Até sempre, Porridge Radio.
Texto de: Catarina Ferreira; Fotos de: Emanuel Canoilas
“What the F happened to bands”, perguntou um utilizador no Reddit em 2022. E continua a sua queixa, apontando o dedo ao capitalismo cultural recente: “as editoras preferem apostar em artistas solo, porque têm menos custos.” E outro continua: “O Covid foi brutal para as bandas que vivem de concertos ao vivo.”
Os Porridge Radio, banda encabeçada pela genial-e-sempre-triste Dana Margolin, explodiram em 2020, em pleno confinamento, com o poderoso Every Bad, um disco despretensioso e cheio de hinos ao civismo, como podemos ouvir em “Lilac”: “I want us to get better / I want us to be kinder / To ourselves and to each other.”
Mas antes de assistirmos ao ponto final dos Porridge Radio, o palco da Sala 2 do Lisboa ao Vivo é preenchido por Gus Englehorn e Estée Preda. Percebemos rapidamente que a composição está a cargo de Gus, explicando entre músicas o que virá a seguir. “Esta é sobre aranhas também!”, com curiosa reacção do público aos aracnídeos. O artista do Alaska é tudo menos ortodoxo: “Um ex-snowboarder profissional renascido como um profeta nómada da psych-pop.” Cool. Foram uns bons 30 minutos de rock-falsete (pat. pending) com um som minimal de guitarra e bateria, que nos levaram momentaneamente ao deserto do Nevada, embora nunca lá tenhamos estado.
Voltando aos Porridge Radio, que já estão em palco: como é que se vê um concerto destes? Sabendo que é uma experiência em contra-relógio. A banda anunciou o ponto final em janeiro deste ano e este é o derradeiro concerto em território nacional, depois de 3 (!) concertos no mesmo ano de 2022, em Paredes de Coura, Guimarães e no extinto Super Bock em Stock.
Este setup de palco parece-nos peculiar e, confirmando em fotografias de outros dois concertos a que assistimos, é também novo. Dana toma um lugar secundário à direita. À esquerda, Georgie Stott nas teclas e Sam Yardley na bateria atrás. Por último, temos um Dan Hutchins no baixo andando livre pelo palco. Ele, que é canhoto e usa uma guitarra-baixo Rickenbacker, faz muito lembrar o Paul McCartney, se este fizesse canções urbano-depressivas. Será esta ausência de um lugar central e de ribalta o que faz com que Dana se queira afastar e terminar com a banda?
Com esta pergunta ainda na cabeça, vamos admirando algo que sempre sentimos por Dana: a emoção que transmite na voz afinadíssima, mesmo quando grita. A poesia, a pedir sessões de terapia duas vezes por semana, é cada vez mais profunda nas emoções de quem deseja afastar-se dos palcos. Faz-nos lembrar a experiência ansiolítica que Isaac Wood foi relatando ao longo dos primeiros dois discos da banda Black Country, New Road.
A setlist é semelhante ao que têm tocado nesta derradeira digressão: a quase-totalidade do LP de 2024, Clouds in the Sky They Will Always Be There for Me, e o EP de fevereiro passado, The Machine Starts to Sing.
Quando “Anybody” começou a sair da garganta de Dana, sentimos uma maior agitação do público. Sente-se ainda mais o fuzz da sua guitarra vermelha à la Karen O e as gargantas do público também aquecem. Entre as diversas baladas onde vemos muita gente no público de olhos fechados e a cantar em surdina, Dana solta finalmente o cabelo e vai em frente com o hino de prog-tristeza (pat. pending também) “In A Dream I’m A Painting”, que contém a mensagem mais positiva desta noite: “Nothing makes me sad now / Everything makes me happy”.
Depois de um curto encore, os Porridge Radio despedem-se profeticamente com “The Rip”, e não achamos mesmo que é coincidência. Os últimos versos ecoam neste Lisboa Ao Vivo que só pode aplaudir em pé e agradecer podermos ter assistido ao cometa de Dana e seus companheiros: “I threw it away”.
Até sempre, Porridge Radio.