RetroRealms

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Ao contrário das séries que procura adaptar, RetroRealms é pouco memorável e intemporal, trazendo-nos uma campanha segura, pouco divertida e profunda a nível mecânico.

Penso estar na minoria, mas não consigo afastar o desapontamento que senti ao jogar RetroRealms. Na verdade, agora que penso na sua revelação e premissa, mais vejo os sinais de aviso para aquele que deveria ter sido um excelente jogo de ação inspirado em dois clássicos do cinema de terror. RetroRealms propôs-se como um hack’n slash divertido, repleto de sangue e vísceras, referências e níveis consistentes entre ação e momentos de plataformas, mas, na prática, é o oposto: aborrecido, desinspirado e absolutamente entediante.

No pacote RetroRealms, encontramos dois jogos: um inspirado em Halloween, onde controlamos Michael Myers em busca da alma da sua irmã, Judith, e outro inspirado em Ash vs The Evil Dead, a série de televisão que ressuscitou a famosa personagem de Bruce Campbell em toda a sua glória. Ambas as campanhas podem ser jogadas por qualquer personagem se adquiriram os DLC – como Laurie Strode, a protagonista de Halloween, ou Kelly Maxwell, que marcou presença na série Evil Dead –, mas as histórias centram-se nas personagens icónicas e pouco mudam se alternarem entre franquias. Não encontramos níveis diferentes ou apresentados através de uma nova ordem, apenas personagens com movimentos e ataques suficientemente díspares para satisfazerem os fãs.

Então o que fazemos em RetroRealms? Bem, eliminamos tudo o que encontramos pela frente. Como Michael Myers, saciamos a sua faca ao eviscerarmos inimigos inspirados nas personagens da sua saga e até encontramos bosses como o famoso Dr. Loomis. Já Ash continua a sua luta contra os Deadites, os mortos-vivos quase indestrutíveis que tentam alimentar-se das nossas almas. Através de cinco mundos, divididos por duas fases e um boss final, encontramos cenários inspirados nas duas séries, repletos de inimigos que quase sempre morrem com um só ataque. A jogabilidade procura ser rápida e sangrenta, cujo foco na velocidade e ritmo é sentido através do posicionamento dos inimigos e das plataformas que potenciam o nosso movimento, existindo momentos em que conseguimos combinar golpes que nos transmitem a sensação de invulnerabilidade devido ao feedback consistente dos ataques e padrões das personagens.

Os níveis constroem-se em torno do combate e da sobrevivência, com vários tipos de inimigos que procuram sobrecarregar-nos com golpes à distância e uma enorme velocidade de movimentos. A IA não é a melhor e a maioria dos inimigos ora corre contra nós, ora utiliza projéteis sem parar, quase eliminando a possibilidade de evitarmos qualquer dano. A dificuldade torna-se ainda mais palpável quando tentamos encontrar todos os colecionáveis do jogo – desde as abóboras, páginas do Necronomicon até ao dinheiro que poderemos utilizar para melhorar os atributos das personagens – e somos obrigados a interagir com a realidade alternativa. RetroRealms traz-nos uma realidade infernal que podemos aceder ao pressionarmos o círculo – na versão PS5 –, transportando-nos para um mundo repleto de criaturas e cenários grotescos compostos por carne putrefacta e monstruosidades. A troca entre realidades torna-se imprescindível porque algumas plataformas e caminhos só são acessíveis se acedermos à realidade alternativa. A maioria dos segredos está escondida num destes caminhos alternativos, mas a campanha, quando se lembra, lá coloca algumas barreiras no nosso caminho para que nos lembremos da realidade infernal.

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RetroRealms (WayForward)

As personagens não são idênticas e é na sua utilização que começamos a sentir alguns dos problemas de RetroRealms. Se Ash é rápido e muito mais consistente nos seus ataques, já Michael Myers é o seu oposto: lento, pouco responsivo e muito mais propício a sofrer dano inimigo. Myers compensa ao apresentar um ataque especial que lhe permite mover com maior velocidade, mas os seus golpes mantêm-se lentos e com tempos de espera que são problemáticos contra a velocidade dos inimigos. Podemos colecionar armas de arremesso e projéteis que nos ajudam à distância, mas rapidamente desinteressei-me por Myers porque não me estava a divertir. A personagem é originalmente assim, lenta e ponderada, mas o level design e o posicionamento das criaturas não se coadunam com a sua movimentação lânguida. Talvez não seja tão grave como descrevo, mas nunca encontrei satisfação nas suas combinações, agrado pela diferença de qualidade quando comparado a Ash e às restantes personagens adicionais.

O meu problema com RetroRealms é que não é um jogo divertido. Não é um hack’n slash profundo, o level design não é interessante – e raramente apresenta ideias únicas, fora a utilização de correntes de ar para condicionar o nosso progresso ou a troca entre realidades – e a experiência fica progressivamente mais cansativa e irritante. RetroRealms cansou-me. Por exemplo, a troca entre realidades pode ser quase ignorada e, por um lado, ainda bem, já que a dimensão alternativa não está nada equilibrada. A quantidade de inimigos aumenta, a maioria não pode ser destruída ou eliminada e existe muito mais ruído visual que dificulta a leitura dos cenários – foi muito normal encontrar momentos em que não sabia se uma plataforma fazia ou não parte da decoração ou do background. Como as recompensas são mínimas, especialmente se ignorarem os colecionáveis, utilizaremos a realidade alternativa para acedermos à zona anteriormente fechada e fugimos logo para a realidade normal.

A minha experiência com RetroRealms pode ser resumida a uma sucessão de irritações que condicionaram qualquer apreciação da jogabilidade, por mais básica que seja. Os níveis são repetitivos, os inimigos são fáceis de eliminar, mas irritantes de evitar, as personagens não apresentam habilidades que mereçam alguma estratégia e memorização, os colecionáveis não são suficientemente apelativos e recompensantes – desbloquear dioramas e objetos de exposição nunca foi aliciante para mim, mas talvez seja para vocês – e cheguei ao cúmulo de me sentir enganado sempre que era obrigado a colecionar tudo novamente sempre que perdia e voltava ao checkpoint. No fundo, RetroRealms é um jogo dividido em dois com inimigos e cenários esteticamente diferentes, mas com mecânicas idênticas. É um projeto estranho que não consegue encontrar um ponto de equilíbrio entre um hack’n slash satisfatório, um jogo de ação e plataformas mais tradicionalista ou então uma pura homenagem a ambas as séries. É um mestre de nada que me desapontou horrivelmente e que eu não consigo recomendar, mesmo sabendo que estou na minoria. Não é certamente Splatterhouse.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Tara Bruno PR.

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