Provocação de Sabores no Barreiro – Vinhos Raros e Bons

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Um evento que merece seguramente continuação nos próximos anos.

Com organização da Vinus Rarus e da Câmara Municipal do Barreiro, realizou-se, nos dias 7 e 8 de maio, na Cooperativa Operária Barreirense “Os Corticeiros”, hoje Escola de Jazz do Barreiro (local histórico, onde em tempos se forneceram “aos seus sócios géneros de primeira qualidade, peso exato e preço módico”), a 1ª edição da Provocação de Sabores, com a presença de vários produtores de vinhos representados pela Vinus Rarus.

Um evento bonito pelo local, simbólico, e pela intenção, até porque existe o projeto de levar a Vinus Rarus além da presença virtual para uma presença física no mercado do Barreiro, numa lógica de garrafeira e loja onde de poderão degustar os vinhos seleccionados com critério por este projeto que começou como um sonho de um casal. Assim seja.

O Barreiro é indústria, e hoje também a cidade dos arquivos, mas é também terra do Bastardinho, casta ligada à vila do Lavradio, conhecido nos anos 30 por ser fonte de vinho licoroso, com base em maceração de cerca de cinco meses e envelhecimento em barricas usadas. Também por esta ligação este evento faz todo o sentido.

E os vinhos? Esses, há muitos e bons. Desde logo os da Artisans Terroir, projeto pessoal de Mauro Azóia, edições limitadas de intervenção mínima que rondam as 260 a 300 garrafas, sendo que, por ano, se produz uma barrica de cada vinho, sem filtragem ou estabilização. Desta prova, e até pelo calor e o local onde estávamos, destaque para o Lola Loves Talha, vinho elaborado com leveduras indígenas, fermentado em talha de barro com engaço total, e estágio em talha de barro durante dois meses. Cor cereja, frutos vermelhos intensos e puros, adstringência potente que pede comida mesmo sendo um Pét Nat. Em complemento, destaque também para o P de Penélope Tinto 2019, um vinho elaborado também com leveduras indígenas. Estágio de 14 meses em barricas Carvalho Francês usadas. Aroma apimentado e floral, na boca educado e persistente.

Já passando para Catralvos na Península de Setúbal, quinta com nome histórico até pelo projeto gastronómico que recebeu em tempos, e desde logo destaque para o seu Castelão Blanc de Noirs 2021 (PVP pelos 8 a 10€). Experiência com uma casta que, confissão, não amamos, mas que aqui revela uma nova faceta e abre boas perspetivas. Vindima noturna de forma a reduzir a extração e a oxidação. Logo após o esmagamento, foi prensado e apenas vinificado o primeiro mosto, chamado lágrima.

Em seguida, a Herdade do Cebolal, ali pelos lados de Santiago do Cacém, mostra também num vinho de intervenção mínima, lote de Arinto, Boal e Fernão Pires, de 2020 (10€). Preocupados com a regeneração do eco-sistema onde se insere, apresenta cor citrina com aromas minerais e florestais e sabor fresco, notas minerais e boa acidez. Já o Vinha do Rossio 2016 (20€) é um field blend de dois hectares de vinhas velhas, estagiado em inox com borra.

Mudança radical para o projeto Dona Sancha, bem no coração do Dão, na maravilhosa zona de Silgueiros. Temos o Escolha 2019 (12/14€), Jaen, Touriga Nacional, Tintaq Roriz e Alfrocheiro, com muita fruta preta em elegância, finesse dos taninos finos e estrutura média.

Por último, destaque num lote onde vários o mereciam, o projeto Quinta dos Curvos, dos bons Vinhos Verdes, e que tem inovado com produtos como o cada vez mais popular vinho em lata. Sedeado em Forjães, Esposende, fora do circuito clássico dos Verdes, surpreende pela inovação e qualidade. Em particular, destaque para o Loureiro 2021 (5/6€), muito perfumado no nariz, muito fino, expressivo e vivo de prova de boca, não perdendo a acidez.

Foi um evento que deu direito a música ao vivo no terraço da Escola de Jazz do Barreiro num calor forte de fim de tarde e que merece seguramente continuação nos próximos anos, até porque locais onde se podem comprar e consumir bons vinhos com acompanhamento, pão, queijo (o famoso triângulo da fermentação) e enchidos, para falar dos mais simples, são poucos nos dias de hoje para toda a procura que cada vez exista para quem gosta de vinhos naturais, biodinâmicos e de pouca intervenção em geral. E vale a pena apanhar o barco na estação Sul/Sueste até ao Barreiro.

Foto de destaque de: Câmara Municipal do Barreiro

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