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O que poderia ser uma honesta alternativa a Forza Horizon 5, The Crew: Motorfest, apesar de competente, não deixa de ser uma imitação descarada, sem vergonha e até sem melhorias dignas que justifiquem a viagem ao Havai.

Eu não estou a gostar de The Crew: Motorfest. Não é que seja de todo um mau jogo, quanto a isso diria que é “ok” e divertido o quanto baste se não tiver mais nada que jogar, com problemas aqui e ali em coisas que gostava mesmo que fosse melhor. Mas, quanto mais o jogo, mais me irrito e encontro menos razões para continuar a explorar a sua ilha de O’ahu, no Havai, recriada pela Ubisoft Ivory Tower.

No meio de um género com pouco espaço para inovar, para além de tornar a experiência mais imersiva e satisfatória, The Crew apresentou-se inicialmente com um conceito ambicioso que muito poucos foram, até agora, capazes de executar. Pegando num formato de mundo aberto, que se tornou cada vez mais comum no género com séries como Need For Speed e Forza Horizon, nos dois primeiros jogos de The Crew, a Ubisoft Ivory Tower apresentou-nos um mundo aberto, de design persistente, onde os jogadores podiam explorar todo a extensão dos Estados Unidos da América, em mapas relativamente condensados, mas grandes o suficiente para criar uma bela ilusão de grande escala.

Para além desse conceito expansivo pouco explorado no género, The Crew e The Crew 2 são jogos com a sua própria identidade, de fácil identificação, sendo o segundo ainda mais fácil graças ao trabalho de suporte da produtora que, desde 2018, foi lançando mais e mais conteúdos ao jogo que já não era só focado em corridas de carros, mas oferecia também a condução de motas, barcos, aviões e outros veículos de quatro rodas menos convencionais. The Crew: Motorfest não nos vem tirar essas modalidades e formas de jogar. No entanto, faz-se sentir como um enorme retrocesso em oportunidades, em escala e até em identidade, optando por imitar de forma irritante a fórmula de sucesso da concorrência.

Eu não estou a gostar de The Crew: Motorfest. E a razão é esta: não consigo afastar o sentimento de que, em vez de uma alternativa, estou a jogar uma imitação irritante de um dos melhores jogos do género, Forza Horizon 5 – especialmente o 5º capítulo da saga da Xbox. Desde o primeiro minuto que The Crew: Motorfest parece o resultado de um código baseado num algoritmo vomitado por uma complexa AI, com promps injetadas pelos executivos da Ubisoft, que devem ter chegado ao pé da equipa da Ubisoft Ivory Tower e lhes disseram “queremos o nosso Forza Horizon”.

Diz a cultura popular que a “imitação é o melhor elogio”. Se é um elogio ou não, apenas a Playground Games poderá responder a isso. Mas no ponto de vista do consumidor, a imitação pode ser extremamente desmotivante para a apreciação geral de um produto. Para alguns – por exemplo jogadores na PlayStation -, poderá ser uma bem-vinda alternativa a Forza Horizon. Mas para quem joga no PC e na Xbox, que razões tem para escolher The Crew: Motorfest em vez do original? Eu não sei bem como responder a isso, para além de um “tem barcos e aviões, de vez em quando”.

Com um mapa agora inspirado apenas numa única região, a ilha de O’ahu, no Havai, The Crew: Motorfest tinha potencial de se tornar o novo Test Drive: Unlimited, no entanto abraça sem qualquer pingo de vergonha a saga da Xbox, copiando quase tudo. O tom, a atmosfera e o conceito de um festival que mistura música com a paixão automóvel; uma campanha baseada em playlist, gimmicks mecânicas e narrativas com voice-overs muito mais presentes, desnecessários e foleiros; toda a sua apresentação colorida e festivaleira; e, claro, uma paixão e orgulho enorme pela zona recriada, com recorrentes discursos da beleza da natureza e da cultura que lá vamos encontrar. Nada disto é propriamente mau no papel, mas a execução é extremamente foleira e desconfortavelmente irritante, como se The Crew: Motorfest fosse a última bolacha no pacote.

E é pena, porque há e havia potencial para ser algo de realmente especial, mas que se tornou uma enorme irritação cada vez que avançava nas suas playlists e começava a dissecar ainda mais aspetos que, noutro jogo, seriam meras picuinhices.

Por exemplo, o mapa do jogo é excelente! Ao acedermos ao mesmo, podemos ver uma representação 3D de toda a ilha, com zoom quase infinito onde podemos observar todas as atividades em tempo real, desde outros jogadores a navegarem pelo mapa, como até eventos climatéricos (como tempestades). E ao fazemos fast travel, somos enviados num instante, com um zoom ao estilo de GTA V, para o local que queremos. No entanto, à medida que ia fazendo vários eventos, a utilização do mapa revelou-se redundante, já que raramente podia fazer fast-travel para os pontos que queria, a menos que o jogo decidisse que “sim, agora podes usar o fast-travel”.

O modo de fotografia, para capturar ação e os nossos carros personalizados, é quase perfeito e inclui algo que não me recordo de encontrar noutros jogos: uma timeline para ajustar o momento perfeito da fotografia. No entanto, e para além de um excelente alcance de câmara e uma flexibilidade enorme de criar cenários, mudando até a altura do dia, este modo está cheio de pequenas chatices, como sliders de valores arbitrários, uns visuais de jogo cheio de inconsistências a nível de reflexos, iluminação e sombras, mas mais grave que isso é a impossibilidade de usar o modo em corridas… onde acontece a verdadeira ação!

A condução no geral também não é propriamente má, embora seja um pouco pesada, e a física não tenha um embalo particularmente satisfatório quando usamos rampas e saltos. Visualmente, para além de inconsistências de iluminação em mudanças de cenário, o jogo sofre de uma resolução muito suave e de excesso de pop-in de elementos à distância em modo de Desempenho, enquanto que, no modo de Qualidade, a falta de motion blur quebra a ilusão de fluidez (versão testada na Xbox Series X).

E, talvez o mais redundante de tudo: porque é que, ao longo das playlists, o jogo não nos deixa usar os nossos veículos? Sendo estes relegados quase na sua totalidade para o endgame do jogo, que são as atividades extra e toda a componente multi-jogador, online, colocando uma enorme resistência inicial em motivações para explorar as várias dimensões do jogo.

A minha lista de picuinhices é bastante mais longa e, se calhar, até desonesta em alguma capacidade. Mas a verdade é que, mesmo quando The Crew: Motorfest apresenta algo que até gosto e sou capaz de dar o devido valor, a minha motivação para fazer mais uma prova ou corrida permanece baixa, por razões e sentimentos que nem sequer consigo apontar, e por desgaste de me recordar de tudo o que o jogo parece imitar em vez de se inspirar.

Eu não estou a gostar de The Crew: Motorfest. E é um daqueles raros casos em que sinto que deveria de ter experimentado a sua demonstração temporária, antes de me comprometer a experimentar a sua versão completa. Pois se soubesse que ia jogar uma cópia de algo bem melhor e mais polido, preferia voltar a dar mais mil voltas ao mapa fictício do México de Forza Horizon 5.

Cópia para análise (versão Xbox Series X) cedida pela Ubisoft.

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