Depois de vários anos de produção e do risco de cancelamento, Routine da Lunar Software chega finalmente ao PC e Xbox Series com uma experiência de terror única, fruto de uma era perdida, mas com um charme impossível de ignorar.
Durante a sua revelação, em 2013, Routine era um assombro no género de terror e ficção científica. Para contextualizar o impacto do primeiro trailer, que catapultou a Lunar Software para a ribalta, é preciso compreender em que ponto se encontrava o género de terror em 2013. A experiência survival horror, popularizada por Resident Evil e Silent Hill, tinha morrido, substituída por uma abordagem mais assente na ação e na cooperação, longe dos ângulos pré-definidos, cenários pré-renderizados e da gestão de inventário que deram origem ao género no início dos 1990. Fora das produções AAA, o cenário era diferente. A ação não era o foco e era na sua rejeição que o género de terror evoluía, encabeçado por estúdios como a Frictional Games e a Red Barrels Studio, responsáveis por Amnesia: The Dark Descent e Outlast, respetivamente. Ambos os jogos procuraram ir além da ação, com níveis assentes na resolução de puzzles e na descoberta de itens, mas com twist: as criaturas são indestrutíveis. O confronto direto tornou-se impossível e a única forma de evitarmos a morte é através da furtividade e da utilização de fontes de luz.
É nesta encruzilhada entre o terror de ação e o terror furtivo que Routine encontrou as suas origens. Ao contrário de Amnesia: The Dark Descent, Routine rejeitou a fantasia, o terror cósmico ou o horror quotidiano para levar-nos numa viagem até ao futuro próximo, a uma nova interpretação do retro futurismo, inspirado em Alien e noutros clássicos do género para construir a sua identidade visual. Os cenários brutalistas com cores pastel, tecnologia já obsoleta e maquinal, e UI inspirada em sistemas operativos limitados naquela que parecia ser uma realidade estagnada no tempo. Em 2013, Routine era como um sonho. Um projeto independente, mas com a qualidade AAA. Um jogo de terror e furtividade, mas com foco numa narrativa de ficção científica. Uma experiência que muitos procuravam, fruto da crescente procura por projetos nostálgicos. Routine era a resposta.
Entre 2013 e 2025, Routine permaneceu enclausurado num tanque criogénico, perdido entre problemas de produção, mudanças de design e o esforço contínuo da Lunar Software. Durante 12 anos, o género continuou a mudar, a evoluir e a descobrir novas vozes que o elevassem a uma nova fasquia. Amnesia: The Dark Descent foi o percursor, mas já não é uma inspiração como o era há anos. Uma nova geração de produtores independentes agarrou no manto do género e continuou a construir e a arriscar enquanto Routine hibernou. Em 2014, Alien Isolation chegou aos jogadores e roubou a novidade do retro futurismo à Lunar Software. Em 2017, Resident Evil VII: biohazard protagonizou o regresso da série da Capcom ao patamar do género, criando um novo ponto evolucionário, e ainda hoje é uma das maiores inspirações no terror na primeira pessoa. Em 2024, contra todas as expectativas, Silent Hill 2 Remake foi um sucesso comercial e crítico, ressuscitando a série depois de vários anos de silêncio. Este é o contexto atual e o panorama que Routine e a Lunar Software terão de enfrentar, 12 anos depois da sua revelação.
Se analisarmos os primeiros trailers de Routine, podemos facilmente concluir que a Lunar Software foi obrigada a repensar o design do jogo ao longo desta última década. O UI é semelhante, a C.A.T. – a ferramenta em forma de arma que utilizamos ao longo da campanha – sempre esteve presente e o jogo procurou sempre um equilíbrio entre a tensão de explorarmos uma estação espacial abandonada com o terror de sermos perseguidos por algo indestrutível, mas algo mudou. Em 2025, Routine é um jogo mais linear, claustrofóbico, muito minimalista na sua abordagem narrativa e claramente influenciado por movimentos como o terror analógico e os espaços liminais para construir o seu horror espacial. Se existiram cortes profundos no scope de Routine, acredito que tenham sido a melhor decisão que a Lunar Software podia ter feito, não só porque garantiu que o jogo pôde ser finalmente lançado, mas também porque deu origem a uma experiência com um ritmo exímio, tão assustadora, como profundamente bela, cujo foco no terror deu lugar a puzzles inventivos e desafiantes que enalteceram a ambiência e exploração da estação espacial ao garantir um level design mais controlado, mas também facilmente familiar.
No fundo, Routine é um dos meus videojogos favoritos de 2025 e um caso onde os anos não azedaram a experiência de jogar um dos títulos mais aguardados do género.

Cópia para análise cedida pela Instant Gaming.
