O título da Masaya Games chega finalmente ao ocidente, 29 anos depois da sua estreia.
Apesar de não já não gozar da popularidade que conquistou no passado, o género de ação espacial, ou shmups, continua a marcar presença na indústria dos videojogos, seja através de reedições de clássicos de décadas passadas ou de novas tentativas em expandir as suas mecânicas para novos formatos e visuais. Existe, de facto, um trabalho de arqueologia constante que tem vindo a ressuscitar títulos que se julgavam perdidos, como o recente G-Darius HD, que já analisámos, mas o caso de Gleylancer é mais curioso. Lançado originalmente em 1992, o título da Masaya Games ficou preso no mercado japonês e na antiga Mega Drive para agora, quase 30 anos depois, renascer como uma pérola do passado, revelando a um novo público aquele que é um jogo muito divertido e desafiante.
O trabalho de reedição da Ratalaika Games tentou respeitar ao máximo a versão original de Gleylancer e à exceção de novos menus, onde podemos efetuar gravações, da presença de um botão de “rewind”, que nos permite corrigir alguns lapsos da nossa parte, e de alterações estratégicas para controlos mais modernos, o título da Masaya Games chega ao PC e novas consolas tal como se estreou em 1992. O foco continua a estar na sua história clássica, de uma filha que procura salvar o seu pai no meio de uma enorme batalha galáctica, contada através de sequências inspiradas por animes da década, muito detalhadas e coloridas, perfeitas para os mais nostálgicos do género; mas também nos combates espaciais e na dificuldade extrema que se desenvolve ao longo dos seus 11 níveis, intercalados por estes momentos narrativos.
Não podem regressar a Gleylancer à procura de inovações, mas existem vários elementos que evidenciam como é uma entrada peculiar e muito forte no género de ação. Ao contrário de outros títulos da época, Gleylancer não aposta nas melhorias da nave titular, nos tradicionais power-ups, nos padrões impossíveis de balas ou nas bombas destrutivas que servem para eliminar todas as naves inimigas em ecrã. A Masaya Games despiu o jogo dessas distrações e focou a atenção na utilização de dois canhões secundários que dão ao jogador a possibilidade de utilizar novos tipos de disparos, desde lasers até a balas que refletem nos cenários e a bolas de fogo. Estes canhões nunca evoluem ao longo da campanha, não adicionam novos padrões de disparo ou oferecem novas oportunidades estratégicas, mas servem sempre um propósito dentro das várias fases de cada nível e é absolutamente necessário saberem trocar entre eles para serem mais eficazes.
Em comparação a títulos mais recentes, esta ausência de melhorias significativas poderá ser contraproducente ou menos entusiasmante, mas a campanha de Gleylancer está devidamente construída para enaltecer a troca entre canhões. Não só o design dos níveis nunca vai além das capacidades da nave, abusando em padrões injustos de inimigos e projeteis, como o jogo dá-nos a possibilidade de escolhermos sete métodos de funcionamento para os vários canhões, que podemos ativar no início da campanha. Temos, por exemplo, métodos de utilização com padrões normais, com os canhões a moverem-se com a direção da nossa nave, até a padrões invertidos, miras automáticas e três miras diferentes. Existe variedade num jogo que quer ser simples e intuitivo do princípio ao fim.
Mas o que me deixou absolutamente fascinado com Gleylancer, especialmente quando equacionamos que foi lançado há 29 anos, foi o seu design de níveis e a aposta regular em novos elementos e em sequências que adicionam sempre um novo desafio a cada partida. Apesar de não ter adorado os padrões dos inimigos e a falta de visibilidade dos projéteis devido às cores e animações dos fundos de cada nível, foi impossível não ficar rendido à dedicação da Masaya Games em proporcionar ao jogador uma sensação de mistério e desafio permanentes. Um nível tem, por exemplo, uma enorme sequência de plataformas, onde temos de evitar blocos que se movem em alta velocidade, e também um nível onde temos de quebrar gelo para fazer o nosso caminho, relembrando o clássico Salamander. Nunca sabemos o que vamos encontrar no próximo nível e isso é de louvar.
Não conhecia a história de Gleylancer e da produtora Masaya Games, que também produziu Cybernator, Langrisser e Cho Aniki, mas fiquei feliz por conhecer um clássico nunca antes lançado no ocidente. A minha recomendação é direcionada aos fãs do género, mas é limitada por um simples fator: o seu preço. Pelo valor certo, Gleylancer é uma excelente aposta, mas é preciso relembrar que é um relançamento limitado, muito fiel à versão original e sem extras que justifiquem um investimento avultado – tem apenas a opção rewind, de gravação e um esquema de controlo mais modernos (como a possibilidade de movermos os canhões com o analógico direito). De facto, existem melhores ofertas nas lojas digitais, outra versão incontornável. Mas pelo preço certo? Não pensem duas vezes.
Cópia para análise (versão PlayStation) cedida pela PR Hound.