The Monkey oscila entre o engenhoso e o frustrante. Osgood Perkins cria momentos isolados de inspiração e retira o que consegue de um elenco competente, mas a falta de uma identidade coesa faz com que a mistura errática de tons e géneros distintos nunca atinja o seu verdadeiro potencial.
Realizado por Osgood Perkins (Longlegs), produzido por James Wan (Aquaman) e com argumento adaptado de mais uma obra de Stephen King (It), The Monkey tinha os ingredientes certos para um serão de horror memorável. A premissa narrativa focada num macaco de brincar que causa mortes horríveis sempre que alguém roda a chave que tem nas costas continha os contornos assustadores e macabros necessários para entretenimento de alto nível. Infelizmente, o filme protagonizado por Theo James (Divergent) – papel duplo ao interpretar os gémeos Hal e Bill – torna-se numa das maiores desilusões do ano até à data.
As expetativas deveriam ser altas à partida, mas as reações iniciais demonstraram-se bastante polarizadoras e, desta vez, não foi devido à típica tendência de críticos e influencers em exagerarem as suas opiniões partilhadas à saída do cinema. The Monkey justifica a receção extremista, pois a sua mescla de géneros e tons é de tal maneira (propositadamente) caótica que rapidamente se torna naqueles casos cinéfilos que colam com o espetador na perfeição ou é um tiro (bem) ao lado.
Em meros segundos, The Monkey começa num momento tenso e repleto de suspense, transita para uma demonstração de violência gráfica explosiva – às vezes, literalmente – passa para um diálogo honesto e tematicamente sensível e termina com uma piada satírica que retira qualquer seriedade ao que se acabou de passar. Repito, tudo em meros segundos que se repetem ao longo dos quase 100 minutos de duração num ciclo tonal que, pessoalmente, sobressai mais como uma confusão sem rumo do que um agrupamento inteligente de estilos distintos.
No seu centro, The Monkey é uma história sobre abandono, trauma infantil e problemas familiares, mas Perkins nunca deseja entregar um estudo temático rico e profundo. No que toca ao entretenimento, as sequências de horror contêm elementos técnicos de louvar – os departamentos de maquilhagem, efeitos especiais e quem quer que tenha que lidar com quantidades massivas de sangue merecem destaque -, mas entram igualmente num campo repetitivo de “explosão sangrenta” que perde impacto a cada nova morte bizarra. Em relação à camada de humor, a sátira constante transparece mais como um dispositivo para evitar que a obra perca a sua auto-consciência do que um processo intrigante de enganar os espetadores.
Ou seja, Perkins tenta brincar com todo o tipo de tons que combinem com a sua narrativa criativa e arrojada, mas não só acaba por não conseguir alcançar o potencial de cada atmosfera gerada, como passa mais a sensação de The Monkey ser uma obra sem uma visão clara do que deseja ser. Junte-se a isto tudo uma estrutura que inclui linhas temporais diferentes, flashbacks e narração… é uma experiência desconcertante pela negativa, mas acredito plenamente que esta estranheza e desconforto seja precisamente aquilo que agradará a outros espetadores.
Do lado positivo, encontra-se a prestação dupla de James – o ator surpreende com uma entrega sem expressões eficaz – e o charme de Tatiana Maslany (Stronger) – não há papel que a atriz agarre e não eleve com o seu talento natural. Já Adam Scott (Severance) e Elijah Wood (The Lord of the Rings) são atores de renome suficiente para justificar mais tempo de ecrã.
Existe um par de desenvolvimentos de enredo intrigantes, assim como algumas sequências que atingem o tal equilíbrio perfeito que Perkins procura durante o filme inteiro, mas The Monkey cai sempre na mesma armadilha de não saber a quantidade ideal de cada ingrediente para construir um bolo delicioso.
VEREDITO
The Monkey oscila entre o engenhoso e o frustrante. Osgood Perkins cria momentos isolados de inspiração e retira o que consegue de um elenco competente, mas a falta de uma identidade coesa faz com que a mistura errática de tons e géneros distintos nunca atinja o seu verdadeiro potencial. Para alguns, esta mescla caótica e sangrenta de horror, sátira, drama familiar e comédia será recebida como algo refrescante e ousado; para outros, será simplesmente exasperante e desconcertante. Pessoalmente, não resultou… de todo.