The Threesome – Review: Quando a premissa é mais forte que o enredo

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The Threesome é vítima da sua própria ambição. A história, que começa por questionar de forma inteligente as convenções sociais e a natureza das relações, perde-se em artifícios narrativos e num tratamento desigual dos seus protagonistas.

Nos últimos anos, obras que se propõem a explorar relacionamentos não-tradicionais ou dinâmicas familiares pouco convencionais têm-se tornado mais comuns, mas nem sempre conseguem fazê-lo com a profundidade necessária. A maioria cai na armadilha de usar o tema como um mero chamariz, sem mergulhar nas emoções genuínas ou nas complexas ramificações que tais situações acarretam. Com o historial do realizador Chad Hartigan (Morris from America) em filmes românticos e a estreia do argumentista Ethan Ogilby, fiquei curioso para ver se The Threesome deixou a mesma marca que deixou a muitos no festival SXSW.

A premissa leva-nos para o turbilhão emocional de um triângulo amoroso que rapidamente se transforma numa situação ainda mais complexa. Depois de uma noite apaixonada a três, Olivia (Zoey Deutch) e Jenny (Ruby Cruz) descobrem que ambas engravidaram do mesmo homem, Connor (Jonah Hauer-King). O enredo segue a tentativa caótica e, por vezes, dolorosa, dos três navegarem esta nova realidade.

Uma das maiores forças de The Threesome (e algo que é notável e que deve ser aplaudido) é a forma como se propõe, sem medos, a analisar explicitamente as diferenças de perceção entre homens e mulheres na mesma situação. É uma crítica mordaz e real. Connor, ao ser pai de dois filhos de duas mulheres diferentes ao mesmo tempo é visto pela sociedade como um feito, um motivo para dar-lhe os parabéns. Já Jenny e Olivia são rotuladas de desesperadas ou patéticas, presas numa situação que as desvaloriza. O argumento encontra-se recheado de pequenos momentos como este, todos com a sua crítica social implícito, num olhar profundo sobre as convenções e preconceitos que ainda vivem em nós.

A abordagem de Hartigan é corajosa por também não se envergonhar de falar abertamente sobre tudo aquilo que, noutras produções, seria considerado tabu. Desde o ato sexual em si até ao caos da dupla gravidez, tudo é falado e abordado de forma genuína, por mais intensa que seja a situação. A química palpável entre Deutch, Cruz e Hauer-King é o grande motor de The Threesome, com os três atores a incorporarem as complexidades e as falhas das suas personagens sem esforço, fazendo com que as suas interações sejam sempre credíveis, mesmo quando as circunstâncias se tornam absurdas.

Será possível não desenvolver sentimentos por alguém com quem se partilha uma gravidez? Essa é uma das questões que a obra se propõe a abordar de uma forma complicada, levantando um tema central: a tensão entre a atração sexual e a ligação emocional. The Threesome questiona se a paternidade, por si só, é suficiente para forçar a criação de um laço romântico ou se a responsabilidade partilhada por uma criança pode coexistir sem a necessidade de uma relação amorosa. Esta é a grande premissa psicológica do filme e o que o diferencia de outras comédias românticas.

No entanto, Hartigan e Ogilby têm dificuldades em manter um certo equilíbrio e, embora algumas partes sejam demasiado melodramáticas e rebuscadas apenas para adicionar mais um obstáculo ao enredo, outras revelam situações totalmente válidas e prováveis de acontecer num cenário que, por si só, já é insano. O filme tenta, de alguma forma, fazer com que as várias trajetórias das personagens convirjam para uma mensagem sobre as pessoas que se tentam unir quando tudo parece impossível.

The Threesome também explora a complexidade de se construir uma estrutura familiar não-tradicional num mundo que valoriza a monogamia e a família nuclear. A narrativa questiona a natureza do amor e da união, se é algo que nasce da atração, do acaso, ou de uma obrigação partilhada. O argumento ilustra de forma convincente como as personagens são forçadas a lidar com expectativas da sociedade e com as suas próprias crenças sobre o que constitui uma família, enquanto tentam desesperadamente manter a sanidade. E é através deste caos que a obra atinge os seus melhores momentos, revelando a força e a fragilidade das relações humanas.

No entanto, é apenas a história de Olivia que nos leva realmente a sentir algo. O seu percurso passa por uma verdadeira montanha-russa emocional, através das suas crises emotivas e dos seus monólogos ricos, conseguindo assim estabelecer uma ponte emocional com as audiências. Já Jenny fica presa num problema secundário com a sua família, num conflito sobre tradições e falta de confiança entre pais e filha, mas tal linha narrativa torna-se previsível e pouco interessante. E Connor, apesar de estar ligado às duas, é o menos fascinante do trio. À exceção de uma única cena, nunca mergulhamos verdadeiramente nos seus sentimentos, como acontece com Olivia. Vemos apenas planos do personagem a pensar ou, quando finalmente se emociona, é em momentos ridículos, como quando fica chateado com Olivia por ter dormido com outra pessoa, quando ele próprio engravidou Jenny.

E isso leva-me a outro grande problema. Os três protagonistas têm imensos momentos que nos fazem detestá-los. Mais uma vez, Olivia é a única que consegue ter momentos que a resgatam e, mesmo que não me convençam totalmente, pelo menos é honesta e mostra-o através das suas expressões e diálogo. Tanto Connor como Jenny fazem e dizem coisas que são simplesmente disparatadas, que podiam ser facilmente evitadas. A premissa de The Threesome é uma loucura, mas poderia perfeitamente acontecer na vida real. Contudo, quanto mais a narrativa se torna confusa, menos credível se torna. Chegamos a um ponto em que, como espetadores, perdemos o interesse e a vontade de nos importar com estas personagens.

O final também soa forçado. Nem todos os personagens fizeram o suficiente para justificar o seu desfecho. Sente-se que é injustificado, algo “estranho”, que nos deixa a pensar na lógica da sua resolução. No entanto, é impossível não destacar a cena que antecede o ato do trio (que não é mostrada). É uma cena sexy, escaldante e, acima de tudo, convincente. É evidente que todos querem e que o consentimento está lá. A química é inegável, e é uma excelente base para toda a premissa… pena que o desenvolvimento da mesma fique aquém do esperado.

VEREDITO

The Threesome é vítima da sua própria ambição. A história, que começa por questionar de forma inteligente as convenções sociais e a natureza das relações, perde-se em artifícios narrativos e num tratamento desigual dos seus protagonistas. Apesar dos esforços visíveis de Zoey Deutch em dar profundidade à sua personagem, a falta do mesmo tipo de desenvolvimento pessoal para Ruby Cruz e Jonah Hauer-King acaba por desequilibrar a balança. Existe uma análise profunda e honesta sobre amor, família e responsabilidade espalhada pelas várias linhas narrativas da obra, mas ultimamente, torna-se um melodrama ocasionalmente frustrante, deixando a sensação de que uma grande oportunidade foi desperdiçada.

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Manuel São Bento
Manuel São Bentohttps://linktr.ee/msbreviews
Crítico português com uma enorme paixão pelo cinema, televisão e a arte de filmmaking. Uma perspetiva imparcial de alguém que parou de assistir a trailers desde 2017. Individualmente aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Portfolio: https://linktr.ee/msbreviews
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