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Uma excelente sequela que consegue ultrapassa o original em praticamente todos os campos.

Oiçam, eu não vou esconder a tormenta que passei com Rogue Legacy 2. Não vale a pena. Assim que instalei o jogo e até ao momento em que estou a escrever esta crítica, a Cellar Door Games conseguiu destruir quaisquer pretensões que tinha sobre a minha relação com os roguelikes. Pensava que já tinha dominado a dificuldade do género? Não tinha. Sentia-me seguro em arriscar e colocar os meus dotes à prova? Afinal não tinha quaisquer dotes para testar. A imprevisibilidade dos cenários e dos inimigos já não eram um problema? Vocês já sabem a resposta. Rogue Legacy 2 foi um banho de humildade, do mais frio possível, mas foi também um dos melhores do género que joguei em 2022. Um jogo que, à semelhança do original, vai ficar na memória pela sua aparente simplicidade e pela forma como reaproveita as mecânicas do género para criar uma experiência rica, imersiva e absolutamente irritante até ao mais ínfimo aspeto do seu design. Esta análise é alimentada pelo poder do masoquismo.

Num primeiro contacto, Rogue Legacy 2 parece ser apenas uma versão aprimorada do título anterior, com controlos ainda mais responsivos e fáceis de utilizar, um leque de habilidades tão interessantes, como inesperadas – com o regresso das tradicionais magias e atributos únicos que só descobrimos a sua utilização e desvantagens quando iniciamos uma campanha – e o mesmo foco na exploração de uma fortaleza dividida por zonas, onde os nossos descendentes continuam presos a uma maldição. Esta ideia de legado, de continuidade e descendência sempre foi um dos pontos de destaque de Rogue Legacy e a sequela abraça-a por completo, dando-nos novamente a possibilidade de escolhermos entre várias classes – que podemos desbloquear ao longo da campanha -, todas elas com atributos e armas únicas, mas também atributos negativos que podem afetar por completo uma das nossas tentativas. Entre passagens de testemunho, podemos encontrar um descendente que é muito poderoso em ataques físicos, mas muito lento ou então viciado em jogos de azar e incapaz de encontrar ouro fora dos baús que encontramos nas zonas.

Como podem ter depreendido, a Cellar Door Games traz-nos mais um roguelike puro e duro e desta vez não se coibiu de apostar na dificuldade e na temível aleatoriedade para criar a campanha que move esta sequela. Isto significa que Rogue Legacy 2 pouco surpreende na sua forma e nas mecânicas que utiliza, alimentando-se da jogabilidade e funcionalidades que marcam tradicionalmente este género. A campanha mantém-se assente no começo e recomeço sempre que perdemos, com a nossa personagem a reter o ouro, sangue e barras de prata que coleciona, mas a perder as armas, habilidades e relíquias que encontrou ao longo da sua tentativa falhada. Sempre que voltamos à fortaleza, encontramos uma nova disposição de salas e zonas, tal como novos inimigos e desafios adicionais – como zonas de combate e provas semelhantes ao que encontrámos no primeiro jogo, como “derrotar todos os inimigos” ou “ultrapassar uma zona de desafio sem sofrermos dano” – e ainda itens e pedaços narrativos que nos ajudam a longo prazo. Para enfrentarmos os deuses da aleatoriedade, os nossos cavaleiros – ou magos, arqueiros, assassinos, valquírias, entre outros – têm à disposição um ataque básico, uma habilidade única à sua classe e magias que recebemos sempre que iniciamos a campanha, mas também os atributos positivos e negativos que podem traçar por completo o nosso destino na viagem.

A jogabilidade de Rogue Legacy 2 é muito sólida e divertida, e é ótimo sentir que as opções vão expandindo-se à medida que exploramos as zonas da fortaleza e encontramos alternativas para alguns dos desafios anteriormente exigentes do jogo. Esta aposta na expansão das habilidades, que nascem de uma base mecânica sólida e funcional, dá a Rogue Legacy 2 um maior controlo sobre a evolução da nossa linhagem de personagens e no desbloqueio de atributos que nos ajudam a ganhar vantagem sobre os desafios que encontramos. Com a possibilidade de retermos todo o ouro, que colecionamos numa das nossas tentativas, podemos utilizá-lo, tal como no primeiro jogo, para melhorar a nossa árvore de atributos, que é representada pela construção do nosso próprio castelo. Cada opção adiciona uma nova ala, divisão, torre ou janela ao nosso castelo, cujo legado estamos também a construir juntamente com as nossas personagens. A árvore de atributos não é inovadora, nem precisa de o ser, e apresenta os suspeitos do costume: maiores pontos de vida, de defesa e magia, mas também novas classes, a possibilidade de gastarmos menos dinheiro entre compras, etc. Desta forma, nunca sentimos que não estamos estagnados em Rogue legacy 2, mesmo quando passamos horas a tentar derrotar o primeiro boss. A Cellar Door Games conseguiu garantir uma certa progressão entre tentativas, onde existe sempre algo novo para descobrir ou então para desbloquear, permitindo-nos encontrar uma nova oportunidade de chegarmos mais longe – não só através das nossas habilidades, mas também dos sistemas do jogo.

Entre tentativas, podemos evoluir a árvore de atributos, mas também melhorar os equipamentos dos nossos guerreiros no porto. Antes de viajarmos para a fortaleza, e pagarmos a coima de transporte, temos a oportunidade de visitar o ferreiro, mas também a feiticeira, o arquiteto e um boneco de treino, entre outros. Pelos nomes, podem depreender o que cada um deles faz e Rogue Legacy 2 não quer subverter expetativas. Ao explorarmos a fortaleza, podemos encontrar planos para novas armas, armaduras, poções, acessórios que podemos depois construir se tivermos os recursos necessários. São pequenas vitórias num jogo onde estamos constantemente a perder e é uma aposta inteligente para a Cellar Door Games, criando assim a ideia de que não estamos parados no que toca à progressão da campanha. Com vários bosses para derrotarmos e zonas para descobrir, que são identificadas pelo seu nível de dificuldade, é fácil ficarmos perdidos e desencorajados, mas Rogue Legacy 2 deixa-nos respirar e melhorar as nossas hipóteses sem perder o seu foco na dificuldade – e este jogo é, sem dúvidas, difícil.

Apesar do meu sofrimento de horas – e que ainda perdura enquanto exploro as zonas em busca de um fim à vista -, a Cellar Door Games voltou a surpreender-me com a sua aposta no género roguelike. Rogue Legacy 2 pode não ser perfeito, mas é tudo o que uma sequela deve ser. A jogabilidade é mais limada e responsiva sem perder o seu foco no combate e na destreza nos saltos e “dash”, a campanha é mais extensa e recheada de conteúdos – existe uma vontade em contar uma história mais presente e que se desenvolve à medida que exploramos a fortaleza -, e os combates são mais envolventes e igualmente desafiantes devido à jogabilidade aprimorada. Rogue Legacy 2 é o tipo de roguelike onde estamos constantemente a encontrar coisas novas, a adquirir novas habilidades, a desbloquear armas e armaduras, a aceder a classes, a desbravar novas zonas e a enfrentar monstruosidades que ainda não tínhamos visto. No fundo, é um jogo fácil de adorar se forem fãs do género. Adorar e odiar. E eu consigo odiar este jogo pelas vezes que me fez perder uma campanha por um simples e mísero erro que eu pensava que era apenas um azar e não a queda da torre da Babilónia em formato de videojogos. Eu adoro Rogue Legacy 2. Eu odeio Rogue Legacy 2.

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Cópia para análise (versão Nintendo Switch) cedida pela Vicarious PR.

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