Um clássico esquecido regressa ao PC com uma remasterização a cargo da Nightdive Studios.
Não é fácil voltar atrás. Por mais que nos enganemos e por mais que as saudades apertem, não é tão fácil regressar aos videojogos da nossa infância e adolescência quanto pensamos. Os óculos da nostalgia nem sempre funcionam, e se um filme consegue resistir facilmente à passagem do tempo, os videojogos já são mais propícios a uma enorme falta de comunicação geracional, com mecânicas, decisões e filosofias de design a chocarem violentamente com as tendências atuais. O tempo é cruel.
Conheci Shadow Man em 2000, há 21 anos atrás. Em 2000, tinha apenas 13 anos, uma PlayStation e um amor incondicional por RPG, mas o título da Acclaim fascinou-me. A sua jogabilidade aproximava-o de um Legacy of Kain: Soul Reaver e de Tomb Raider, pelo menos num primeiro contacto, e a sua arte mórbida, inspirada pela banda desenhada do mesmo nome – criada por Jim Shooter, Steve Englehart e David Lapham –, era tão assustadora como intrigante. Mas Shadow Man foi confuso, difícil e quase sempre desorientador devido ao seu sistema de navegação e desbloqueio de novas zonas – que está associado ao número de Dark Souls que encontramos. Em pouco tempo desinteressei-me, senti que o jogo me tinha vencido e passei à frente. 21 anos depois, aqui estou eu, exatamente no mesmo local, neste mundo de anjos e demónios, de vudu e lendas mitológica.
Como podem prever, não sabia o que ia reencontrar em Shadow Man Remastered, agora a cargo da Nightdive Studios: se uma nova experiência, que seria enaltecida pelos meus anos de experiência, ou a mesma aventura confusa, desorientadora e pouco acessível que tinha encontrado em 2000. Para minha surpresa, os óculos da nostalgia foram atirados pela janela fora e deparei-me com um delicioso jogo de ação e aventura que, anos depois, continua a ser visualmente marcante e com uma estrutura pouco linear.
Para todos os efeitos, é o mesmo Shadow Man que me enlouqueceu há tantos anos atrás, mas o polimento da Nightdive Studios deu uma segunda vida a este clássico. Os cenários estão mais apurados, as cores mais vivas e a alta definição revitalizou os modelos algo poligonais de Shadow Man e companhia. A iluminação também foi melhorada e as partículas funcionam melhor em contraste com os cenários escuros, livres do aspeto lamacento das consolas de 32 bits. A jogabilidade também parece ter recebido algumas melhorias, mas não sei até que ponto é verdade. A minha experiência com o jogo foi tão negativa que recordo-me de achar os controlos muito complexos e difíceis de utilizar, mas, nesta versão remasterizada, dominei rapidamente este elo perdido entre os “tank controls” e os títulos de ação na primeira pessoa, que viriam a popularizar-se na geração seguinte. Uma surpresa agradável em todos os sentidos e a Nightdive Studios parece continuar a surpreender nestes relançamentos.
A estrutura e foco na exploração surpreenderam-me. Não me recordava que Shadow Man apresentava tantos caminhos alternativos e alguma liberdade de escolhas no que toca à progressão da campanha. A abertura de portais, que dão acesso a novas zonas, está restrita à recolha de Dark Souls – almas especiais que funcionam também como colecionáveis–, mas senti que existia sempre espaço para explorar e descobrir novos caminhos. A ação divide-se quase em duas partes: no Deadside, onde decorre a maioria da campanha, e o mundo normal – também denominado como Liveside. Se, em Deadside, Shadow Man tem acesso a várias armas e habilidades, tal como a sua inabilidade para morrer, já no quotidiano as suas habilidades são muito mais limitadas e senti que a ação focava-se muito mais na navegação dos níveis e na resolução de puzzles. Não tem a complexidade das aventuras de Lara Croft, mas existem muitos segredos para encontrarem.
Shadow Man Remastered é um jogo difícil de recomendar para os jogadores que falharam o seu lançamento original, mas é uma janela nostálgica para uma época de experimentação na indústria. As aventuras em 3D ainda estavam a encontrar o seu estilo e mecânicas, e parecia que existia muito mais uma aposta nas ideias e no ambiente dos videojogos do que propriamente numa solidez no design destas experiências. Com uma remasterização sólida e um preço muito convidativo, de 16,79€ (e está em promoção até 22 de abril, por 12,59€), não descartem Shadow Man.
Disponível para: PC. Em breve na Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch.
Jogado no PC.
Cópia para análise cedida pela Uberstrategist.