De volta ao 2D de plataformas, Sonic Superstars pode não ser a vitória que muitos esperavam, mas consegue ser uma agradável e sólida surpresa, cheia de incentivos para ser jogado e repetido.
Sonic foi o meu primeiro jogo. Sonic The Hedgehog 1 e 2 (para ser mais concreto) para a SEGA Master System foram, durante algum tempo na minha infância, o meu “Fortnite”. Ocupavam o meu tempo livre e era o que mais ansiava jogar quando chegava da escola. Eram jogos pequenos, passavam-se em cerca de uma hora e qualquer coisa, mas jogava-os tão na desportiva como quase de forma competitiva, traçando os meus objetivos de “apanhar os anéis todos”, “apanhar as esmeraldas todas” ou “passar o jogo o mais depressa possível”.
Sonic The Hedgehog 1 e 2 para a SEGA Master System tinham uma característica que dificilmente voltei a encontrar noutros Sonic, como os da SEGA Mega Drive, que só joguei anos mais tarde. A de aproveitarem o seu modelo de plataformas para serem jogos de plataformas primeiro, e pistas de time trial depois.
A grande gimmick de Sonic é realmente ser muito rápido. Bolas, o nome dele é uma referência à velocidade do som. Mas curiosamente nunca fui fã da forma como a sua velocidade é usada em jogos, particularmente os mais modernos, seja no modelo 2D ou 3D, onde muitas das vezes as sequências mais rápidas e com quick time events afetam aquilo que podia ser uma experiência mais controlada. Estas sequências rápidas, por norma, não nos deixam admirar a arte do jogo. Retira-nos o controlo das mãos, colocam-nos a caminho do perigo e, claro, retiram-nos a urgência da exploração com o relógio a contar cada segundo.
Sonic Superstars, no regresso ao 2D, mas com um look mais moderno e semelhante ao que Sonic Generations nos ofereceu, ainda conta com esta característica. No entanto, não é tão recorrentemente usada, o que me deixou não apenas muito satisfeito, como ofereceu muitos mais incentivos para jogar e repetir os seus níveis. Sonic Superstars pode não ser o regresso de Sonic à boa forma, deixada por Sonic Mania, mas é o regresso ao 2D, num jogo principal da saga tão sólido e competente que nos limpa o palato deixado pela aberração que foi Sonic 4, dividido em dois episódios e que nunca chegou a ter uma conclusão.
Assim que peguei em Sonic Superstars, a primeira coisa que pensei foi no quão bonito e agradável se apresenta. Ao ponto de achar que nenhum vídeo ou clipe partilhado pela SEGA ou por jogadores, faz justiça ao jogo, ao vivo, na nossa TV. Sonic e amigos levaram um ligeiro facelift nesta versão, sem se distanciarem dos designs clássicos, e apresentam-se de forma absolutamente adorável, com muitas animações bem feitas, em mundos ricos de detalhe, com cores vibrantes, mas, acima de tudo, em níveis legíveis durante a navegação e exploração.
Se há algo que adoro neste jogo é mesmo a questão da legibilidade dos seus níveis. A câmara apresenta-se com o afastamento de câmara correto, por vezes move-se quando os nossos heróis trocam de plano, mas, juntamente com uma velocidade e controlos mais afinados do que em jogos anteriores e com um ritmo de jogo mais calmo, é muito mais simples de antever o que vai aparecer no ecrã. E isso dá-nos tempo de reação suficiente para reagir e tomar decisões, que são imensas, já que os novos níveis multiplicam-se em caminhos e áreas que convidam à exploração e à posterior repetição.
Toda aquela questão da “velocidade” também é aqui cuidada, porque Sonic não é a única personagem controlável. Para além do “Blue Blur” podemos jogar com Knuckles, Tails e Amy. Cada uma das personagens tem a sua forma diferente de jogar – Knuckles sobe paredes e consegue planar, Tails consegue voar com as suas duas caudas, Amy tem um martelo que permite fazer double jump, e Sonic, bem, Sonic corre depressa.
Por causa desta variedade, os níveis, finalmente todos novos, sem dependência de remisturas de jogos passados, mas com ambientes familiares aos fãs da série, apresentam múltiplos caminhos, alguns deles exclusivos a cada uma das personagens, o que oferece um nível de variedade e de incentivo à rejogabilidade muito grande. E como nem sempre estão a correr à velocidade do som, Sonic Superstars coloca as plataformas em primeiro lugar, tornado a exploração e degustação do jogo muito mais interessante.
A jogabilidade de Sonic Superstars é Ok. Competente. Não esperem o mesmo nível de momentum das físicas de jogos anteriores. Num primeiro contacto, Sonic e amigos parece que precisam um pouco mais de peso e de embalo nas suas ações, e ainda está presente aquele sentimento de deslize que muitos jogos de Sonic 3D contêm. No entanto, ao contrário desses, Sonic Superstars dá-nos muito mais controlo da personagem.
Em momento algum senti que estava a lutar contra o jogo. Não apanhei bugs e toda a experiência me pareceu absolutamente sólida e polida, um fator raro, dado que, desde 2006, jogos de Sonic em 3D ou com elementos em 3D (talvez com a exceção de Sonic Generations) parece que se vão desmontar e quebrar a cada passo e salto que damos (Sim, estou a pensar em Sonic Frontiers). Felizmente, aqui não é o caso.
A história de Sonic Superstars é o básico. Dr. Eggman é o vilão, quer tomar conta do mundo, rapta os animais – que transforma em robôs e bosses – e começa a plantar armadilhas pelos vários cenários que temos que navegar até derrotar os bosses… e o próprio Eggman. A variedade de bosses é relativamente boa e a dificuldade de os derrotar não é muito grande, mas testa-nos a paciência. Sobretudo porque cada boss é um micro puzzle, onde não é a velocidade e os timings de ataque que nos vão salvar, mas sim os timings de defesa e o reconhecimento dos pontos fracos de inimigos. Cada um apresenta o seu padrão de ataque e aberturas a que temos que estar atentos, o que significa que são os bosses que ditam a urgência do combate e o tempo que demoramos a derrotá-los. Nada de relativamente novo, ou que não tenha sido já feito, mas que é mais notório agora, até porque, por vezes, estas batalhas são longas e perder significa começar tudo de novo – desde o último checkpoint do nível.
Felizmente, Sonic Superstars não é tão imperdoável como em jogos passados. Uma das grandes novidades é que não temos vidas. Ou melhor, são infinitas. Os anéis continuam a servir de escudo e, quanto mais acumularmos, melhor será a nossa pontuação. Mas com a remoção das vidas, jogar Sonic Superstars é uma experiência muito mais relaxante.
Para além das habilidades de cada personagem, há outro aspeto que pode tornar o jogo mais simples. A cada esmeralda que apanhamos, desbloqueamos um power up. O poder de avatar cria clones da nossa personagem que fazem uma barragem de ataque; o poder de Bullet permite um ataque mais forte ou pode ser usado para chegar a sítios mais inalcançáveis; o Vision revela novos caminhos e itens de interesse; o Water transforma a nossa personagem numa criatura marítima para navegar melhor na água; o Ivy é um ramo de videira que pode ser usado como elástico para catapultar; o Slow é basicamente bullet time; e o Extra desbloqueia habilidades especiais a cada personagem.
Todas estas habilidades são meros trunfos. Completamente opcionais e de utilização muito reduzida, uma vez que cada um só pode ser usado uma vez entre cada checkpoint, onde são posteriormente repostos.
A ideia de desbloquearem através das esmeraldas é interessante. Contudo, o acesso às esmeraldas, como em jogos anteriores, é feito através de anéis gigantes que nos levam para outra dimensão, num minijogo que, ao ser falhado, obriga à repetição do nível até esse ponto. Para além disso, estes anéis estão bem escondidos e são encontrados ao acaso, o que faz com que a obtenção das habilidades corra o risco de ser limitada. São, como disse, trunfos opcionais, que não são necessários para completar o jogo, mas que gostaria de os obter de forma mais fácil, já que a sua utilização também limitada cria uma componente estratégia do seu uso na exploração dos níveis e até nos combates com bosses.
Felizmente, o que Sonic Superstars oferece de bom suplanta qualquer crítica que lhe possa apontar ou desejo que gostava de ver resolvido. A verdade é que fazem anos desde a última vez que senti que estava a jogar um jogo de Sonic sólido e competente. Sim, Sonic Frontiers no ano passado foi, certamente, uma experiência, mas aquele gosto a jank pós-2006 permanecia e, enquanto fã de um Sonic mal-amado numa consola 8-bit, nunca me encheu propriamente o peito de uma nostalgia muito particular como Sonic Superstars conseguiu.
Sonic Superstars pode ser jogado no PC e consolas.
Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela Ecoplay.