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Snow White poderá não mudar a perceção negativa de muitos remakes da Disney, mas a verdade é que Marc Webb e Erin Cressida Wilson conseguem oferecer uma versão mais rica e envolvente do conto clássico.

Mais um remake live-action do estúdio do Rato Mickey, mais uma época de polémicas exageradas e comportamentos extremistas de quem se deixa levar por agendas duvidosas. Seja a escolha de Rachel Zegler (West Side Story) para o papel da titular Branca de Neve (Snow White), as potenciais mudanças narrativas, as críticas da atriz ao filme original ou a escolha por anões animados em vez de atores reais, a verdade é que nenhuma dessas controvérsias é realmente relevante para a expetativa e posterior opinião sobre a obra. Aliás, nem sequer desperto qualquer interesse por elas.

O debate online foi afogado num ruído exasperante, impulsionado pelos mesmos canais de má-fé que vivem de indignação artificial e thumbnails de olhos esbugalhados. Já conhecemos o ciclo: Snow White seria atacado com críticas negativas organizadas — o já banalizado review-bombing —, tornando as avaliações nas plataformas irrelevantes.

No que toca ao filme em si, a premissa mantém-se intocada: esta aventura musical leva os espetadores de volta à clássica história da jovem maltratada pela madrasta, a Rainha Malvada (Gal Gadot), que encontra refúgio junto de sete simpáticos anões. Estamos a falar de um remake de um clássico animado de 1937, que por sua vez foi adaptado de um conto de 1812… A ideia de que nada deve ser alterado é mais chocante do que qualquer mudança feita. O tempo avança, as perspetivas culturais evoluem e certos elementos do original estavam sempre destinados a ser revistos — e ainda bem.

Posto isto, nunca fui um grande admirador de Snow White and the Seven Dwarfs. Enquanto criança, não foi um dos meus favoritos e, como adulto, isso manteve-se. Embora reconheça a sua importância histórica e cultural, nunca me marcou tanto quanto The Lion King, Mulan ou Aladdin. Assim, entrei na sala de cinema sem nostalgia pesada ou laços emocionais, mas com curiosidade sobre o que o realizador Marc Webb (The Amazing Spider-Man) e a argumentista Erin Cressida Wilson (The Girl on the Train) tinham para oferecer.

Mesmo com expetativas moderadas, Snow White conseguiu surpreender… e de que maneira! Este remake é a prova de que opiniões cinéfilas devem ser formadas após a visualização, e não antes. O argumento de Wilson não só aprofunda a história com temas mais ricos sobre comunidade, lealdade e empatia, como também dá às personagens motivações mais coerentes e complexas. Para os mais preocupados com alterações radicais, saibam que praticamente tudo o que acontece no original também acontece aqui. A diferença está no refinamento narrativo, que Webb conduz com equilíbrio, sem quebrar a ligação nostálgica.

Tal como The Little Mermaid, o romance central beneficia de uma abordagem moderna. A Branca de Neve e Jonathan (Andrew Burnap) não se apaixonam apenas porque são “realeza bonita”, mas porque partilham os mesmos valores e um sentido de justiça que os torna compatíveis. A química entre os atores transparece e contribui para momentos musicais mais envolventes.

Aliás, Snow White vai contra a tendência dos remakes mais recentes ao entregar novas canções que realmente acrescentam algo à narrativa e às personagens. “Good Things Grow”, “Waiting on a Wish” e “A Hand Meets a Hand” destacam-se, enquanto as reinterpretações de “Heigh-Ho” e “Whistle While You Work” mantêm a energia vibrante do original. O guarda-roupa deslumbrante, os cenários reais, a coreografia musical e até os animais CGI — inacreditavelmente fofinhos — são outros destaques técnicos louváveis.

Mas nem tudo é perfeito. Dois problemas graves impedem Snow White de alcançar um nível ainda mais alto. O primeiro é a escolha de elenco falhada para Gadot. Apesar de gostar do seu trabalho em Wonder Woman, a atriz raramente convence fora desse papel, e a sua Rainha Malvada oscila entre um teatral exagerado mas aceitável e uma prestação forçada, que compromete o diálogos precisamente mais teatrais. Além disso, sendo Gadot uma cantora inexperiente, a sua voz foi digitalmente alterada para a nova canção da vilã, “All Is Fair”, mas o autotune é tão óbvio que arruína o impacto da música.

O segundo problema prende-se com a inexplicável decisão de tornar os anões animados em CGI. Para além de serem visualmente distrativos e destoarem do ambiente do filme, torna-se ainda mais questionável quando surge um personagem secundário humano interpretado por um ator anão (George Appleby). O humor e a dinâmica entre os anões continuam cativantes, mas a artificialidade tira parte da magia e da imersão.

Tirando alguns momentos em que o uso de ecrã verde é demasiado evidente, Snow White apresenta uma qualidade técnica globalmente sólida. No entanto, fica sempre a sensação de que poderia ter sido ainda melhor se tivesse apostado em anões reais e numa antagonista mais intimidadora. No final, há um elemento que brilha acima de qualquer outro…

Rachel Zegler é a alma e o coração deste filme. A atriz não só entrega uma performance vocal impressionante, como também exala carisma e emoção em cada cena. A sua Branca de Neve é destemida, bondosa e genuinamente cativante, elevando a personagem a um novo patamar de complexidade. É lamentável que tanta gente tenha deixado influências externas moldar a sua perceção sobre o seu trabalho, pois é uma das interpretações mais memoráveis do ano.

Pessoalmente, evito debates sobre se um remake é “melhor” ou “pior” do que o original, especialmente quando o fator nostalgia pesa tanto na equação. No fim, tudo se resume a gosto pessoal, e todas as opiniões são válidas. O que posso dizer com certeza é que prefiro rever este Snow White em relação ao filme de 1937, precisamente por todas as razões expostas acima. Ignorem as polémicas, afastem-se do barulho online e deem uma oportunidade ao filme. No final, a única opinião que importa é a vossa.

VEREDITO

Snow White poderá não ser o remake que mudará a perceção negativa de muitos sobre esta tendência da Disney, mas a verdade é que Marc Webb e Erin Cressida Wilson conseguem oferecer uma versão mais rica e envolvente do conto clássico. No centro de tudo, Rachel Zegler brilha com uma performance magnética, elevando a personagem principal a um novo patamar de complexidade e carisma. A sua expressividade encantadora e talento vocal arrebatador fazem desta Branca de Neve uma das protagonistas mais memoráveis da era moderna dos live-actions. Com um argumento mais robusto e tematicamente rico, um romance convincente, canções novas emocionantes e uma visão atualizada sem desrespeitar a essência do clássico, este remake prova que há espaço para revisitar histórias antigas e torná-las ainda mais cativantes.

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