Até para o ano!
Texto de: Diogo dos Santos e Alexandre Lopes
Sábado, dia 9 de julho, quarto e último dia do NOS Alive 2022. Novamente um calor abrasador, dia esgotado, mas desta vez por um motivo muito especial: o regresso ao ativo (?) dos Da Weasel.
Afinal de contas, e de acordo com o que disse Álvaro Covões, da Everything is New, os bilhetes para este dia começaram a ser vendidos muitos antes sequer de os Imagine Dragons terem sido anunciados. Significa, portanto, que o grande interesse do público português era ver a trupe de Carlão, Virgul e companhia – mesmo que tenham mais esperado mais dois anos do que o que estava previsto. Mas já lá vamos.
Há um problema com o NOS Alive, e que acaba por ser transversal a outros festivais, que é colocarem nomes praticamente desconhecidos do público português, ou com poucos fãs por cá, a atuar cedo no palco principal. Sim, nós percebemos que a música tem de começar assim que possível, mas acaba por não fazer qualquer sentido colocar uns Mother Mother no Palco NOS, quando tantas outras bandas e artistas mereciam muito mais esse estatuto. O mesmo aconteceu no dia anterior com Don Broco. Mas por exemplo, fez todo o sentido colocar Os Quatro e Meia no Palco NOS, assim como Mallu Magalhães.
Esta situação é comum a outros palcos, como o Palco Heineken, onde uns super desinteressantes Sea Girls, Tourjets e por aí fora atuaram no palco secundário do festival, quando a qualidade demonstrada não foi nada por aí além. Seria bem mais interessante um cartaz com menos artistas, mas que fizesse sobrar mais orçamento para contratar nomes mais chamativos, até porque, sejamos sinceros, quatro dias de NOS Alive faz com que o cartaz pareça demasiado disperso – felizmente voltaremos ao formato de três dias em 2023.
Ao entrar no recinto e ainda longe do palco, já se conseguia ler “Women In Music” numa faixa branca, pendurada ao fundo do mesmo. Quem não conhecia este trio de mulheres, recebeu uma pista bem de caras do modus operandi delas através do título da sua digressão alusiva ao álbum lançado ainda em 2020.
As irmãs Haim entraram em palco e abriram com “Now I’m In It”, faixa bónus do álbum mais recente, que foi desenvolvendo até chegar à percussão em dose tripla, e no final voaram baquetas em sinal de agradecimento pelo primeiro aplauso. Seguiu-se outra grande malha com “My Song 5”, caracterizada com momentos de guitarra espetaculares.
Seguiu-se uma breve pausa, durante a qual Alana Haim (que foi recentemente estrela do filme Licorice Pizza) aproveitou para interagir um pouco com o público. Durante essa interação, referiu que a banda já não vinha a Lisboa há algum tempo e, para demonstrar o quão felizes se sentiam por estar de volta, a música que se seguiu foi “Want You Back”, uma das músicas mais célebres do álbum Something To Tell You (2017).
Mais uma breve interrupção e foi Este Haim que falou das saudades que tinha de Lisboa, fazendo uma alusão os bons momentos que cá passa sempre que cá vem e, em tom de segredo, disse ainda que os portugueses beijam bem. Como é possível deduzir, boa disposição não faltou.
Ouvia-se um telemóvel a tocar na colunas do palco NOS e era para Este. Segundo a própria, era um tal Dominic que conheceu em Espanha, durante o festival Mad Cool, a quem esta se referiu com “Dom Juan” num trocadilho engraçado. O momento teatral seguiu com um namorisco em chamada, durante o qual Dominic, encantado com a irmã mais velha do trio, deixou fugir que queria casar com ela. Daqui surgiu um ultimato a exigir que Dominic estivesse em Lisboa até às 3 da manhã ou podia esquecê-la, numa introdução clara para a música “3 AM”. O momento teatral prosseguiu no decorrer da música, com Este na procura por um homem solteiro no público, mas calhou um casado. A interação com o público oriunda desta brincadeira, que misturou um momento musical com um teatral, foi muito natural e bem conseguida.
Seguiu-se “I’ve Been Down” e “Gasoline”, pertencentes ao mesmo álbum, e falou Danielle Haim, claramente a irmã mais introvertida e comedida das três na hora de falar, mas extrovertida atrás da bateria. Nem Henry Solomon se escapou das brincadeiras das três irmãs! O homem, que estava responsável pelo saxofone barítono, não se deixou intimidar e deu início a um solo a lançar “Summer Girl”, single de 2016, que quase deslizava tão bem como uma bebida fresca em mais um dia de calor intenso, apesar do vento. Tanto calor que, no final da música, pudemos ver Este a pedir algo para beber. Afinal de contas, somos todos humanos.
O concerto estava a chegar à fase final, mas ainda dava para mais três músicas. Primeiro “Forever”, na qual pudemos ver que o talento de Danielle vai bem para além da percussão, a conduzir a guitarra num solo delicioso que puxou das palmas sincronizadas e começou a desbloquear um público que resistia em ceder. As guitarras continuaram com “The Wire”, mas pouco duraram, visto que a música seguinte, “The Steps”, foi a escolhida para fechar um concerto extremamente agradável.
Pessoalmente, tinha uma grande curiosidade para ver as Haim ao vivo, visto que já as acompanho desde o álbum de estreia, e pelas quais sinto uma enorme admiração pela excelente consistência na produção musical, algo que se verifica em concerto. Agora também sei que a descontração e estado de espírito que aparentam ter é genuína.
Tal como referimos no início, o principal motivo para este dia ter esgotado deveu-se aos Da Weasel, banda que terminou abruptamente o seu percurso em 2010, sem nunca ter revelado aos fãs os motivos por detrás desta decisão. Um oitavo álbum de originais chegou a estar pensado, mas a banda nunca entrou em estúdio para dar seguimento a esse novo trabalho. E uma vez que, na altura, vários dos membros seguiam com outros projetos, podia ser indicativo de que nem tudo estava bem no mundo da Doninha. Mas isto são meras especulações.
Com um fim abrupto, nunca houve uma despedida à altura. Um fechar de ciclo. E, por motivos que desconhecemos, os elementos resolveram então juntar-se para um concerto único no NOS Alive 2022. E, bom, foi tudo aquilo que os fãs podiam esperar.
“Custou, mas foi, porra!”, disse Carlão, a certa altura do concerto, de sorriso rasgado na cara, ele que na altura era mais conhecido pela alcunha de Pacman. De facto, essa foi certamente a sensação dos milhares de festivaleiros que esgotaram o recinto para assistir ao concerto da banda portuguesa, um encontro adiado devido à maldita da pandemia.
Carlão, João Nobre, Pedro Quaresma, Virgul, Guilherme Silva e DJ Glue entraram em palco ao som de uma agressiva “Loja”, que abriu durante cerca de hora e meia para fazer um verdadeiro desfile de hinos que acompanharam a vida de muitos trintões e quarentões – os álbuns mais populares, Re-Definições e Amor, Escárnio e Maldizer, são de 2004 e 2007, respetivamente, portanto percebem o que estamos a dizer.
Carlão e Virgul, como que a querer enxotar qualquer rumor de mal-entendido no passado, mostraram em palco que continuam com uma boa dinâmica. E a verdade é que, apesar de uns “pregos” (erros) aqui e ali, algo perfeitamente normal, havia uma “responsabilidade acrescida”, como disse Virgul, uma vez que, no recinto, estavam os seus filhos, que os viam pela primeira vez todos juntos em palco. Algum nervosismo à mistura? Certamente que sim, mas a banda soube dar a volta com mestria.
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Muito tempo já se passou desde que os Da Weasel deram que falar, e várias das músicas e letras podem já nem fazer muito sentido atualmente, mas, este sábado, ninguém quis saber disso. Muitos dos temas do grupo da Margem Sul eram sabidos de cor e salteado, pelo que foi sem qualquer surpresa que temas como “Força (Uma Página de História)”, “Carrossel (Às Vezes Dá-me Para Isto)”, “Dialectos da Ternura”, “Casa (Vem Fazer de Conta” – Manel Cruz ia atuar essa noite, como Carlão fez questão de dizer, mas não subiu a palco nesse tema -, “Bora lá Fazer a Puta da Revolução” e “Tás na Boa”, entre outros, foram reconhecidos e cantados no imediato – sim, até por jovens que, quando os Da Weasel davam que falar, ainda não tinham nascido ou eram crianças.
Se pode, ou não, ter sido a última vez, o tal fechar de um ciclo, isso não sabemos, mas é certo que, no NOS Alive, tudo correu bem: junto dos fãs, da família, foi um concerto para mais tarde recordar e que foi capaz de esgotar o festival. Isto é obra, especialmente quando falamos de uma banda portuguesa.
Uma hora antes do início de Phoebe Bridgers e ninguém arredou pé, deixando evidente que muitos dos fãs da californiana já a esperavam há várias horas só para garantir um lugar privilegiado naquela que era a sua estreia absoluta em Portugal.
Os Da Weasel entraram em palco por volta das 21h, 50 minutos antes de Bridgers, e, apesar de ser uma banda de referência no cartaz, a verdade é que pouco ou nada dizia aos estrangeiros que marcaram presença nesta edição do NOS Alive, fazendo com que se aglomerassem no Palco Heineken, tornado a casa bem composta meia hora antes do início do concerto.
Gritava-se Phoebe em uníssono e, no momento em que artista apareceu e começou a tocar “Motion Sickness, os gritos ensurdecedores quase ultrapassavam o volume daquela que foi a sua primeira música e também umas das suas mais populares. Com o público a acompanhar a letra e a cantar de volta, deu-se início a um concerto que prometia.
Momento instrumental com “DVD Menu” a servir de catalisador de ânimos antes de avançar para “Garden Song”, mas nem por isso os fãs acalmaram. Primeira interação com a audiência com um simples “What’s up?” e parecia que a tenda ia rebentar de excitação. Seguiu-se “Kyoto” logo de seguida que serviu como combustível para deixar os fãs efusivos e aos pulos, numa música dedicada aos pais, por abordar a relação complexa que ela tem com o seu.
“Punisher”, uma das mais calmas da artista, não desencorajou ninguém a quebrar o espírito, resultando num momento belíssimo com toda a gente de braços no ar e lanternas ligadas. A artista tira o casaco e revela um top com a clássica caixa torácica do clássico esqueleto que enverga regularmente e com o qual toda a banda que a acompanhava entrou em palco.
O concerto seguia e Bridgers, que por esta altura já tinha percebido que tinha fãs em Portugal, soltou uma confissão na qual se debruçou sobre sentir-se bem estando tão longe de casa (Estados Unidos), onde tudo se está a desmoronar e a ficar uma caca.
“Chinese Satellite” foi a música que se seguiu e foi também nessa altura em que tive de sair da frontline porque, durante as músicas, quase ouvia mais as pessoas à minha volta do que a Phoebe Bridgers em si – o que embora seja irritante, é um bom sinal. Passagem por “Moon Song” e “Savior Complex”, nas quais o trompete deu um sabor especial, e, no final da segunda, Bridgers fez um reparo para o quão de loucos estava a ser a receção na sua primeira passagem por Portugal.
Durante “Scott Street”, e para o delírio dos fãs, Phoebe Bridgers desceu do palco pela primeira vez e o nível de gritaria estava ao nível do que se verifica com artistas Pop globalmente reconhecidos, tais como Beyoncé, Billie Eilish ou Taylor Swift. A certa altura, durante “ICU”, tal era o nível de excitação que Bridgers, ao perceber que algo se estava a passar na audiência, interrompeu o concerto para pedir ajuda médica para alguém que aparentava estar a sentir-se mal. Valeu-lhe um forte aplauso após momentos de silêncio absoluto.
Com um “Let’s start over”, Bridger começou “ICU” do início. Entoava-se outra vez o nome da artista e o novo single “Sidelines” começou a tocar, agora num dos raros momentos sem guitarra numa faixa emocional, com a artista a expressar mais um sincero agradecimento. Guitarra de volta e o concerto avançava para “Graceland Too”, a faixa com a sonoridade mais tradicional da artista, acompanhada de visuais alusivos à típicas vilas dos Estados Unidos, e mais uma vez, sem surpresa, coro geral.
Os aplausos ensurdecedores alongavam-se cada vez durante mais tempo entre cada música e, finalmente, a cantora cedeu e reagiu a uma cartolina onde ser podia ler “Me and my dog”, música de Boygenius, a banda que Bridgers teve com Julien Baker e Lucy Dacus – “I’m gonna do one for my boys, this is gonna be fun”. Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas que foi a receção que teve (e não esperava) que a fez mudar o alinhamento face aos concertos anteriores da Reunion Tour.
Com uma simples frase – “This has been a great first show here, thank you for the warm welcome” -, mostrou todo o seu apreço pelo universo à parte que foi o Palco Heineken durante a sua atuação. “I Know The End” arranca e rebentam os ânimos. O resto é história, ou melhor: Phoebe Bridgers fez história.
Eu que adoro Phoebe Bridgers, tendo considerado o álbum Punisher (que comprei em versão física) um dos melhores de 2020, as músicas “Kyoto” e “I Know The End” a constarem na minha seleção de 100 melhores música do ano (com a segunda em número 1) e até sei umas quatro ou cinco músicas de cor, quase me senti um “impostor”, tal era a quantidade de pessoas presentes mais fãs que eu. Fiquei espantado, mas não surpreendido, visto que Phoebe Bridgers merece tudo o que tem, pois é uma artista fora de série, muito completa. Facto curioso: Ainda só tem 27 anos e já é uma super estrela.
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Até se podia dizer que os Imagine Dragons tinham a tarefa ingrata de suceder aos Da Weasel, mas tal não se aplica quando falamos de uma das bandas mais populares da atualidade. Embora muitos os equiparem aos Nickelback – são verdadeiramente odiados por muitos, dado o “falso rock” e a incursão por baladas que se transformam em hinos de estádio -, a verdade é que o grupo de Dan Reynolds e companhia já cimentou a sua posição no mundo da música, e é por algum motivo que, hoje, também acabavam por ter o estatuto de headliners.
Na verdade, até achamos que a comparação com uns Coldplay fará mais sentido, na medida em que também os Imagine Dragons foram ficando mais mainstream após o primeiro álbum, Night Visions, mas nem por isso melhores. O que interessa, no fundo, é uma coisa: letras na ponta da língua.
Foi a terceira passagem dos Imagine Dragons pelo NOS Alive – estrearam-se no recinto em 2014, na altura no palco secundário, e repetiram depois o feito em 2017, desta vez no palco principal -, e à terceira foi de vez: com estatuto de cabeça de cartaz, deram um concerto bem melhor e muito melhor enquadrado que aquele que aconteceu há cinco anos – colocá-los antes dos Depeche Mode fez zero sentido. Este vosso escriba até chegou a presenciar um concerto que a banda deu há anos no Coliseu de Lisboa, e no qual o vocalista Dan Reynolds se fartou de desafinar. Uma memória nunca mais esquecida. Mas adiante.
Os Imagine Dragons entraram ao som de “It’s Time”, do tal álbum de estreia, e, a partir daí, foi sucesso atrás de sucesso: “Thunder”, “Follow You”, “Lonely”, “Whatever It Takes”, “It’s Ok”, “Birds”… Lá está, os tais hinos de estádio que falávamos. E, se antes do encore, o concerto “fechava” com a popularíssima “Demons” – e pelo tínhamos “Enemy”, feito para a série Arcane, da Netflix, – o final a sério tinha ficado guardado para – sim, adivinharam – “Radioactive”, que começou ao piano e rapidamente se transformou na versão que todos conhecemos.
“Nunca peçam desculpa por serem quem são”, disse Dan Reynolds a determinada altura do concerto, e os seus fãs perceberam que, ali, têm alguém cujo discurso é pautado pela positividade – um pouco à semelhança de Florence Welch, que tenta sempre puxar o melhor de nós. Se são uma das bandas mais indicadas para um festival como o NOS Alive? Dúvidas dissipadas se ainda existissem.
Só tenho uma coisa a dizer para os Parcels: Grandes demais para o palco a que foram destinados. Os Parcels tiveram casa cheia para os receber no Palco Heineken e desenganem-se que não era acaso por coincidir com o final do concerto dos Imagine Dragons. A casa estava cheia, mas era por mérito próprio, visto que quem lá estava sabia para o que estava a ir.
Os fãs presentes faziam-se ouvir bem alto, não só na hora de entoar as letras, mas também trauteando os sons das músicas. Acontecimento que se proliferava da frontline ao fundo da tenda que cobria o Palco Heineken (e até fora dela, por falta de mais espaço). Viam-se pessoas a bater palmas e a abanar os braços bem alto ao som da música, viam-se pessoas a dançar e aos pulos, viam-se pessoas encavalitadas nos ombros umas das outras, sendo que pode ver-se um triplo “encavalitamento”, algo inédito digno que uma prova de ginástica acrobática. Valia tudo!
A banda australiana de electropop abriu com um estoiro e fechou com uma bomba atómica. Durante a atuação puderam-se ouvir hits como “Lightenup”, “Comingback” ou “Somethinggreater” do álbum mais recente da banda, Day/Night (2021), entre outros mais antigos, entre os quais “Iknowhowifeel” e “Tieduprightnow” – grande responsável por este concerto parecer uma autêntica celebração. E apesar de soarem como se de um dj set se tratasse, não o é. É tudo qualidade instrumental da banda, que durante a atuação de ontem esteve irrepreensível.
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Alguém falhou o sound check durante o dia, porque já passavam mais de 15 minutos da hora estipulada quando os Two Door Cinema Club subiram a palco. Isto já depois de muitos “1, 2”, e uso momentâneo de instrumentos, de forma aleatória e desconfortável para quem aguentava até mais tarde para os ver.
O atraso, que impediu a banda irlandesa de subir a palco na hora estipulada, foi só o início de uma choque em cadeia, sem fim à vista. O arranque com “I Can’t Talk” foi um desastre absoluto com inúmeros cortes no som que se sucederam ao longo do primeiro minuto da música, ora nos instrumentos, ora na voz, ora em ambos. Não ficou claro se a banda percebeu, pois não parou de tocar/cantar e entregou mais do que se podia pedir, do início ao fim da música. Ainda assim, a abertura era suposta ser épica, mas no meio dos cortes de som, foi possível ouvir o descontentamento da audiência.
Seguiu-se a elétrica “Undercover Martyn”, a compensar a falha com a qual a banda não teve nada a ver, e as vaias iniciais rapidamente se transformaram em aplausos, ainda que a música não tenha sido exatamente igual à versão original. “Are We Ready?” veio ajudar à festa, mas ainda se notavam desajustes no balanceamento instrumental.
Desbalanceamento que continuou em “This Is The Life”, tanto que a música soou muito desfigurada em relação ao que é habitual. Em certas partes, se Alex Trimble não estivesse a cantar, não seria fácil a perceção de que música se tratava. Após um clássico veio sangue novo, com a apresentação ao vivo do mais recente single da banda, “Wonderful Life”, que deixa um bom presságio para o que virá a seguir. No entanto, para quem não sabia da existência desta música, duvido que tenha ficado rendido, pois soou muito diferente do que soa a versão gravada em estúdio.
“Something Good Can Work” foi adiantada, tendo em conta concertos anteriores da banda, talvez para tentar prender o público intercalando músicas mais recentes com os hits mais fortes da banda, provenientes quase todos do álbum de estreia Tourist History (2010).
“Bad Decisions” ao lado. Chegando a “Lavender”, começava a ser altura de interiorizar que este concerto era, na verdade, um remix barato para não me ir embora mais cedo, altura em que muita gente começou a abandonar o palco principal que já nem a meio gás estava.
Fui aceitando o desbalanceamento de instrumentos, mas “Changing of Seasons” foi o prego no caixão. Os sintetizadores, que fazem grande parte do trabalho que acrescenta valor à música, simplesmente não se ouviam. Então a guitarra, completamente abafada pela bateria, numa versão completamente deslavada de uma música fantástica. Por esta altura, desisti de estar tão perto do palco (onde o ambiente não estava sequer quente) e fui para mais longe, onde ouvi “Sun” e “What You Know” na despedida, que teve um início tão aparatoso com a banda completamente descompensada, sendo quase uma desgraça maior que I Can’t Talk na abertura.
Ainda que os Two Door Cinema Club já estejam longe do seu auge, que começou a desvanecer com Gameshow (2016), creio que a culpa de um concerto tão confuso não tenha sido deles, mas se era para isto, estavam melhores no Palco Heineken e Parcels no palco principal, pois o que deve ser privilegiado é o espetáculo e, infelizmente, isto não foi isso.
Pessoalmente, preferia não ter ouvido e ter preservado a memória que tinha da atuação dos Two Door Cinema Club, no NOS Alive, em 2018. E eu, que adoro a banda, não consigo ser parcial ao ponto de dizer que o que se passou ontem foi sequer bom.
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Foto: Carlos Mendes
Instrumentos em cima do palco e uma audiência composta já aguardava por Caribou. O artista canadiano foi o último a ser chamado a picar ponto e, assim, fechar esta edição do NOS Alive e trouxe companhia. Fazendo uma retrospetiva do que se passou nesse mesmo palco horas antes, com Phoebe Bridgers e Parcels, podia-se dizer que bater o ambiente criado por ambos ia ser uma missão hercúlea, mas o serviço foi muito bem executado.
“New Jade” começou de suave, mas o tempo para comer sono acabou rápido com “Odessa” e “Our Love” a rasgar logo a seguir com uma performance instrumental fabulosa contagiando uma parte considerável do público que começava a entrar no esquema. Tocaram ainda “Bowls” e “Sun” antes de voltarmos a um esquema mais comercial, e no palco Heineken estava montada uma autêntica pista de dança com um trabalho de luzes e imagem delicioso.
Um corte momentâneo no ritmo disco com a versão original de “Home”, talvez a música mais longe do habitual do artista. Notou-se o contraste e a tenda acalmou um bocado. Sol de pouca dura, porque “You Can Do It”, o single mais recente de Caribou, estava ali ao virar da esquina e viam-se grupos de pessoas a dançarem juntas e a gravarem inconscientemente memórias que um dia vai ser bonito recordar, mas o melhor ainda estava para vir…
Dupla de luxo guardada para o fim. Primeiro “Never Come Back”, puxada ao limite absoluto que viu uma reação fenomenal por parte do público. Planeado ou não, a faixa acabou por se alongar mais minutos do que estava a contar, tendo Caribou incluido nuances das remisturas de Koreless e de Four Tet e aplicado na faixa original. Se mais remisturas desta faixa existissem, sinto que a malta ia dançar até à exaustão.
Para terminal em grande, estava guardada na manga a lendária “Can’t Do Without You”, que é a maior música de Caribou e uma das músicas mais célebres e deslumbrantes do universo da cena electrónica, ilustrando bem a influência que este género pode ter nas pessoas que se deixa levar por ele. Graças a esta performance sensacional de Caribou, o concerto anterior ficou esquecido e esta edição do NOS Alive terminou com a cereja no topo do bolo, tendo o último aplauso sendo tão ruidoso como os que se ouviram nesse palco ao longo do dia.
Phoebe Bridgers, Parcels e Caribou fizeram deste dia de festival o melhor que me lembro em palcos secundários e não tenho dúvidas absolutamente nenhumas que tinham qualidade para palco principal.
Esquecendo um pouco o comentário inicial, deixo os meus parabéns à organização do NOS Alive por nesta edição ter apostado em ótimos artistas com excelentes novos álbuns. Sem mais a acrescentar, até para o ano!
Avaliação a Parcels: 100% correta.
“Grandes demais para o palco a que foram destinados”.
Estes senhores deram (na minha opinião), o melhor concerto do dia!
Com a qualidade instrumental que lhes é característica, seria uma “festança” !!
Cenas para outras núpcias!!