Kirby estreia-se num jogo em nome próprio inteiramente em 3D pela primeira vez em 30 anos, num título que me levou aos tempos em que adorava simples jogos de plataformas e aventura.
Recordo-me da primeira vez que um amigo meu me introduziu a jogos de tiros, um género que, nos 12 ou 13 anos, me afastavam por achar que não só eram um pouco violentos e adultos demais para mim, como sentia que não tinha a destreza para ultrapassar os desafios propostos. Na mesma altura, os meus gostos pessoais recaiam em géneros mais amigáveis para a minha faixa etária, tais como jogos de corridas e de plataformas.
Este gosto pelo género de plataformas, que na altura começava a ser cada vez mais em ambientes 3D após o sucesso de Super Mario 64, era bastante consciente e não forçado pela ideia que os outros jogos eram mesmo violentos para a minha idade. Explorar vários mundos/níveis de forma sequencial, enquanto tentava apanhar todos os itens e segredos antes de avançar para um boss, eram a minha distração favorita quando não estava a fazer os trabalhos de casa ou a ver outra bonecada na televisão. E por vezes esqueço-me do quão incríveis eram esses tempos.
Hoje em dia não nos faltam jogos deste género que são cada vez mais produzidos por equipas muito apaixonadas mas com menos apoio de estúdios maiores, encaixando-se mais na ali no grupo da cena independente. Com a exceção, claro, da Nintendo, que agora nos trouxe Kirby and the Forgotten Land.
Desenvolvido pela HAL Laboratory, que é bastante familiar das aventuras de Kirby, senti que era a oportunidade perfeita de reacender a chama, com a promessa de ficar novamente colado num jogo do género como não tem sido hábito nos últimos anos. E para felicidade minha, Kirby and the Forgotten Land conseguiu isso.
Kirby and the Forgotten Land conta uma premissa simplificada e clássica para motivar Kirby para a aventura. Um dia no mundo de Kirby abre-se um portal que suga tudo e todos para um mundo pós-apocalitico, onde os seus amigos, os Waddlre Dees, foram raptados pelas forças do Beast Pack. E agora cabe a Kirby resgatá-los para que possam viver felizes na sua pequena vila.
Kirby and the Forgotten Land levou-me aos tempos em que adorava simples jogos de plataformas e aventura.
Pela sua simplicidade, Kirby and the Forgotten Land conseguiu relembrar-me rapidamente das razões pelas quais adorava colecionar diamantes em Croc ou libertar Lums em Rayman 2. Mas as suas mecânicas, progresso e filosofia de design tão familiares e transversais a qualquer collectathon (um termo que só muito tarde na minha vida de jogador é que vim a aprender e a perceber o seu significado) vieram fortalecer este sentimento nostálgico pelos meus jogos de infância. É um jogo old-school, mas pintado de fresco, que prova como este é um formato perfeito para introduzir os mais novos aos videojogos, enquanto que serve de desculpa para os mais velhos desfrutarem de algo mais relaxante.
A nova aventura de Kirby está carregada de uma nostalgia inesperada, até porque esta não foi só a estreia de Kirby num jogo 3D. Foi também a minha estreia com um jogo desta adorável mascote da Nintendo, sendo fácil encontrar comparações e familiaridades a outras pérolas passadas fora do universo da Nintendo.
Ao contrário do que esperava encontrar em Kirby and the Forgotten Land, que era um jogo mais de mundo aberto como os primeiros trailers pareciam aludir e a própria indústria continua a forçar, esta aventura surpreendeu-me pela sua linearidade casual, com sequências de níveis distintos entre diferentes ambientes que evocam uma sensação de descoberta extremamente satisfatória, ao mesmo tempo que apresentam algumas pequenas ansiedades deliciosas ao querer descobrir o que vem a seguir.
Ao mesmo tempo, Kirby and the Forgotten Land apresenta nos seus níveis passagens secretas, segredos e colecionáveis, que tornam a exploração de cada nível mais complexa, sem forçar a avançar rapidamente ou debitar uma quantidade infinita de objetivos e locais para explorar. Tudo é dado de forma moderada, descontraída e segmentada, com espaço para repetição e experimentação de novas habilidades que vamos desbloqueando.
A jogabilidade de Kirby and the Forgotten Land não podia ser mais simples e familiar, com controlos intuitivos e responsivos. O grande destaque da jogabilidade vai para as habilidades de Kirby que, ao sugar inimigos, absorve as suas armas e ataques, e para o mouthfull mode, que permite a Kirby tomar posse de objetos e máquinas, como máquinas de sumo, cones de construção ou até um carro, para resolver alguns desafios ou abrir passagens secretas.
A simplicidade da jogabilidade desdobra-se através de uma lista simpática e variada de habilidades e poderes únicos, que podem ser evoluídos através de um hub principal e que podem ser decisivos para algumas batalhas com bosses.
Uma excelente porta de entrada nos videojogos para os mais novos.
Não é um jogo difícil, mas pode ser desafiante o quanto basta. Apesar de permitir a escolha de uma dificuldade para os mais capazes, esta continua a tornar Kirby and the Forgotten Land numa viagem pelo parque. Isto é, se não estivermos a falar nos timetrials espalhados pelo mapa do jogo, cujos tempos a bater são absurdamente restritos, requerendo uma precisão e capacidades de controlo de Kirby bem acima da média. São momentos divertidos, mas que contrastam um pouco com toda a vibe que o jogo apresenta. Felizmente, quebrar os recordes é algo secundário, uma vez que a simples finalização dos níveis recompensa o jogador com as estrelas para atualizar habilidades.
Visualmente, Kirby and the Forgotten Land coloca-se entre os jogos mais bonitos e agradáveis da Nintendo Switch. Tudo graças ao fantástico trabalho de animação e ao departamento de arte, que apresentam um jogo cheio de cores fortes, personagens bem modeladas e adoráveis, assim como uma ótima sensação de profundidade no seu mundo e níveis, pelas adoráveis animações de Kirby e amigos e direção das suas curtas cinemáticas. Tudo junto, torna Kirby and the Forgotten Land algo perto de uma série de animação, capaz de enganar os mais desatentos de que é, de facto, um jogo. No entanto, os jogadores mais habituados irão encontrar os limites da Nintendo Switch, especialmente em TVs de grandes dimensões, onde a resolução nativa revela uma imagem com arestas serrilhadas e texturas de baixa resolução. O mesmo em modo portátil, mas com menos impacto. E tudo a 30FPS, com exceção de alguns momentos e navegação de menus.
Kirby and the Forgotten Land é uma delícia de jogo. É novo, é uma estreia, mas é igualmente uma pérola que vem de uma concha bem antiga, com toda a simplicidade e inocência dos jogos que os jovens adultos e potenciais pais experienciavam nos seus primeiros jogos de ação e aventura, revelando assim que é, também, uma excelente porta de entrada para os mais novos.
Kirby and the Forgotten Land pode ser jogado na Nintendo Switch e experimentado com uma demo disponível na Nintendo eShop.
Cópia para análise cedida pela Nintendo Portugal.