop

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Big Pig, nome artístico de Jess Smyth, trata-se uma jovem cantora, de 25 anos, oriunda da Irlanda, mas que viveu parte da sua juventude em Espanha. Inevitavelmente, a sua música é influenciada pelas suas vivências em ambos os países, tal como o seu apreço por poesia e literatura, que contribui em parte para a sua escrita.

Após alguns anos a lançar singles e EPs que pendem entre o Hip-Hop e R&B, lançou finalmente o seu álbum de estreia, composto por sete faixas. Ainda que pareça curto, é a maior “colectânea” de músicas que lançou até à data.

Conhecida pelas sonoridades únicas, que dão cor às suas letras introspetivas (imagem de marca da artista, por esta altura), não foi preciso muito até ganhar o devido reconhecimento e, curiosamente, este ano estreia-se em Portugal, no festival Super Bock Super Rock.

Bubblegum é um álbum divertido, curto e grosso (sem ser grosseiro), que prima pela criatividade e marca um novo capítulo na sua carreira musical. Ao longo de sete faixas, vemos explorados temas como o amor, desamparo e auto-descoberta, e temos uma exposição clara ao crescimento de Biig Piig enquanto artista. No final do dia, este é um álbum bastante coeso, que não disfarça nem um pouco toda a emoção que transporta.

Já o título do mesmo tem uma justificação mais simples: o amor de Smyth por pastilhas elásticas, durante a sua infância. Ainda que, por vezes, pareça mesmo tão efémero como uma pastilha elástica, principalmente no que toca à duração de todas as suas faixas, que têm potencial para mais, há muito espaço para melhorias, e o que saiu deste álbum de estreia é promissor e bastante satisfatório do tão especial que é.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Kerosene
> This Is What They Meant
> Picking Up (ft. Deb Never)
> In The Dark

Billy Nomates – Cacti

Billy Nomates CACTI

Género: Alternative Rock

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Tor Maries é um exemplo bonito do que a força de vontade, acreditar em nós mesmos e um bocadinho de engenho podem fazer. Isto porque, após uma série de experiências fracassadas com inúmeras bandas que nunca saíram da garagem, e até mesmo um período de depressão, houve um momento chave que mudou a sua vida e, posteriormente, acabou por tirá-la do anonimato.

Foi durante um concerto dos Sleaford Mods que o raio atingiu Tor (pun intended) e fez a artista decidir mudar a sua vida. Voltar a escrever, a compor e, por sua vez, tentar novamente o regresso aos palcos – desta vez sem banda e sob o desígnio de Billy Nomates.

Com base nos seus primeiros dois álbuns, sorrio de felicidade pela volta de que Tor conseguiu impor na sua própria vida, por haver tanto para desfrutar e absorver na sua música. Já Cacti é particularmente especial, dado que prova que, por vezes, o único obstáculo no nosso trilho para o sucesso somos nós.

Este não é um álbum pomposo nem espampanante, mas é incansável e confiante. Tor tem todas as ferramentas ao seu dispor para criar o espelho mais fiel àquilo que sempre sonhou atingir, e não só nos está a mostrar com o que vai à luta, como está a dar todos os passos certos para cativar quem escolhe ouvir a sua música.

Com o primeiro álbum, a sensação que nos era passada era especial, e deixou uma clara sensação que Tor Marie não era uma força a subestimar. Cacti chutou para canto a maioria dos “será?” ou “preciso de ouvir mais”. A energia em torno dele é fluida, intensa e sustentável, conduzida por um alinhamento de músicas constantes, palpáveis e únicas. A voz da artista é calorosa, deixando-nos confortáveis ao ponto de ouvir este álbum de uma ponta à outra sem dar por ela.

Se na música houvesse o “factor casa” como no desporto, diria que, com Cacti, Billy Nomates joga 12 jornadas em casa. Já que estou numa de tecer elogios, digo mais: Billy Nomates atingiu a plenitude musical com este álbum, pois Cacti não só é muito bom, como transparece que a artista fez com ele exatamente o que pretendia: ser autêntica.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Balance Is Gone
> Blue Bones (death wish)
> Saboteur Forcefield
> Spite
> Blackout Signal

Circa Waves – Never Going Under

Circa Waves Never Going Under

Género: Indie Rock/Electropop

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A ascensão da banda de Liverpool dentro do universo do Indie Rock continua, num álbum que parte em busca do desconhecido e o encontra sem qualquer resistência. O tesouro é o facto de qualquer música ter o potencial para ser a pivot do mesmo.

A flexibilidade da sonoridade de Never Going Under é impressionante, bamboleando entre músicas com várias abordagens do que deve ser a fusão entre o Indie Rock e o Eletropop. Como fã dos primeiros trabalhos de Two Door Cinema Club e espectador da crise de identidade e criatividade em que estão mergulhados já há meia dúzia de anos, fico feliz por encontrar uma produção que me faz sentir que esta fusão de géneros não está saturada ou sequer cansada.

Este não é o trabalho mais surpreendente da banda, mas é o que toma mais riscos e, por sua vez, o mais ambicioso – há que dar valor a isso. É preciso também dar valor à escrita, sobre a paternalidade ou expectativas do que deve ser a masculinidade, que acarreta a sua quota parte de vulnerabilidade e faz deste álbum o mais pessoal e íntimo até à data.

Praticamente todas as músicas brincam com o ritmo e têm um carácter jovial, podendo levar-nos a pensar que os Circa Waves descobriram a fórmula e dedicaram-se fielmente ao uso e abuso da mesma. No entanto, mesmo no final do álbum, há tempo para uma pequena surpresa com “Living In The Grey”, música que deixa algumas pistas da dimensão e maleabilidade que a banda britânica pode vir a atingir num futuro próximo, caso continuem a “procurar” nos sítios certos.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Do You Wanna Talk
> Your Ghost
> Carry You Home
> Living In The Grey

Fucked Up – One Day

Fucked Up One Day

Género: Punk Rock/Hardcore Rock

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No que toca a música, a apreciação de um álbum pode ter sempre o seu quê de linha condutora para chegar a um consenso sobre a qualidade do mesmo. No entanto, por vezes, há que olhar ao contexto em que o álbum está inserido. Neste caso, One Day foi um álbum que passou por um processo de conceção extremamente fragmentado, ao longo de três anos.

As guitarras foram todas gravadas num dia, em dezembro de 2019, enquanto os baixos de vocais foram gravados em fevereiro de 2020 em dois estúdios distintos. Só dois anos mais tarde (abril de 2022) viria a ser feita a mistura e edição do álbum final. Posto isto, há que dar o devido valor à coerência do produto final.

One Day foi meticulosamente montado num processo “máquina do tempo”, como se este não tivesse passado, mas a verdade é que foram três anos. As letras e ideias chocam entre si, mas as faíscas que desse chocam têm origem, comportando a capacidade de acender a chama de uma criatividade dotada de poder para satisfazer a maioria das pessoas que apreciam uma panóplia de géneros, tais como o Punk Rock, Hardcore Rock ou até Classic Rock.

A sensação que é passada é de que os Fucked Up estão simplesmente felizes por voltar a fazer música juntos, passando uma mensagem positiva àqueles que procuram o sucesso na sua arte. Não o façam com a indústria musical em mente, façam-no por vocês, com coração e alma, e divirtam-se no processo. Se não ganharem por ser espetacular, ganham por ter carácter.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Found
> I Think I Might Be Weird
> Lords of Kensington
> One Day
> Cicada

Joesef – Permanent Damage

Joesef Permanent Damage

Género: Soul/Bedroom Pop

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Já lá vão uns anos deste que o single “Limbo” viralizou Joesef e, enquanto ainda está uns furos abaixo do potencial prometido, está no caminho certo. Permanent Damage acaba por ser uma confirmação desse mesmo potencial.

As virtudes são a voz suave “soul-like”, uma produção descomplicada e temas deveras relacionáveis como o amor, mágoas e estórias da vida do dia-a-dia. Não é difícil entrar no universo do músico de Glasgow, que aparenta estar em constante confronto com sentimentos de solidão, alienação e tendências auto-destrutivas, porque este, pela sua falta de medo ou reservas com o que o afronta, deixa a porta escancarada para sermos parte da sua vida.

Permanent Damage não corre mundos e fundos. É um álbum eficaz, direto ao assunto, sem excessos desnecessários e deveras agradável. Em contrapartida, é um álbum livre de riscos e algo previsível. Joesef agarrou-se ao que sabe tão bem fazer, entregando um produto final belíssimo liricamente, mas que podia ser muito mais a nível instrumental.

As camadas que tem na escrita teimam em não se fazer entender na produção musical. Está tudo bem assim, mas podia estar muito melhor!

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> It’s Been a Little Heavy Lately
> Just Come Home With Me Tonight
> Borderline

Liela Moss – Internal Working Model

Liela Moss Internal Working Model

Género: Experimental Folk/Electronic

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Liela Moss já não é nova nestas andanças e não deveria ser tão desconhecida como aparenta ser, tal é a sua qualidade e, por consequente, valor. Mais conhecida por ser a vocalista e fundadora dos The Duke Spirit, em 2018 decidiu apostar no seu primeiro álbum a solo que, apesar de não ter sido um sucesso, demonstrou toda a sua versatilidade e inovação a nível de escrita e de produção. Principalmente pela forma como trabalha elementos do Folk, Electronic e Experimental juntos, criando um produto final deveras surpreendente, e essa “promessa” ajudou a trilhar caminho para o que iria acontecer a seguir.

Ainda que, neste álbum, a escrita e sonoridade mereçam ser salientadas, é o desempenho vocal que o define. Isto porque, apesar de nem todas as músicas terem o ritmo mais cativante ou convencional, a voz de Moss nunca falha em convencer-me de que todas as músicas deste álbum valem a pena serem ouvidas de uma ponta a outra.

Em todo o caso (e felizmente), Internal Working Model está uns furos acima do seu antecessor, ao qual não deve nada. É um álbum sombrio, complexo, profundo e algo pesado, mas se na escuridão é possível encontrar beleza para contemplar, Moss está cá para se assegurar que ela existe.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> WOO (No One’s Awake)
> Vanishing Shadows
> Ache In The Middle
> Come And Find Me
> Love As Hard As You Can

Margo Price – Strays

Margo Price Strays

Género: Alt-Country/Rock

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Depois do “hat-trick” de provas dadas finalizado com That’s How Rumors Get Started (2020), é justo constatar que associado a Margo Price, há sempre o fator qualidade bem patente. Por isso, deste 4º álbum não esperava nada menos que “bom”, e saí surpreendido na mesma. Strays é um álbum cativante e, ainda que não seja de absorção imediata, compensa para todos aqueles que o ouvem com atenção.

Há alguns fatores que explicam a sua qualidade. Em primeiro lugar, Price segue na sua demanda de hibridizar o Country com elementos musicais contemporâneos, com mestria. Posto isto, começa a ser célebre a primeira rodagem dos seus novos álbuns. Este é um autêntico arco-íris!

Em segundo lugar, Price é muito “terra a terra” na hora de escrever as suas letras e extremamente propícias a imaginá-las em tempo real, como se de uma poesia ou episódio de uma série sobre a vida real se tratassem, e em 10 músicas consegue entregar temporadas consistentes sem partes dispensáveis. “Lydia” é um dos exemplos que mais me saltou à atenção. A emoção é bem patente, tal é a sobriedade como Price escreve – palavras vindas do coração, cheias de alma e certezas.
Outra prova do brilhantismo lírico aparece bem no fim do álbum durante a música “Landfill” onde Price canta: “They say ‘it takes time to become timeless’ // But time is all I’ve got this time.”

Por último, Margo Price tem a visão e o talento para misturar as sonoridades com as palavras acompanhadas da sua voz doce, mas segura. Seja a escrever músicas mais eletrizantes como “Hell In The Heartland” ou até mesmo a escrever uma faixa de pop, como acontece com “Time Machine” (acompanhado pelo som do xilofone), a artista não falha. Posto isto, se a escrita não falar por ela, os instrumentais vão fazê-lo.

A pouco e pouco, Margo Price vai-se definindo como uma séria candidata a símbolo do Rock n’ Roll, por todo o contributo e inovação que lhe traz, aproximando-se de artistas como Patty Smith, Tom Petty ou Jackson Browne. Este álbum é o que mais joga a seu favor e facilmente poderia servir de carta de candidatura para uma futura eleição ao “Hall of Fame”, tal é a flexibilidade da sequência musical que comporta. Pode-se dizer que Price é uma estrela brilhante, que brilha com mais intensidade a cada álbum que lança.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Been To The Mountain
> Light Me Up (ft. Mike Campbell)
> Radio (ft. Sharon Van Etten)
> County Road
> Lydia

Meg Baird – Furling

Meg Baird Furling

Género: Psychedelic Folk

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Sem pressa de ir a lado algum, Furling chega aos confins de um espaço solarengo, onde a paz interior (entrelaçada com alguma intensidade) e introspeção reinam, produto de uma mistura simbiótica entre Trip-Hop, Folk e Roots. É notável a experiência da artista norte-americana, cujos trabalhos passados, que se foram sucedendo ao longo de 20 anos, evidenciam bem esta certeza. Se os músicos tivessem um currículo, Meg Baird seria a candidata certa para uma série de profissões bem distintas.

Já disse isto sobre o álbum de Margo Price, mas volto a repeti-lo aqui porque é um facto: Furling é um álbum que recompensa quem tem paciência e lhe dá tempo de antena, dada a sua densidade. Demorou a chegar, mas é um álbum expansivo que se assemelha a um prémio de carreira, desenvolvido por Baird e partilhado connosco.

Há imensos pormenores deliciosos que vão aparecendo ao longo de uma sequência musical que se equilibra e compensa a ela própria entre a suavidade e a intensidade, sendo a guitarra de “Star Hill Song” um dos meus preferidos. A par com isso, segue toda a inegável e genuína emoção de uma artista com tanto para nos mostrar em tempo limitado, mas que nos faz sentir seguros e amados.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Ashes, Ashes
> Star Still Song
> Unnamed Drives
> Will You Follow Me Home?

Rozi Plain – Prize

Rozi Plain Prize

Género: Experimental Folk/Ambient

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Com Prize, Rozi Plain está em fuga das correntes que a prendiam a determinados géneros e abordagens mais simples e alegres. Arriscou (e bem) e o resultado é o seu álbum mais introspetivo, com texturas detalhadas e aprimoradas – e o melhor até à data, também.

É um álbum com densidade, mas que não exige 100% de foco para perceber o quão cativante pode ser, perfeito para servir de companhia em momentos de solitude. Isto porque a sensação que melhor transmite é a de calma e paz interior. No entanto, é um desperdício ser usado apenas como barulho de fundo, tal e o detalhe nos arranjos que o compõem. “Painted the Room” é a música mais impressionante nesse aspeto, com cerca de 2 minutos seguidos de instrumental, que se dissipam num período de tempo que parece meros segundos – é de uma complexidade tão subtil que passa despercebida. Pessoalmente, só à terceira vez que ouvi o álbum é que atingi isso, e agora não percebo como é possível imaginar esta mistura de sons ou até todo o processo criativo por detrás da composição dos mesmos.

A verdade é que Plain faz parecer fácil a produção deste tipo de sonoridades excêntricas, sem nunca entrarem em estado de ebulição. Resumidamente, é fácil (e tão bom) ouvir este álbum sem perceber toda a arquitetura por detrás. No entanto, Prize é uma peça de arte musical e, mais do que ser ouvido, é para ser contemplado, que quando absorvido parece mais curto do que é.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Agreeing For Two
> Help
> Prove Your Good
> Painted The Room

Samia – Honey

Samia Honey.jpeg

Género: Indie Pop/Bedroom Pop

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Aos 26 anos de idade e três anos depois do primeiro álbum que surpreendeu praticamente toda a crítica, Samia Finnerty presenteia-nos com Honey. Ainda que considere um grande passo em relação a The Baby, não estou 100% certo que seja um passo seguro, mas antes de explicar o que quero dizer com isto, quero-vos apresentar Samia devidamente.

Para isso, nada melhor que pegar na observação que Ella Kemp fez, referindo que pode ser comparada com Phoebe Bridgers ou Olivia Rodrigo, devido à abordagem mais vulnerável e confessional que faz ao indie pop. Eu diria que Samia é o ponto de equilíbrio perfeito entre as duas! A voz angelical pende mais para Bridgers, enquanto a sonoridade e ritmo “adolescente” pende mais para Rodrigo.

Regressando ao álbum… No geral é bom e, na sua extensão, podemos ver a artista a expor-se ao mundo como um livro aberto, enquanto brinca com sonoridades e rasga com a intimidade das letras que capturam as emoções do carrossel que se chama “vida”. Samia sabe bem o que sente e tem plena consciência do que a rodeia, mas ainda sabe melhor dar-lhe um “corpo” e profundidade através das sua músicas.

No geral, é um álbum agradável que facilmente poderia passar na rádio e satisfazer uma vasta maioria, tal é a naturalidade com o qual se criam elos de ligação. Há músicas brutais como “Kill Her Freak Out” ou “Breathing Song”, músicas de pop com harmonias belíssimas como “Charm You” ou “Honey” e, no seu todo, o álbum tem uma abordagem constante e com sentido. Contudo, é difícil ignorar “Mad At Me”, uma faixa sem qualquer ligação com o resto do álbum, que cai de paraquedas quando começamos a perceber o intuito do álbum. Não é que a música seja má, mas é uma red flag a nível de alinhamento, num álbum que podia ser mais completo, sem ela.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Kill Her Freak Out
> Charm You
> Sea Lions
> Honey

The Murder Capital – Gigi’s Recovery

The Murder Capital Gigis Recovery

Género: Post-Punk

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Ao segundo álbum, a “jovem” banda de Dublin salienta que a reencarnação atual do Post-Punk está longe de ter terminado e traz uma lufada de ar fresco aos adeptos do género, que parece ter um futuro sorridente se depender dos The Murder Capital.

Depois de Fontaines D.C., Idles e Shame (os dois primeiros tive o prazer de ter visto ao vivo no NOS Alive e Vodafone Paredes de Coura, respetivamente), eis mais um produto do melhor contributo que o Reino Unido pode dar à cultura musical: o Punk. E as boas notícias? É que os The Murder Capital vêm este ano a Portugal, para atuar no Primavera Sound.

Gigi’s Recovery tem a capacidade de mexer connosco pela forma pura como as letras dançam e se mexem como se tivessem vida e deambulassem à procura do seu propósito neste mundo cruel. Já os instrumentais acarretam certeza no seu poder, texturas e melodias climáticas, que criam uma tração e momento únicos.

Assim se compõe um álbum excelente e constante que segue em velocidade cruzeiro, sempre com um destino em vista, mas com rasgos de genialidade pelo camino. Primeiro com “Return My Head”, que deixa o mesmo sabor eletrizante das faixas mais rasgadas de Placebo; depois com “The Stars Will Leave Their Stage”, com um instrumental e narrativa capaz de fazer Nick Cave sentir orgulho; e, por fim, “A Thousand Lives”, que é uma amostra daquilo que poderia ser um single principal de um álbum dos Radiohead, dotada de um solo arrebatador.

O ano começou em janeiro e, com ele, surgiu aquele que tem potencial para figurar em várias listas de “álbuns do ano”. Chama-se Gigi’s Recovery e é um dos álbuns mais bipolares entre o hipnótico e o eletrizante que já ouvi.

Ao segundo álbum, os The Murder Capital já têm a confiança e estofo de banda grande, e não podia estar mais feliz por saber que vou poder assistir ao vivo ao início daquela que tem tudo para ser uma carreira brilhante.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Return My Head
> Ethel
> The Stars Will Leave Their Stage
> A Thousand Lives
> Only Good Things

Outros álbuns a ouvir:
> Gaz CoombesTurn The Car Around
> LåpsleyCautionary Tales of Youth

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