Vodafone Paredes de Coura 2023, Dia 3 – Os Kokoroko querem toda a gente a dançar, o triunfo no vaso sanitário de DOMI & JD Beck e a consagração à chuva de Little Simz

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Muitas atuações marcantes.

O dia começa com A Garota Não a fazer reprise com um concerto fora de portas no quartel das artes, antigo quartel de bombeiros no centro da vila que é hoje casa das Comédias do Minho, companhia teatral itinerante por vários concelhos do Alto Minho e que já esteve, por exemplo, no Palácio de Belém por ocasião do dia mundial do teatro. Trabalho meritório que merece sempre divulgação.

Já nas proximidades do rio Coura e praia fluvial do Taboão, os KOKOROKO não estavam para ter a gente placidamente sente a apreciar a atmosfera. O coletivo sediado em Londres que leva jazz e afrobeat ao mundo está tão confortável nos Royal Albert Hall (atuação nos Proms) como no noroeste peninsular, e pede a todos para se levantarem e para dançar, contagiando com a sua boa disposição.

Mudança radical quando chegamos ao palco Yorn, onde estão os portugueses Expresso Transatlântico. Os irmãos Gaspar e Sebastião Varela e Rafael Matos cometeram a proeza de trazer novidade num local onde já ouviu de (quase) tudo – dar destaque à guitarra portuguesa. Os autores de “Primeira Rodada” e “Alfama, Texas” dão enquadramento novo ao icónico instrumento luso, com a bateria a funcionar especialmente bem. Esperamos que o espaço dado aos talentos emergentes portugueses seja cada vez maior, e num horário com a dignidade como foi este das 19h40.

DOMi & JD Beck à partida iam ganhar a taça do virtuosismo e não foi preciso esperar pelo fim do jogo para perceber que o prognóstico estava certo. Foi casamento perfeito com o ambiente à volta, a francesa Domi Louna trouxe os seus totós prodigiosos no cabelo e o seu banco-sanita para dar uma amostra ao teclado de quem fez conservatório, enquanto JD Beck não falhava uma batida na bateria nesta mistura boa de influências que os levou a ser mais recente contratação da Blue Note. Desta vez, as nomeações para os prémios Grammy foram mesmo justificados, até quando DOMi se engana no alinhamento e ouve um ralhete bem disposto do companheiro. Nada parecido com estes.

Thus Love ao longe fazia efeitos vocais intrigantes, a cortar a voz qual adolescente a mudar do timbre infantil para o adulto e vice-versa, mas foi Yung Lean, rapper sueco, que trouxe consigo a história mais inusitada dos artistas em palco – teve um acidente de viação com o seu manager a sair do aeroporto. Talvez por isso, e mesmo sendo a primeira vez a atuar em Portugal (mas sendo de acordo com ele uma terra que conhece bem e que já visitou muitas vezes), dá uma prestação meio abananada e em que insiste muitas vezes a dizer que está no Porto. Não estava.

Num fim de tarde pautado pelo início da chuva – primeiro intermitente e molha tolos, depois cada vez mais insistente quando chega a noite, os Maquiiinaria foram reforço de vigésima terceira hora pela não presença das The Last Dinner Party. Ainda muito desconhecidos para a generalidade do público (encontrar obra publicada deles é tarefa não óbvia de concretizar), no entanto a guitarra e baixo deram uma bela prestação que teria deixado orgulhoso o grande Peter Brotzmann, mito do free jazz que partiu há poucos meses.

Importa ser sincero, a bola primeiro e a chuva depois fez-nos perder Black Midi e Little Simz. Mas reportagem é também, e muito, recolher impressões de quem vai, e não é difícil de acreditar que foram atuações marcantes, no caso de Little Simz a transpor de forma triunfante Sometimes I Might Be Introvert e No Thank You para o palco – coisa nem sempre fácil em artistas de hip hop e que a inglesa, no último espetáculo da sua tournée executou de forma brilhante no Vodafone Paredes de Coura. Talento nato.

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