Análise – Balan Wonderworld (PlayStation 5)

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Balan Wonderworld promete uma viagem ao país das maravilhas, mas tudo o que oferece são pesadelos.

Balan Wonderworld

Lia há dias a descrição perfeita para Balan Wonderworld, que era algo como: “Este é o jogo que Tim and Eric criariam se fizessem um remake do Super Mario 64.” A nova aposta de um dos co-criadores de Sonic, Yuji Naka, é assim: bizarra.

Pela demonstração, disponível para PC e todas as consolas atuais, já previa que Balan Wonderworld ia ser uma viagem por uma espiral surrealista que me iria cativar por todas as suas razões negativas, mas nada me preparava para o que jogo tinha para oferecer para além da sua superficialidade simplista, repetitiva e genérica.

Como um daqueles projetos categorizados como “tão maus que são bons”, Balan Wonderworld consegue frequentemente passar essa linha, apanhando-nos desprevenidos em diferentes dimensões, quer pelas suas pequenas histórias, que fazem setup a cada um dos níveis e são acompanhadas por cinemáticas de produções animadas incríveis; quer pelo contraste de mecânicas e jogabilidade que parecem ter sido criadas por estudantes académicos obrigados a participar num concurso só para fazerem a cadeira de projeto.

Desenvolvido por uma nova equipa debaixo da asa desta vez da Square Enix, Yuji Naka entrega-se ao projeto com uma enorme confiança de autor, criando novas personagens coloridas, cheias de charme e encanto, que tentam, de alguma forma, aproximar-se do mundo real, através de personagens humanas, mas disformes o suficiente para nos deixarem desconfortáveis. Se todo o lado fantástico de Balan Wonderworld cai bem nos nossos olhos, tudo o que se aproxima da realidade é de arrepiar.

Este é um fator não só presente ao olhar para um dos dois protagonistas que podemos escolher, duas crianças humanas com corpos animados cujas proporções se aproximam de um dos novos Sonic 3D, mas também pela qualidade das suas animações em cinemáticas e trechos automáticos, onde dançam, saltam e fazem poses artísticas, retiradas diretamente dos sistemas de motion capture durante a produção do jogo, criando um efeito de uncanny valley muito semelhante àqueles filmes e séries de animação que são claros rip-offs de produções da Disney ou da Dreamworks.

Balan Wonderworld

Já em jogo as coisas não melhoram. As animações passam para o outro extremo da qualidade, tornando-se robóticas, repetitivas e simples, onde a nossa personagem desliza pelos níveis como se tivessem barrados a manteiga ou cobertos de gelo. Novamente, o efeito “jogo de Sonic 3D” entra em jogo, com uma certa atmosfera reminescente do infame Sonic: The Hedgehog para a PlayStation 3 e Xbox 360.

Ao longo dos vários níveis, em 12 mundos relativamente diferentes, temos um jogo muito simples de plataformas, onde apanhamos itens e segredos que nos ajudam a progredir, com cada mudo a terminar com uma boss battle.

Os níveis variam em ambientes temáticos associados a cada história apresentada, onde a mecânica principal é o uso de fatos que vamos apanhando e alternando para resolver pequenos desafios e que nos permitem usar pequenas mecânicas simples que, por defeito, não existem, como por exemplo saltar ou atacar. Em formato humano, e em mais de metade dos fatos existentes, Balan Wonderworld não permite fazer ações tão básicas como saltar um simples degrau, o que revela logo que aqui há algo de estranho. Mas a bizarria continua quando temos também fatos completamente inúteis, como a absurdamente inútil Box Fox, a habilidade que transforma a nossa personagem numa caixa… quando lhe apetece.

Os controlos são básicos e, por vezes, caóticos, havendo a constante sensação de deslize no controlo principal da personagem. E enquanto que a ideia de termos vários fatos para diferentes ações é engraçada, as suas habilidades são repetitivas e não oferecem nada que não pudesse ser implementado em apenas uma, já que estas habilidades são ativas com praticamente todos os botões do comando, que não sejam os direcionais. Ou seja: se a habilidade for saltar, a cruz, o quadrado, o triângulo, a bola e o R2, todos fazem o mesmo. É, no fundo, um “one button game”. Ainda mais estranho é também a navegação pelos menus, que operam da mesma forma, tornando a sua navegação confusa e caótica.

Balan Wonderworld

Portanto, imaginem a repetição e dor de cabeça que se constroem nesta jogabilidade. Apesar de termos botões livres, o jogo obriga-nos constantemente a alternar entre fatos que não possuem a estranha e peculiar habilidade de… pluralidade. Por algum motivo que me ultrapassa, as criaturas deste circo dos tristes, deste cabaré malcheiroso, não conseguem fazer mais nada para além de uma habilidade simples.

Deixemo-nos de piadas. Esta é uma falha profunda de Naka. A experiência de Balan Wonderland devia estar assente na alteração de fatos, sem dúvidas, mas devíamos ter menos variedade de escolha e mais diversidade de habilidades por opção. Ou então, outra alternativa: os fatos representarem habilidades que podemos aceder rapidamente nos botões direcionais e que não se tornam invasivas. Alguma coisa escapou no design deste jogo de plataformas, talvez fosse ambição a mais ou um total desinteresse mecânico em prol de uma componente visual marcante.

Numa pequena nota, o jogo foi jogado na PlayStation 5, onde corre surpreendentemente bem, (apesar não ser muito ambicioso), e onde podemos contar com gatilhos responsivos, com alguma resistência ao premir, mas que em nada afeta ou melhora a experiência.

As boss battles são, provavelmente, a “melhor” parte de Balan Wonderworld. Cada inimigo apresenta-se com um design bastante criativo e formas de derrotar variadas. Derrotá-los é relativamente simples – basta dar-lhes três hits e conseguimos ultrapassar o desafio -, mas já alimentam a nossa imaginação na procura de como os atacar. O grande senão é a forma como estes confrontos terminam, com um número musical lamechas e desconfortável, quer pelos cânticos quase religiosos no início, quer pelas coreografias que se seguem de seguida com todo aquele sentimento de uncanney valley, que referia há pouco.

Balan Wonderworld é o jogo mais simples e genérico que me passou pelas mãos este ano, acabando por destacar-se pela tremenda estranheza e pelo esforço que faz em tornar algo tão inocente e infantil num autêntico pesadelo, ou motivo de chacota. Conta com algumas cinemáticas extremamente bem feitas (que não são efetivamente o jogo) e é certo que é um título infantil, para os mais pequenos, mas, por vezes, parece ser um atentado à inteligência e inocência dos mesmos e de quem os rodeia.

Balan Wonderworld promete uma viagem ao país das maravilhas, mas tudo o que oferece aproxima-se mais de um pesadelo. A evitar.

Nota: Mau

Disponível para: PC, Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch
Jogado na PlayStation 5
Cópia para análise cedida pela Ecoplay

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