Vampire Weekend no Coliseu de Lisboa – Eles comem (quase) tudo

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Já dizia o saudoso Zeca Afonso que os vampiros comiam tudo e não deixavam nada. Os vampiros de que falava eram outros (infelizmente alguns – demasiados até – ainda aí andam) e não têm nada que ver com estes Vampire Weekend. Mas a expressão assenta-lhes bem depois de mais uma (bem-sucedida) passagem por Lisboa. Deram, efetivamente, quase tudo para saírem vencedores de mais um encontro com o público português.

Depois da presença no NOS Alive em julho passado, o reencontro deu-se num Coliseu dos Recreios lotado, sala condizente com o estatuto de banda de 1ª água que têm praticamente desde os seus primórdios.

Para aquecer motores, a escolha recaiu sobre os dinamarqueses LISS, jovem banda perfeita para este tipo de situações – a mescla de eletrónica-rock-soul-r&b sonorizou da melhor maneira o tempo de espera enquanto se punha a conversa em dia, se localizava os amigos ou se batia o pezinho, ao mesmo tempo que se dava uma vista de olhos no Tottenham de Mourinho (e não é que deu a volta ao resultado?).

Após um intervalo considerável de quase seis anos, a banda regressou este ano aos álbuns com Father of the Bride. Perderam entretanto Rostam, figura importante no processo criativo do grupo, mas não perderam a sua essência. Ezra Koenig continua aprumadinho (será o betinho mais cool de sempre?) e com voz doce e delicada, Chris Baio irrequieto e dançarino (e cheio de estilo) e Chris Tomson a dar-lhe forte no bombo e nos pratos.

Father of the Bride pode não ser o seu melhor trabalho (o que não significa que seja mau, antes pelo contrário), mas o bom gosto e as influências continuam lá. Mantêm-se os ritmos africanos e os ensinamentos de Paul Simon, as harmonias sul-americanas, a pitada de punk via The Clash, e a escola dos The Police. Em palco são sete elementos (aos três originais, somam-se mais um baterista, um guitarrista com uma cabeleira afro de fazer inveja, um teclista e uma multi-instrumentista/corista), permitindo mais soluções na transposição do disco para o concerto.

“Flower Moon”, canção do novíssimo álbum, deu o tiro de partida para o abanar de ancas. Father of the Bride foi elemento central do concerto, sendo tocado quase na sua totalidade, mas o passado não foi, de todo, esquecido. “Holiday”, de Contra, foi a segunda escolha, para satisfação da maioria (a avaliar pela reação aos primeiros acordes). E não há como não sorrir e saltar a cada cancão. É como se existisse um manual de “Como abanar as ancas para Totós” em praticamente todas as suas canções. Não há pé de chumbo que resista.

Desenganem-se aqueles que pensam que um concerto de Vampire Weekend se resume a estes replicarem ao vivo o que criaram em estúdio. Denominador comum a praticamente todas as canções são os arranjos revistos e embelezados, tornando canções menos celebradas em escutas ativas.

Ezra Koenig é o porta-voz (e figura maior) dos Vampire Weekend. É o típico rapaz que faz as delícias de qualquer avó (e de todas as suas amigas). Simpático, lembrou que, sem contar com os concertos em festivais, não tocam em Lisboa em nome próprio há quase 10 anos (serão os festivais que não deixam, ou as bandas que não querem?).

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“One (Blake’s Got a New Face)”, contou com a colaboração da assistência nos coros (como, aliás, durante todo o concerto – a participação do público foi uma constante). Infelizmente foi a canção que revelou as nossas desconfianças de que o volume estava demasiado alto e estridente. Em alguns momentos, chegou a ser desconfortável (quem nos mandou deixar os tampões em casa?), especialmente em canções com elementos mais agudos. Manteve-se logo a seguir com “Sympathy”, aqui com versão mais musculada que em disco.

Prova de que não caem na armadilha da setlist rígida e constante ao longo da digressão, atiram-se a uma bela versão de “Jonathan Low”, presente na banda sonora de um dos filmes da saga Twilight, nunca antes tocada em Portugal. As guitarras são cristalinas e solarengas e a voz suave. É um excelente exemplo de que não sabem fazer más canções.

“Sunflower” teve direito a solo de guitarra, que não deixaria Brian May envergonhado, mas que, reconhecemos, pedia um bocadinho menos de extensão. Ainda assim memorável.

“This Life”, uma das nossas preferidas do último álbum (Danielle Haim tem um papel primordial para tal), não se mostrou tão consistente ao vivo quanto esperávamos. “Harmony Hall”, o primeiro avanço do disco após longa ausência, é cantada em uníssono (e com belos arranjos), prova de que o novo álbum certamente terá mantido (e captado) seguidores.

“Diane Young”, “Cousins” e “A-Punk” são servidas de seguida. Três em três. Nem todos o conseguem fazer. “2021” revelou que também o auto-tune seduziu Ezra Koenig (mas que não lhe fica bem). Tiro menos certeiro.

“Giving Up the Gun”, mais desconstruída e robusta do que a conhecemos, foi recebida com alguma frieza pelos presentes. E, a fechar o que seria a primeira parte do concerto dos Vampire Weekend, “Jerusalém, New York, Berlim”, em jeito de anti-climax em versão longa.

O público pediu encore e este chegaria rapidamente. Visto terem ficado tanto tempo “ausentes”, quiseram aceder a pedidos do público. “Boston (Ladies of Cambridge)” e “The Kids Don’t Stand a Chance” foram duas das escolhas. Mas o momento alto chegaria com a banda a aceder ao pedido um italiano de Nápoles, para tocar com a banda “My Mistakes”. E não é que o rapaz se safou impecavelmente ao piano?

Era o fim da digressão europeia e, nas palavras do próprio Ezra, o sítio perfeito para tal acontecer. Não duvidamos. Asseguraram que fariam os possíveis para que não ficassem outros 10 anos até regressar. Os presentes cá estarão para cobrar a promessa.

Faltava “Walcott” (e dois globos gigantes a saltitar pela plateia), que se encarregaria de fechar com chave de ouro 2h10 de pura diversão e energia neste concerto dos Vampire Weekend em Lisboa. Quando é assim, ninguém se importa que eles que levem tudo.

Fotos de: Tiago Cortez

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