Há troços no serviço do Intercidades da CP sem qualquer cobertura de rede

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O que não é propriamente surpreendente.

Desde 2015 que a CP tem a funcionar um serviço de Wi-Fi gratuito a bordo de todos comboios Alfa Pendular e Intercidades, mas infelizmente, e à semelhança de muitos outros serviços gratuitos, este Wi-Fi não é propriamente fiável. Ora falha muito, ora não funciona de todo. E tudo devido à falta de cobertura móvel em vários troços das linhas ferroviárias.

Mas parece que a CP quer agora fazer a sua parte e oferecer um melhor serviço, pelo menos nos comboios Intercidades, que ficarão com um sistema semelhante ao que está instalado nos Alfa Pendular. Um aviso publicado recentemente no site oficial dá conta de que o “serviço de Wi-Fi, disponibilizado gratuitamente nos comboios Intercidades, será objeto de operações de modernização, pelo que, durante este processo, o mesmo poderá sofrer perturbações”.

Porém, e apesar das melhoras, tal só surtirá efeito se a cobertura móvel for reforçada. E aí, tudo depende das operadoras de telecomunicações. Ou seja, a CP até pode fazer, efetivamente, a sua parte, mas, se não existir nenhuma torre móvel por perto, não haverá rede. Logo, o serviço de Wi-Fi não irá funcionar.

Itinerários ferroviários terão de ter serviço de banda larga móvel com um débito mínimo de 100 Mbps

Mesmo que a cobertura móvel seja melhorada em vários troços, vamos ter na mesma um serviço de Wi-Fi de fraca qualidade caso o aumento de velocidades por parte das operadoras não seja garantido. A ANACOM sabe disso e, no ano passado, efetuou um estudo para avaliar a qualidade das redes móveis no serviço Alfa Pendular da CP. Os resultados foram… desapontantes. E podem consultar tudo aqui.

Já este ano, a Anacom resolveu testar a qualidade do serviço móvel a bordo do Intercidades da CP, tendo verificado que, apesar de globalmente existir sinal de rádio e elevadas taxas de estabelecimento de chamadas com sucesso (98%) e de terminação bem-sucedida de chamadas (94%), existem alguma zonas da linha em que não existe qualquer uma das redes móveis, nomeadamente nos túneis mais distantes dos grandes centros urbanos e junto ao estuário do Sado.

Ora, e sem cobertura e consequente inexistência de serviço móvel, tal impossibilita, diz a Anacom, o acesso ao número de emergência 112. Por outras palavras, é uma oportunidade flagrante de melhoria para as operadoras.

Os dados recolhidos baseiam-se num estudo efetuado entre 3 de abril e julho de 2022, que visou avaliar e verificar a qualidade dos serviços prestados em 2G, 3G, 4G e 5G, nos seguintes troços ferroviários do serviço Intercidades: Lisboa–Évora; Lisboa–Guarda; Lisboa–Beja; Lisboa–Faro; Pampilhosa–Guarda; Porto–Braga; Porto–Guimarães; Porto–Valença; Porto–Lisboa.

No total, foram feitas 11.560 chamadas de voz, 11.242 testes NET.mede, e 389.611 registos de sinal rádio, numa extensão de cerca de 5.400 km percorridos.

Eis os resultados:

  • Do total de registos obtidos, verificou-se globalmente indicação de cobertura (existência de sinal rádio) em mais de 99% das amostras das quais 87% correspondem a valores de qualidade entre “Aceitável” e “Muito Bom”. Sem cobertura, registaram-se menos de 1% das amostras, não existindo diferenças significativas entre operadores;
  • Do total de amostras, a tecnologia mais utilizada foi 4G com 53% dos registos, tendo-se verificado a utilização de tecnologia 5G em 32% dos registos efetuados;
  • O serviço de voz apresenta um bom desempenho global, com uma taxa de sucesso na acessibilidade (estabelecimento de chamada com sucesso) de 98% e uma taxa de terminação bem-sucedida de chamadas (as que se concretizaram e se concluíram com sucesso) de 94%, sem diferenças significativas entre operadores. Observam-se, contudo, algumas zonas das linhas do serviço Intercidades em que é mais difícil o estabelecimento ou manutenção das chamadas. Pela negativa destacam-se os troços: Portela–Trofa; Pampilhosa–Mortágua; Mangualde-Fornos de Algodres; Rodão–Abrantes; Pombal–Entroncamento; Vendas Novas–Casa Branca; Casa Branca–Évora; Pinhal Novo–Grândola; Ermidas Sado–Funcheira; Funcheira–Santa Clara Saboia e Santa Clara Saboia–Messines Alte, nos quais se verifica, simultaneamente, um fraco desempenho dos três operadores.
  • No serviço de dados o desempenho global é razoável, com taxas de sucesso de testes (iniciados e concluídos) de 85%, sendo o melhor desempenho obtido pela MEO. Os testes NET.mede registam razoáveis velocidades médias de transferência de dados em download/upload superiores a 80 Mbps/15 Mbps, respetivamente, com o melhor resultado a ser obtido pela NOS. Constata-se, no entanto, que a variabilidade nos resultados é bastante elevada com máximos em download e upload de 1074 Mbps e 147 Mbps, e mínimos de 0,1 Mbps (quer em download quer em upload). Na análise do serviço de dados também se verificam zonas dos troços ferroviários em que este se degrada ao ponto de apresentar falhas. Pela negativa identificaram-se os troços: Portela–Trofa; Pampilhosa–Mortágua; Mortágua–Santa Comba Dão; Mangualde–Fornos de Algodres; Rodão–Abrantes; Fundão–Castelo Branco; Pombal–Entroncamento; Entroncamento–Santarém; Santarém–Vila Franca de Xira; Pinhal Novo–Vendas Novas; Vendas Novas–Casa Branca; Casa Branca–Alcáçovas; Casa Branca–Évora; Pinhal Novo–Grândola; Grândola–Ermidas Sado; Ermidas Sado–Funcheira; Funcheira–Santa Clara Saboia; Santa Clara-Saboia–Messines-Alte e Albufeira (Ferreiras)–Loulé, nos quais se registam fracos desempenhos pelos três operadores.

Convém salientar que este estudo foi solicitado pela própria CP, pelo que se percebe o porquê da empresa ir melhorar a qualidade do Wi-Fi a o bordo dos comboios. O estudo detalhado pode ser consultado aqui.

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